04/12/2012
O Jornal Tribuna de Minas em matéria publicada nesta terça-feira(4), da lavra da repórter Renata Brum que contou com as colaborações de Daniela Arbex e Marcos Araújo descreve a escalada da violência infanto/juvenil em Juiz de Fora.
Creio que a globalização e a mídia reverenciando, promovendo e apresentando as diversas marcas de produtos,incentivando o consumo de vestuários, meios de transportes, equipamentos eletro- eletrônicos, artigos dos mais variados que para a aquisição imediata, devido aos valores que extrapolam os orçamentos domésticos de muitas famílias já propiciam um ambiente desfavorável no contexto financeiro - social.
Aliados ao escasso poder de preservação e manutenção da ordem pública pelo estado com as reduções de efetivos; a carência afetiva familiar como bem descrito na reportagem, podemos acrescentar e sem sombras de dúvidas que o impedimento legal ao trabalho, a ausência religiosa e a falta de locais para o lazer contribuem de maneira ímpar para a evolução dos atos infracionais.
Assim entendo...
Vejamos :
04 de Dezembro de 2012 - 07:00
Em uma década, confrontos juvenis nos quais eram usados paus e pedras, foram substituídos por crimes com tiros
Por Renata Brum (colaboraram Daniela Arbex e Marcos Araújo)
Omissão e esquecimento social
Wedencley Alves, professor da Faculdade de Comunicação da UFJF e integrante do Instituto de Medicina Social da UERJ, voltado para projetos sobre juventude e violência, comenta a evolução dos casos ao longo da última década. Para ele, a situação é fruto da inoperância dos governos diante das demandas, das carências e da falta de perspectiva social de parcelas significativas da sociedade. "A cultura da violência é motivada por três formas de omissão: omissão diante da violência das forças do Estado contra populações marginalizadas, omissão diante da violência que representa a exclusão e o esquecimento social e omissão da violência entre os grupos em confronto com a lei." O coordenador do grupo de pesquisas Comunicação e Discursos: Saúde, Sensibilidades e Violências vai além. "Por ser um fenômeno que exige uma abordagem complexa e global, é evidente que as formas parciais de ação, que visam apenas um ou outro dos aspectos, não são eficientes para desmontar esta 'cultura'. Se as medidas de segurança vierem acompanhadas dos excessos que conhecemos, e se não houver ações de resgate da cidadania, elas serão mais um dispositivo a naturalizar a violência entre nós. A adesão de jovens das comunidades em estado de precariedade social a atos de violência ocorre nesse cenário."
Para a diretora do Centro Internacional de Estudos e Pesquisas sobre a Infância da PUC-Rio, a professora Irene Rizzini, é preciso que as políticas públicas repensem a sua atuação diante de uma realidade na qual os jovens são estimulados a perpetuar a violência. "Nós não podemos simplificar o que é complexo em todo o planeta. Pensar na trajetória desses jovens que hoje estão em conflito com a lei é pensar em todos os aspectos da vida que eles estão vivendo, pensar que eles precisam de programas sociais bem cuidados para ajudá-los a sair dessa situação. Simultaneamente a essas ações, precisamos atender aqueles em situações muito vulneráveis e que encontram a porta escancarada para a rua, facilitando seu aliciamento."
Outro problema enfrentado por esse grupo é o estímulo ao consumo, levando estes meninos e suas famílias a realizarem esforços equivocados. "As famílias dos trabalhadores lutam contra coisas muito poderosas, como o consumo e a desvalorização do esforço e do trabalho. Muitas delas realizam esforços equivocados para adquirir coisas de marca, porque pensam, equivocadamente, que vestir um tênis caro os tornará melhores ou iguais aos outros meninos", afirma a Doutora em psicologia social, Maria Aparecida Cassab.
Irene Rizzini faz coro. "A influência dos meios de comunicação sobre a infância e juventude é um problema mundial. Muitas mães, como aquela mostrada na matéria de domingo da Tribuna, gastam o que não podem para dar o que o filho quer na intenção de protegê-lo, acreditando que, desta forma, eles não precisarão roubar ou entrar para o tráfico na sua comunidade. O fato é que esses meninos sofrem uma pressão imensa de estarem bem vestidos para serem aceitos e até mesmo para não serem constantemente parados pela polícia. Quem é pobre, negro e luta para ser aceito não tem como dizer não ao consumismo ou virar as costas para isso, dizendo que está tudo bem, porque não está."
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/acesso-a-armas-acirra-violencia-1.1196917
http://www.tribunademinas.com.br/cidade/acesso-a-armas-acirra-violencia-1.1196917