22/03/2013
Isabela Marinho
Do G1 Rio
PM cerca museu ocupado por mais de 50 índios, no Maracanã, Rio de Janeiro (Foto: Pilar Olivares/Reuters)
Aumentou para cinco o número de manifestantes detidos na tentativa de desocupação do antigo Museu do Índio, no Maracanã, na Zona Norte do Rio de Janeiro, nesta sexta-feira (22). Durante a madrugada, três manifestantes, todos estudantes, tinham sido detidos. Por volta das 09:30 h, o clima ficou tenso novamente e duas pessoas acabaram levadas pelos policiais.
O advogado Arão da Providência, que diz ser irmão de um dos índios que vive no prédio, pulou o muro para falar com os indígenas. Ele foi repreendido por policiais militares do Batalhão de Choque, contido com uso de força e levado para o camburão. A manifestante Mônica Bello também foi detida após discutir com os PMs.
A polícia usou spray de pimenta e gás lacrimogênio para conter o tumulto. O prédio, que dará lugar ao Museu Olímpico, foi cercado durante a madrugada por mais de 50 PMs, com motos e carros. Um helicóptero da PM sobrevoa a área.
Nesse momento, a negociação com os índios foi retomada. De acordo com o representante do movimento, Afonso Apurinã, dez pessoas saíram do local e aceitaram o acordo proposto pelo governo. No entanto, segundo o líder, 50 indígenas ainda resistem em deixar o imóvel.
Às 10h25, o Batalhão de Choque desfez o cerco ao antigo museu. Os policiais entraram nos carros, que estão estacionados em frente ao imóvel, e aguardam a saída dos índios.
Entenda o caso
A polêmica sobre o destino do espaço começou em outubro de 2012, quando o governo do estado anunciou mudanças no entorno do Maracanã, para que o estádio pudesse receber a Copa das Confederações, em 2013, a Copa do Mundo, em 2014, e a Olimpíada, em 2016.
Pelo projeto da Casa Civil, o Maracanã seria transferido para a iniciativa privada, que deveria construir um estacionamento, um centro comercial e áreas para saída do público. Para isso, alguns prédios ao redor do estádio deveriam ser demolidos, entre eles o casarão do antigo Museu do Índio, que funcionou no local de 1910 até 1978.
O edifício com área de cerca de 1600 m² está desativado há 34 anos. O grupo de indígenas que ocupa o prédio – e deu ao museu o nome de Aldeia Maracanã – está no local desde 2006.
Esse ano, no entanto, a 8ª Vara Federal Cível do Rio de Janeiro concedeu imissão de posse em favor do governo estadual. Os índios foram notificados em 15 de março.
Moradia provisória
A Secretaria de Assistência Social e Direitos Humanos ofereceu ao grupo opções de moradia provisória até que o Centro de Referência Indígena seja construído, na Quinta da Boa Vista, também na Zona Norte. O secretário Zaqueu Teixeira deu prazo de um ano e meio para a construção do Centro de Referência Indígena.
Um dos abrigos provisórios é o Hotel Santanna, no Centro da cidade, onde indígenas teriam alimentação e um andar exclusivo, segundo o governo. Para os que não quiserem ficar local, outras três áreas foram sugeridas: um terreno em Jacarepaguá, próximo ao Hotel Curupati; o abrigo Cristo Redentor; e um espaço ao lado do barracão da Odebretch, na Rua Visconde de Niterói.
"Oferecemos tudo para que fosse resolvido: transporte, alimentação, hospedagem para que fosse resolvida e não tem mais o que ofertar. É a última proposta do governo. Se eles não cumprirem, a Justiça vai obrigá-los a sair. Minha parte, que é ofertar, já está feita. Aí é com a Justiça o tempo para retirá-los", disse o secretário na quinta-feira (21).
O defensor público federal Daniel Macedo, que ontem negociou com o grupo essa proposta, disse que os indígenas estavam "resolutos em aceitá-las" e que alguns estão dispostos a lutar com a própria vida. "Se falecer um índio aqui, vai repercutir mal internacionalmente e internamente", afirmou.
"A gente até agora não assinou nenhum documento, não há local definido pra nova Aldeia Maracanã. O prédio que cederam, não fomos ver, mas sabemos que não é adequado. Por isso vamos manter a resistência pacificamente neste local", disse na quinta Afonso Apurinã, presidente da Associação dos Índios da Aldeia Maracanã.
Trânsito complicado
A Radial Oeste, uma das principais vias da Zona Norte do Rio, foi fechada por volta das 6h30 para a desocupação. Dez minutos depois, a via foi reaberta, mas o trânsito continuou muito complicado, principalmente no sentido Centro.
De acordo com o Centro de Operações da Prefeitura do Rio de Janeiro, a melhor opção para os motoristas é a Avenida Visconde de Niterói.