28/03/2013
Alexandro Martello
Do G1, em Brasília
O Banco Central elevou nesta quinta-feira (28) sua estimativa para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), que baliza o sistema de metas de inflação do governo brasileiro, para os anos de 2013 e 2014.
Com a revisão dos números, a expectativa de inflação da autoridade monetária, que estava pouco abaixo de 5%, superou, pela primeira vez, essa barreira para este ano e para o próximo – algo que o mercado financeiro já prevê desde março do ano passado, ou seja, há um ano.
Em 2011 e 2012, o IPCA somou 6,50% e 5,84%, respectivamente. Com isso, a autoridade monetária admitiu, por meio do relatório de inflação do primeiro trimestre deste ano, documento divulgado nesta quinta, que o IPCA não deve ficar abaixo de 5% em nenhum ano do mandato da presidente Dilma Rousseff, que termina em 2014.
Previsões do Banco Central e do mercado
Para 2013, a previsão oficial do Banco Central para o IPCA, que até dezembro do ano passado estava pouco abaixo dos 5%, passou para 5,7% (no cenário de referência, que considera juro e câmbio estáveis) e para 5,8% no cenário de mercado (que contempla as previsões dos analistas dos bancos para a taxa básica de juro da economia e para o valor do dólar).
Já para 2014, a estimativa do BC, que também estava pouco abaixo dos 5% em ambos os cenários, passou para 5,3% no cenário de referência e para 5,1% no cenário de mercado.
A expectativa de inflação da autoridade monetária está alinhada com o que pensa o mercado financeiro para este ano, visto que os analistas dos bancos estimam um IPCA de 5,71% para 2013. Entretanto, para o ano que vem, a previsão do mercado ainda é mais alta que a da autoridade monetária (5,6%).
Declarações da presidente Dilma
Nesta quarta-feira (28), na África do Sul, a presidente Dilma Rousseff afirmou que não apoia políticas de controle inflacionário que sacrifiquem o crescimento. "Eu não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico, até porque nós temos uma contraprova dada pela realidade. Nós tivemos um baixo crescimento no ano passado e houve um aumento da inflação porque teve um choque de oferta devido à crise", declarou ela na ocasião. Depois, no mesmo dia, a presidente informou que houve "manipulação" de sua fala, e que o combate à inflação é um "valor em si mesmo e permanente" de seu governo.
Sistema de metas
Pelo cenário traçado tanto pelo Banco Central quanto pelos analistas do mercado financeiro, o IPCA ficará novamente acima da meta central de inflação em 2013 e em 2014.
Para 2013 e 2014, a meta central de inflação é de 4,5%, com um intervalo de tolerância de dois pontos percentuais para cima ou para baixo. Deste modo, o IPCA pode ficar entre 2,5% e 6,5% sem que a meta seja formalmente descumprida.
Pelo sistema de metas que vigora no Brasil, o BC deve, teoricamente, calibrar os juros para atingir as metas centrais de inflação pré-estabelecidas, tendo por base o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA).
Os dados mostram que o BC manteve a taxa básica de juros inalterada na mínima histórica, em 7,25% ao ano, atual patamar, desde outubro do ano passado, mesmo com a deterioração do cenário de inflação registrado no primeiro trimestre deste ano – explicitado no relatório de inflação divulgado após a reunião.
A expectativa do mercado é que os juros básicos comecem a subir em maio próximo, terminando 2013 em 8,5% ao ano. Deste modo, os analistas dos bancos preveem uma alta de 1,25 ponto percentual na taxa de juro no decorrer deste ano.
Inflação acima da meta oficial
De acordo com números oficiais, a inflação ficou bem acima da meta central do governo em 10 dos 14 anos de existência das metas. E, segundo as novas previsões do BC para o IPCA, assim deve permanecer em 2013 e 2014.
De acordo com levantamento na base de dados do governo federal, a inflação ficou abaixo da meta central somente em quatro anos (2000, 2006, 2007 e 2009). Nesses anos, respectivamente, o IPCA somou 5,97% (para uma meta central de 6%), 3,14%, 4,46% e 4,31%. Em 2006, 2007 e 2009, a meta central estabelecida pelo governo foi de 4,5%.
Ao mesmo tempo, entre 1999 e 2012 (considerando todos os anos), a inflação média do país, pelo IPCA somou 6,69%, enquanto que a meta central "média" foi de 4,60%. Ou seja, o IPCA ficou cerca de 45% acima da meta central desde a início do sistema de metas.
Por governos
O G1 fez um levantamento da inflação média, por governos, desde a edição do Plano Real, em 1994 - que acabou com o processo de hiperinflação no Brasil.
Entre 1995 e 1998, no primeiro mandato de FHC, a inflação média, medida pelo IPCA, somou 9,71%. Em 1995, o IPCA somou 22,41% e no último ano do governo, em 1998, totalizou 1,65%. No segundo mandato de Fernando Henrique, entre 1999 e 2002, já com o sistema de metas de inflação em vigência, o IPCA médio somou 8,77%. Em 1999, o IPCA foi de 8,94% e, em 2002, de 12,53%.
Na primeira gestão do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que foi de 2003 a 2006, a inflação média, ainda segundo dados oficiais, somou 6,43%. Em 2003, o IPCA foi de 9,3%, e, em 2006, somou 3,14%. Já no segundo mandato do presidente Lula, o IPCA médio recuou para 5,14%, sendo de 4,46% em 2007 e de 5,91% em 2010.
Considerando as estimativas do Banco Central para o IPCA de 2013 e 2014, no chamado cenário de referência, a inflação média, no mandato da presidente Dilma Rousseff, será de 5,78%. Em 2011, o IPCA ficou no limite do sistema de metas, somando 6,5%, e em 2012 recuou um pouco, para 5,84%.
Desde o controle da hiperinflação, em 1994, portanto, o valor de 5,78% para a inflação média no governo Dilma Rousseff (que considera as estimativas para 2013 e 2014 feitas pelo BC) será a segunda menor por mandatos presidenciais. Entretanto, também será a primeira vez que o IPCA terá aceleração.
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