Os irmãos Marinhos reagiram de uma forma acovardada
Carlos Newton
O Brasil foi surpreendido com a denúncia publicada sexta-feira pelo site da revista Veja, relatando que os empresários Roberto Irineu Marinho e João Roberto Marinho, filhos mais velhos e herdeiros das Organizações Globo, teriam usado de forma habitual os serviços do “doleiro dos doleiros”, Dario Messer, que está hoje em prisão domiciliar.
Em síntese, na delação premiada, Messer contou à força-tarefa que teria, seguidamente, repassado centenas de milhares de dólares em espécie para os controladores de um dos maiores grupos de comunicação do mundo.
ALGUMAS OBSERVAÇÕES – Além de significar graves crimes supostamente cometidos pelos mais importantes empresários do estratégico setor de comunicação, o fato é inédito e escandaloso por vários motivos:
1 – ao divulgar a informação (vazada e não documentada) pelo delator, não teria a revista se precipitado, ao desacreditar os herdeiros de Roberto Marinho, cujo império fatura mais de R$15 bilhões por ano somente na Rede Globo?
2 – em nome da liberdade de imprensa e considerando a importância e a gravidade da denúncia, tal matéria não mereceria melhor aproveitamento, sair como capa da revista e não apenas no site, onde a repercussão é menor?
3 – por que os diretores da Veja procuraram diminuir a relevância da denúncia, considerando que, diariamente, a Rede Globo, com base em informações privilegiadas e vazadas, não pensa duas vezes ao dar manchetes e longas reportagens envolvendo políticos, empresários e personalidades que acabam tendo suas honorabilidades destroçadas para sempre, mesmo que depois, no julgamento, venham a se tornar réus e serem inocentados?
RESPOSTA NO JN – Por muito menos, nos acostumamos a ver o Jornal Nacional divulgar longos editoriais, defendendo a empresa e seus dirigentes. Desta vez, porém. o apresentador William Bonner limitou-se a ler uma pequena nota na parte final do JN.
Na pequena mensagem, os dois acusados desmentiram o site da revista e afirmaram que nunca fizeram negócios com o criminoso Dario Messer, pois “não têm nem nunca tiveram contas não declaradas às autoridades brasileiras no exterior. Da mesma maneira, nunca realizaram operações de câmbio não declaradas às autoridades”.
Segundo a denúncia do doleiro, não eram eles que recebiam os dólares. Os pacotes de moeda estrangeira eram entregues ao assessor financeiro José Aleixo, apontado por Dario Messer como “intermediário” da Globo.
ALTO FUNCIONÁRIO – Sabe-se que Aleixo era um funcionário de destaque que trabalhou por décadas na emissora. Desde a década de 60, quando Roberto Marinho criou a TV Globo, Aleixo era auditor da consultoria internacional Ernst & Young, mas já prestava serviços ao grupo Globo Em 1978, foi contratado pela TV Globo e, nos anos 90, tornou-se assessor financeiro de Roberto Marinho.
O fato de o doleiro ter apontado o nome de José Aleixo é gravíssimo, por se tratar de um importante assessor da presidência do grupo empresarial. Além disso, Messer acrescentou que seu pagamento era feito em conta no exterior, o que indica lavagem de dinheiro e é facilmente comprovável, basta revelar o número da conta e o extrato.
RESPOSTA TÍMIDA – Diante dessa situação, pode-se afirmar que a resposta e a explicação dos filhos de Roberto Marinho foram muito tímidas. Se nada fizeram, deveriam imediatamente fazer uso do inciso X, artigo 5º da Constituição Federal: “São invioláveis a intimidade, a vida privada, a honra e a imagem das pessoas, assegurando o direito à indenização pelo dano material ou moral decorrente de sua violação”.
Ademais, quem cala frente a tamanhas acusações, não estará consentindo, se acovardando? Não me conformo com o que li nem com o acuamento dos poderosos controladores do grupo Globo. Se estivesse vivo e vítima de denunciação caluniosa, envolvendo seu principal assessor financeiro, Roberto Marinho teria derrubado o mundo.
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