Por FOLHAPRESS
13/06/19 - 17h40
Ingresso de celulares em presídio pode valer R$ 20 mil
Foto: Pixabay
Há 17 anos trabalhando como agente nas muralhas das prisões paulistas, João (nome fictício), 38, teve que se acostumar a vigiar o céu.
O profissional acostumado a manter a mira de sua arma focada no solo para evitar fugas, resgates de presos e tentativa de contrabandear produtos atirados para dentro da unidade agora também tem de ficar de olho nos drones. Os equipamentos são a nova onda entre bandidos que buscam enviar drogas e celulares para a prisão.
O crime também usa pipas, pombos e comida para tentar furar o bloqueio nos presídios. Uma vez dentro da prisão, um celular, por exemplo, pode valer cerca de R$ 20 mil no feirão que acontece dentro dos muros.
Os altos valores estimulam a corrupção de funcionários, mas a falta de mão de obra para fiscalização também é um trunfo na mão dos criminosos –a Secretaria da Administração Penitenciária tem um déficit de 25% nos seus quadros permanentes.
Os drones, especificamente, têm preocupado o governo de João Doria (PSDB), que começou a instalar telas nas unidades e busca tecnologia no exterior para coibir a prática. Hoje, nos casos em que os agentes verificam a presença de um drone, o objeto é abatido no ar.
"Recentemente, o secretário [da Administração Penitenciária] Nivaldo Cesar Restivo esteve em Israel para conhecer as ferramentas lá utilizadas no combate a drones por meio de sistemas de vigilância e detecção em perímetro, incluindo novas tecnologias disponíveis em CFTV", afirmou a gestão Doria, em nota.
Os criminosos se aproveitam do déficit de agentes, o que faz com que parte das torres das muralhas possa ficar temporariamente sem alguém a postos, relata o agente João. "Também temos que ficar mais tempo do que o ideal vigiando. A cada hora, o nível de atenção vai caindo", diz.
No mês passado, a Polícia Civil prendeu 21 pessoas sob suspeita de integrar uma quadrilha especializada no uso de drones para transportar objetos para dentro das prisões.
Cada entrega custava cerca de R$ 45 mil, com limite de até 1 kg em objetos, como drogas e celulares. A operação foi batizada de Voo de Ícaro.
Ainda pela via aérea, criminosos não deixaram de usar meios à moda antiga, como pipas e pombos. No ano passado, a polícia do Rio Grande do Sul prendeu um traficante que criou uma arma de ar comprimido para arremessar drogas dentro de uma prisão.
O outro meio usado para levar drogas para dentro da prisão é por meio das visitas e os próprios presos, que hoje passam por um scanner corporal para entrar nas unidades. O chamado jumbo, pacote com alimentos e produtos de higiene levado pelas famílias, é uma das formas mais comuns.
Em março, por exemplo, uma visitante do CDP (Centro de Detenção Provisória de Guarulhos) inseriu dezenas de cigarros de maconha dentro de macarrões tipo penne e tentou entrar na unidade.
Só neste ano houve apreensões de drogas em salsichas, arroz doce e forros de calcinhas e sutiãs. No dia 9 deste mês, a mulher de um preso foi flagrada com quase mil comprimidos de estimulantes sexuais dentro de caquis.
Presidente do Sifuspesp (sindicado de agentes), Fábio Ferreira afirma que, após o fim das revistas corporais e o início do uso de scanners, o número de visitas nas prisões aumentou, o que dificulta a fiscalização. "O servidor começa a revistar às 7h e para só às 14h.
Ficam só dois guardas para receber a comida. É cansativo. Vai chegar no final, o déficit de atenção vai aumentar", relata.
Como o uso do scanner também dificulta a entrada de volumes maiores, ficou mais difícil enviar maconha, por exemplo, para as prisões. A mudança coincide com a proliferação de apreensões de uma espécie de maconha sintética, conhecida como k4, que é borrifada em pedaços de papel, muito mais fáceis de serem escondidos.