sexta-feira, 22 de março de 2013 | 05:02
Carlos Chagas
Perde-se nas brumas da História a prática de se enganar o semelhante, mas quase sempre o enganado é conivente com a enganação, imaginando-se enganador. Estão todo dia nos jornais episódios como o do cidadão que mostrou a outro um falso bilhete premiado da loteria, mas precisando correr ao aeroporto para pegar um avião, aceita vender a fortuna pela metade, na hora. Quem compra não é apenas otário, porque tem sua parcela de malandragem ao aceitar a operação, há décadas chamada de “conto do vigário”.
Com todo o respeito, certos partidos políticos estão conseguindo chantagear a presidente Dilma, que parece haver caído na armadilha. Semana passada foi o PDT, agora é a vez do PR e do PTB. Sob a ameaça de bandear-se para a candidatura de Eduardo Campos, Carlos Lupi conseguiu ocupar com um subordinado o ministério do Trabalho. Vendeu no palácio do Planalto o bilhete de loteria do apoio à reeleição, como se estivesse premiado.
Na fila para apresentar a mesma vigarice estão o presidente do PR, Alfredo Nascimento, desde que receba o ministério dos Transportes ou outro de igual importância, e o presidente do PTB, Benito Gama, na base do “qualquer ministério serve”.
Imaginando reforçar sua candidatura, que aliás não precisa de reforço, conforme o Ibope, Dilma mostra-se disposta a aceitar a chantagem. Acresce, no caso de Nascimento e de Gama, que ambos apenas acenam com o bilhete. Na verdade, quem preparou a trama foram os verdadeiros donos do PR e do PTB, Valdemar da Costa Neto e Roberto Jefferson, por coincidência em vias de começarem a dormir na cadeia, condenados pelo Supremo Tribunal Federal no processo do mensalão.
Será que a presidente Dilma supõe-se assim tão esperta a ponto de lotear o ministério em troca do apoio desses partidos à conquista do segundo mandato? Quem garante que no próximo ano, mesmo de dentro da penitenciária, os dois chefões não mandem vender um novo bilhete de loteria para Eduardo Campos? Ou para Aécio Neves?
DEDO DO LULA
Tem-se a impressão de que o loteamento do ministério não seria prioridade da presidente Dilma, não fosse a influência do ex-presidente Lula. Em especial no seu segundo mandato, ele privilegiou partidos aliados com vagas em sua equipe, sem maiores critérios de qualidade. Dilma estava decidida a não promover senão mudanças pontuais, daquelas ditadas pelas circunstâncias. Apenas em abril de 2004 substituiria o monte de ministros que serão candidatos ao Congresso e aos governos estaduais.
É claro que o súbito aparecimento de Eduardo Campos na disputa presidencial terá interferido nos planos da presidente, mas maior e mais forte sugestão partiu mesmo de seu antecessor.
Indaga-se qual a participação do PT nessa mini-reforma ministerial em andamento e a resposta surge óbvia: nenhuma. Nem o companheiro-presidente, Rui Falcão, foi convidado a opinar, nem mesmo os ministros petistas deram palpite. Como ainda falta contemplar o PSD do ex-prefeito Kassab, pode ser que da direção petista venham a emergir alguns amuos. Afinal, em São Paulo, o novo partido posiciona-se contra o PT, de olho nas eleições de governador.
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