Dica: sobre políticos na capa do jornal
Na faculdade de Jornalismo, a gente aprende que o jornal deve ser imparcial, apolítico, e coisa e tal. E de fato, sempre que possível, é preciso manter distância de paixões e ideologias na hora de escrever. Mas, ninguém aqui é criança e vamos falar de uma coisa que existe: jornal com financiamento de políticos. Algo muito mais visível no caso da pequena imprensa das cidades do interior, mas que pode ocorrer em qualquer nível.
UM AVISO AOS INGÊNUOS
Só porque eu escrevo sobre alguma coisa, não quer dizer que eu a apoie ou ache que ela é o ideal. À medida que se fica adulto, passa-se a admitir que algumas coisas existem, e pronto, a gente gostando ou não. E às vezes a gente até acaba participando delas, por necessidade. Então, não me venham com discurso moralista do tipo "ah, é uma apologia ao mau jornalismo". Não é apologia. É só uma lição sobre um jeito de trabalhar que existe e que está por aí, gostemos ou não. Ponto.
O QUE INTERESSA
Você está ali, fazendo o seu jornalzinho tendencioso, bem alegre e sorridente. Aqueles políticos cheios da grana estão financiando boa parte ou todos os custos operacionais do jornal, de modo que a conta da gráfica está em dia, e a vida parece promissora e cor-de-rosa. Daí, você para e pensa: como melhor promover estes meus financiadores generosos?
Sim, porque se estão bancando o jornal ou ao menos botando uma grana preta nele, é óbvio que precisamos divulgá-los!
O impulso publicitário/bajulatório natural de qualquer um nesta situação, seria dar CAPA para o benemérito da ocasião. O diretor do jornal pensa "ah, o cara vai ficar com a cara dele igual a um pôster pendurado na banca!". Ledo engano.
O jornal que tem político na capa... é uma droga. Sério. Se o pagante for sempre o mesmo, tanto pior: o jornal logo ganhará a alcunha de "panfleto do Fulano". Uma porcaria. Vocês, diretores de jornais assim, já devem ter notado que os exemplares "encalham" nos pontos de distribuição. E a razão é essa aí: o político na capa!
Jornal com político na capa não presta. Porque ninguém pega ele para ler. Se for um jornal vendido nas bancas, tanto pior. Não vai vender nada. Os exemplares deixados em institutos de cabeleireiro e salas de espera vão mofar, porque as pessoas não terão interesse em abri-los.
Para quem está fazendo o jornal, é frustrante. Para quem está financiando ele, é desperdício de dinheiro.
NUNCA ESQUEÇA O BÁSICO
Lá na faculdade de Jornalismo da PUC, aprendemos (não lembro com qual professor), que a capa não deve ser encarada apenas como mais uma página do jornal. Ela tem muito mais a ver com publicidade do que com jornalismo. É ela que "chama" o leitor. É ela que "vende" o jornal.
Então, obviamente, na capa, coloque uma manchete chamativa. Algo que faça as pessoas quererem abrir o jornal para olhar o que tem dentro. O assunto da manchete vai depender do tipo de jornal e do público-alvo no qual estamos mirando (eu falo disso em outra ocasião). O importante é que faça os leitores quererem ler o jornal.
"Mas o patrocinador não vai ficar irritado?", perguntarão alguns. E eu digo uma coisa bem certa: senhor patrocinador, o que o senhor acha melhor? Temos duas opções:
A – O jornal sai com a cara do político na capa. Dos 10 mil exemplares impressos, apenas uns 5 mil saem das bancas. Como a capa é desinteressante, eles são lidos por no máximo umas 15 mil pessoas e depois postos no lixo.
B – O jornal não mostra o pagante na capa. Mas tem uma matéria dele, lá dentro. Os 10 mil exemplares impressos vendem feito água no deserto, e são lidos por 40 mil pessoas.
E aí? É melhor ser visto na capa por menos gente, ou nas páginas internas por muito mais gente? Qualquer pessoa sensata sabe que a segunda opção é a melhor, sob qualquer ponto de vista.
Sério, gente. Quem ainda acha que colocar político sorrindo na capa não espanta leitores? Fica a dica, para diretores de jornais e políticos refletirem na hora de criar seus pasquins tendenciosos Brasil a fora.