RENATO VIEIRA
Especial para O Tempo
FOTO: SANDRO CAMPARDO / AP
Milton. Box traz as três canções que revelaram Milton Nascimento
Os festivais de música feitos no Brasil entre os anos 1960 e 1970 revelaram talentos e deixaram clássicos para a posteridade. Um recorte desse período está nos boxes "Festivais da Canção".
Em dois volumes, totalizando 14 CDs, estão álbuns que documentam cada uma das sete edições do Festival Internacional da Canção (FIC), promovido pela Secretaria de Turismo do RJ, veiculado inicialmente pela extinta TV Rio e depois por uma TV Globo em ascensão.
Dois CDs lançados originalmente em vinil abarcam a primeira edição, de 1966. O áudio foi captado diretamente da apresentação no Maracanãzinho, palco do festival. Participaram cantores já consagrados à época, como Miltinho e Claudette Soares, e artistas que começavam a ganhar projeção, MPB4 e Nana Caymmi, entre eles.
No ano seguinte, um rapaz que vinha de Minas foi o grande destaque, concorrendo com três músicas: "Maria, Minha Fé", interpretada por Agostinho do Santos, "Morro Velho" e "Travessia", ambas na voz dele próprio: Milton Nascimento.
O álbum referente a 1967 também traz excertos das apresentações perante júri e público, que aplaudiu efusivamente o cantor e compositor.
Já no "ano que não terminou", 1968, havia um clima de beligerância no ar.
A ditadura militar começava a esboçar o AI-5 e a classe artística sentia a necessidade de contra-atacar.
Quatro CDs do primeiro box abrangem essa terceira edição do FIC.
Os nomes de algumas músicas já denunciam a defensiva: "Canto do Amor Armado" (Sérgio Ricardo), "Guerra de Um Poeta" (Beth Carvalho e Paulinho Tapajós) e "Herói de Guerra" (Adylson Godoy).
Havia também "Pra Não Dizer que Não Falei Das Flores (Caminhando)", de Geraldo Vandré, vencida sob vaias do público por "Sabiá" (Tom Jobim e Chico Buarque).
O segundo box é o que desperta mais curiosidade.
Os CDs estão recheados de faixas-bônus e dois deles trazem exclusivamente gravações inéditas das apresentações do FIC de 1969.
A que mais chama atenção é "Acalanto Para Isabela", de Alceu Valença, ainda um desconhecido. A música nunca foi registrada em disco.
Na edição seguinte, Toni Tornado chamou atenção com sua cabeleira black power e sua potência vocal com "BR-3", concorrendo com Taiguara e Clara Nunes, entre outros.
A partir de 1971, o nível cai. Compositores decidiram retirar suas músicas da competição em protesto contra a ditadura e a solução preencher a lacuna com o que viesse. Entre elas havia "Casa no Campo", interpretada por um de seus autores, Zé Rodrix, e posteriormente gravada por Elis Regina, que estava no corpo de jurados.
A derradeira edição do FIC, em 1972, revelou nomes como Raul Seixas e Sérgio Sampaio - por questões contratuais, suas músicas são interpretadas por outros artistas no CD referente a esta edição - e alçou Maria Alcina, que cantou "Fio Maravilha", à condição de estrela.
Marilton Borges, o irmão mais velho de Lô, aparece em uma faixa-bônus, cantando "Quatro Graus", composta pelo então iniciante Raimundo Fagner. A era dos grandes festivais acabou aí. Mas as grandes canções produzidas naquele período permanecem na memória afetiva nacional.
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