LUCIENE CÂMARA
FOTO: PAULA HUVEN
Lotada. Equipe de reportagem esteve na UPA do Barreiro, onde constatou recepção cheia e até a calçada com paciente esperando atendimento
Em uma única rua de dois quarteirões do Conjunto Água Branca, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte, pelo menos 20 moradores estão com dengue ou com suspeita da doença. Na Unidade de Pronto-Atendimento (UPA) do Barreiro, na capital, outras 155 pessoas procuraram o local, só até as 17h de ontem, com sintomas característicos da enfermidade. Os números mostram que o problema fugiu ao controle em todo o Estado e ganha proporções de epidemia, na visão de especialistas.
Só na capital, já foram confirmados 4.215 casos de dengue, sendo que, em todo o ano passado, foram 585 registros, um aumento de 620%, de acordo com o último balanço da Secretaria Municipal de Saúde (SMSA). A situação não é diferente em Minas, onde 93.184 pessoas já foram notificadas com a doença, segundo relatório da semana passada, o que representa quase o dobro do total de 2012 - 46.681. A quantidade de mortes também é crescente: foram 23 de janeiro até o último dia 14, contra 18 óbitos nos 12 meses do ano passado.
Para o membro da diretoria da Sociedade Mineira de Infectologia Estevão Urbano, os números sinalizam um estado de descontrole da dengue no Estado. "Tudo leva a crer que estamos diante de uma epidemia, cabendo ao poder público confirmar", disse Urbano. Ele atribui o problema a vários fatores, como a ineficiência da prevenção e a negligência da população. "Os dados mostram que as pessoas continuam armazenando água em casa".
Outro grande vilão apontado pelas autoridades de saúde municipal e estadual é a entrada da dengue tipo 4 no Estado. O vírus não aparecia há 30 anos em Minas, o que torna a população mais suscetível à doença por falta de imunidade. Levantamento da SMSA identificou a presença predominante da dengue 4 em 60% dos casos analisados.
"Três fatores têm levado à maior possibilidade de transmissão: o novo vírus que está circulando, a presença do mosquito nas residências e a população que está mais suscetível", avaliou a infectologista e professora da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) Marise Fonseca. Já o secretário municipal adjunto de Saúde da capital, Fabiano Pimenta Júnior, prefere não falar em epidemia. "Estamos vivendo um estado de alerta, e a nossa preocupação maior é garantir o acesso aos serviços de saúde", disse.
CONTAGEM
Vizinhança está assustada com excesso de casos
"Primeiro, foram meus dois filhos que pegaram dengue. Depois, meu marido, e, agora, eu", disse a dona de casa Marlene Maria de Jesus de Souza, 59, moradora do bairro Conjunto Água Branca, em Contagem, na região metropolitana. Pelo menos 20 pessoas que moram na mesma rua tiveram a doença neste ano.
Um exemplo é a aposentada Lucia dos Santos Silva, 68, que ainda se recupera da dengue. Ela chegou a urinar sangue e teme desenvolver um quadro mais grave. "A gente fica com medo da forma hemorrágica", disse.
Na mesma rua, o representante comercial Temístocle Mendonça Neto, 60, e a esposa Katya Furtado de Mendonça, 59, também estão com sintomas da dengue. Mendonça contou que só ontem recebeu a visita de agentes de saúde em sua casa, o que não ocorria desde setembro. "Nunca vi a dengue atingir tanta gente", disse.
Ação. Em Uberaba, no Triângulo, a prefeitura recebeu ontem mais três denúncias de bota-fora irregular. As pessoas podem ganhar R$ 500 de recompensa por colaborarem no combate à dengue. (LC)
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