10 de Agosto de 2013 - Juiz de Fora
Por Renata Brum
Especializada no combate à criminalidade violenta, a Ronda Tática Metropolitana (Rotam) sofre hoje com sucateamento das viaturas. O grupo foi criado no início da década de 1980, quando a população da cidade não passava de 310 mil pessoas, e contava com quatro viaturas. Trinta e dois anos depois, o número de veículos praticamente não mudou, enquanto hoje a população do município está próxima dos 520 mil habitantes. Denúncias apontam ainda que, nas últimas semanas, nem as quatro existentes estavam em circulação. O comando da 3ª Companhia de Missões Especiais (CME) não informa quantos carros estariam nas ruas, mas confirma que, com uma média de cinco a seis anos de uso, a frota sofre baixas frequentes devido aos consertos mecânicos. Na última terça-feira, a Tribuna esteve na sede do 2º Batalhão da Polícia Militar (BPM), em Santa Terezinha, onde fica a oficina e encontrou o pátio sobrecarregado de viaturas do tipo Blazer, usadas pela Rotam. O problema também atinge o Tático Móvel. Na quinta-feira da última semana, militares do grupo de elite da 269ª Companhia do 27º BPM rodavam em uma viatura básica, um Fiat Palio. Com o comprometimento dos veículos, alguns policiais são lançados em outros tipos de operações, como o patrulhamento a pé. Mas, segundo o comando, a expectativa é de que 46 novos automóveis cheguem ao município ainda este ano, sendo 11 para a 3ª CME. Na próxima semana, já são esperadas caminhonetes Mitsubishi Pajero Dakar, com tração 4x4. No entanto, o total de viaturas para a Rotam não foi revelado.
Para os militares, a situação de precariedade acaba levando à subutilização da Rotam. "Pelo menos uma entra de serviço, geralmente a chamada Rotam comando, que trabalha com o oficial do turno. Raramente entram três, pois estão todas sucateadas. Quando não tem viatura, alguns de nós chegam a ser lançados no policiamento a pé. Mas o pelotão é treinado e está preparado para ação violenta. Sei que estão para vir quatro viaturas novas, mas o ideal seria o triplo. Doze entrando por turno de serviço. Ou seja, 24. Desde o lançamento da Rotam, em 1982, são quatro", diz um dos militares da Rotam. Outro policial do grupo afirma: "O problema é que essas viaturas podem até passar por manutenção, mas vão sair do conserto, funcionar e depois quebrar novamente, devido ao sucateamento."
Tenente-coronel Edelson Gleik, comandante da 3ª Companhia de Missões Especiais, que engloba a Rotam, diz que é preciso planejar o lançamento das viaturas para evitar ainda mais sobrecarga. "As Rotans trabalham no recobrimento às unidades do 2º e 27º batalhões, em naturezas mais graves, pelo poder de resposta mais rápido. Pelo tipo de serviço, o desgaste já é esperado. Algumas viaturas são de 2006, 2007. Chega um ponto em que nem consertar vale à pena. Tenho que quebrar a cabeça com a forma mais inteligente de lançar as Rotans. Se colocar todas para rodar, mesmo quando as novas chegarem, podemos sobrecarregá-las e rapidamente precisarão ser baixadas. Tenho que pensar, me baseando pelas estatísticas, qual o turno que mais precisa para lançar a carga máxima."
Gleik explica que, quando as viaturas apresentam falhas, é preciso fazer uma readaptação das equipes. "Já cheguei a deixar a viatura do comando rodando. Mas se as viaturas estragam, não posso dispensar os militares, preciso adaptar. Por isso, às vezes, são lançados em outro tipo de policiamento. Geralmente, nestes casos, saem no microônibus e desembarcam para operação. Mas jamais tiram todo o turno de oito horas fazendo patrulhamento a pé."
Segundo o deputado estadual Júlio César Gomes, cabo Júlio (PMDB), a situação é preocupante, porém, é a mesma em todo o estado. "O que acontece é que as viaturas básicas são terceirizadas e passam constantemente por manutenção. Já as maiores, como a Blazer, são de propriedade do Estado. As viaturas têm a particularidade de rodar muito. Um carro 2006 particular seria relativamente novo, mas uma viatura tem mais de 400 mil quilômetros rodados. Em Montes Claros, dos 42 veículos de grande porte, 38 estavam parados. O grande problema é que, com viaturas baixadas, a criminalidade tem mais chance. Principalmente em Juiz de Fora, que é uma cidade que integra a 'Divisa Segura'. Por conta da proximidade com outros estados, é preciso que o Governo tenha uma atenção especial com o empenho de viaturas para o município. Sobretudo porque o Governo do Rio vai estender as Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) para a Baixada Fluminense. Com isso, a tendência é a migração dos criminosos."
Ainda conforme o deputado, "mais importante que a compra e o envio das novas viaturas, deve ser a preocupação com a manutenção. Se não for realizada uma manutenção preventiva, em três, quatro anos, essas viaturas que estão prometidas também estarão parando."
Assessor de comunicação organizacional da 4ª Região da PM, major Jefferson Ulisses Pires, diz que as 11 viaturas destinadas à CME possibilitarão um realinhamento dos grupos. "Essas viaturas serão destinadas para Rotam, Choque e Grupamento de Ações Táticas Especiais(Gatte), que tem missões similares, e serão suficientes para aumentar a capacidade de policiamento." Ainda segundo o assessor, o Tático Móvel também receberá novas viaturas. "Rotam e Tático são serviços de recobrimento. Houve uma mudança na filosofia e serão destinadas viaturas Palio Loccker com xadrez (local para transporte de presos) para as equipes do Tático, que passarão a ser integradas por três militares e não mais por quatro."
Reclamações contra falta de pessoal
As denúncias dos militares não se restringem às viaturas. A falta de pessoal é outra reclamação. "Tem viaturas da Rotam entrando, quando entram, com três, o que fere o regulamento interno", conta um policial. Comandante da 3ª Companhia de Missões Especiais, o tenente-coronel Edelson Gleik, contrapõe: "A Rotam trabalha com quatro militares. Algumas vezes, por conta de escala de férias, com três, mas isso é raramente."
Subcomandante da companhia, capitão Rubens Valério, destaca que, além dos homens da Rotam, outros militares integram as forças especiais, como a Cavalaria, o Canil e o Grupamento de Ações Táticas Especiais (Gate). "Na década de 1980, havia somente a Rotam, mas, diante da modificação do contexto social, surgiu a necessidade de adequação. Com isso, as Companhias de Missões Especiais, englobam hoje várias frentes."
Os grupos atuam com a missão de controlar distúrbios civis, retomada de pontos críticos, unidades prisionais e na restauração da ordem pública quando as unidades de área já não detêm o controle. Capitão Rubens esclarece: "Fazemos um lançamento qualificado, seguindo as estatísticas policiais. Esse é um dos elementos que auxilia no empenho do efetivo e também das viaturas."
Jornal Tribuna de Minas
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