Durante toda a história da humanidade, os sábios e iluminados sempre enfatizaram a natureza complexa da espécie humana. Quase todas as civilizações da antiguidade chegaram a considera-la, inclusive, como sendo tripla, daí a universalidade do mito da esfinge, esta estranha criatura cujo corpo seria semelhante ao de ruminantes ou feras, a cabeça seria assemelhada à de um animal considerado nobre, tal como o leão, ou até mesmo a do próprio faraó, e seria dotada de asas imensas e poderosas.
É uma alegoria belíssima!
Assim seria a espécie humana!
Manticore (Pérsia), Quimera (Etrusca), esfinge (Assíria,) esfinge grega e Manussiha (Tibet e Burma)
O corpo ruminante seria a nossa parte mais primitiva e instintiva. Corresponderia àquele núcleo central de nosso cérebro que é exatamente semelhante aos répteis, e do qual se originou e desenvolveu a parte mais nobre do nosso cérebro ao longo da evolução. A cabeça representaria o intelecto, nossa função cognitiva. A consciência que, segundo todas as evidências, parece ser dom único da espécie humana. E, finalmente, as asas; representando o nosso espírito, sempre livre para voar. Assim, como as nossas representações deixam bem claro, o ser humano parece ser uma bricolagem de componentes desconexos.
Outros sábios, como Mani, simplificaram este modelo, reduzindo-o a apenas dois componentes, corpo e alma, como consequência de uma luta cosmogônica entre o bem e o mal. Mesmo simplificado, permanece a característica básica de uma fragmentação geradora de uma dicotomia um tanto quanto esquizofrênica. Seríamos uma eterna luta entre as demandas do corpo, voltadas para coisas terrenas e físicas; e as demandas da alma, voltadas para as coisas mais etéreas e sublimes.
Não foi por outro motivo que Nietzsche definiu o homem como sendo “Uma corda atada entre o abismo e o infinito”, em Assim Falou Zaratustra. Ou que Santo Agostinho nos definia como sendo “Um anjo cavalgando um porco”. Já o nosso poeta maior, Augusto dos Anjos, se dizia “Filho do ácido e do amoníaco, animal de pruridas rutilâncias”. Todos enfatizando o fato dos seres humanos serem capazes das obras mais sublimes e, ao mesmo tempo, capazes também das atitudes mais abjetas que se possa imaginar. Seríamos assim algo como um intervalo, aberto em ambas as extremidades, em termos de comportamento. Mas por que mesmo dessa digressão a respeito da natureza humana? Devem estar se perguntando meus parcos leitores. Calma que já chego lá!
Kurt Gobain, Janis Joplin, Jimmy Hendrix, Elvis Presley, Marylin Monroe, etc. R.I.P.
Um dos nossos roqueiros já falecidos, Cazuza, afirmou em uma das suas canções mais famosas que seus heróis teriam morrido de overdose. Que heróis malditos seriam esses que se destruíram VOLUNTARIAMENTE através de um mergulho total na inconsciência, na fuga mais abjeta da sua condição de humanos e, consequentemente, de seres pensantes, conscientes e responsáveis por toda a eternidade pelos seus atos? Heróis altamente neuróticos, completamente desajustados, personalidades fragmentadas e torturadas, sempre perseguidas por miríades de demônios ancestrais vindos só Deus sabe de onde e porque. Este é o “Olimpo” de pseudo-heróis que tem sido oferecido como quadro de referência comportamental à nossa juventude. Apresentamos as fotos apenas de alguns deles. Poderíamos prosseguir com esta lista por um longo tempo. Artistas como Amy Winehouse, Michael Jackson, e por aí vai…
Poder-se-ia pensar (Gostaram da mesóclise? Estou me adaptando aos tempos de Temer.) que este fenômeno de total desencanto e desespero diante da vida se resume aos países centrais, muito especialmente ao mais neurótico de todos eles: os Estados Unidos.
Nada mais longe da realidade!
O desespero deles é o desespero da riqueza. De quem tem tudo e não precisa lutar muito por mais nada na vida. Exatamente o oposto de nosso caso, onde o desespero é de quem não tem quase nada e, o pouco que tem, é espoliado todos os dias por uma casta de bandidos infames que se apoderou do aparato estatal e fez da parasitagem sua forma de vida, impedindo que todos os demais da população possam ter qualquer esperança de sair desta urucubaca maldita.
A mim parece que a ressaca moral deste mergulho no desespero está sendo muito mais agressivo aqui por nossas bandas, dadas as nossas infelizes circunstâncias.
Alguém se espanta com esta opção preferencial por um mergulho no mundo das drogas e da inconsciência que está sendo praticado diuturnamente por nossa sofrida e desesperançada juventude?
Alguém se admira pelo profundo desencanto com tudo, que permeia nossa população em todos os seus estratos, dos mais ricos aos mais pobres?
Alguém ainda se admira que as atividades econômicas, em nosso país, tenham se transformado em uma verdadeira selva? Um vale tudo em que o que interessa é fazer dinheiro a qualquer custo, “duela a quien duela”, como diria aquele célebre líder da gatunagem nacional?
Cássia Eller, Elis Regina, Renato Russo, João Gordo e Raul Seixas. Descansem em Paz!
Estamos nos encaminhando celeremente para um profundo mergulho no caos!
Será a “tempestade perfeita”, em termos sociais. Vejamos por que:
1. Todos os padrões de comportamento socialmente aceitos, e que foram desenvolvidos ao longo de séculos de evolução da humanidade, estão indo rapidamente para o lixo. Respeito, honra, gentileza, civilidade, honestidade viraram piadas de mau gosto. Coisa de otários.
2. Todos os rituais sociais que enfatizavam valores que, por sua vez, moldavam os comportamentos, estão se extinguindo rapidamente. Sobrevivem apenas em pequenos enclaves sociais mais conservadores. A consequência é o item 01 acima.
3. Todos os sinais exteriores de pertencimento, sinais indicativos de princípios e valores do de cujus, estão se diluindo em uma grande sopa de baixarias. Todos tatuados, tal e qual se estivéssemos em um grande presídio. Todos os efebos andróginos usando brincos de strass na orelha, comportando-se com gestos elétricos e efeminados, usando rabo de cavalo e afirmando QUE NÃO SÃO GAYS. Todas se vestindo como as prostitutas costumavam se vestir e afirmando que não são devassas.
4. Abandono total daquele velho sonho de transcendência, partindo de nossa condição de simples humanos e em busca de uma evolução em direção ao divino. O sonho realmente acabou!
Decididamente, parece que a opção, consciente ou não, especialmente aqui nas bandas deste Brasil malassombrado, foi por um mergulho na condição de porcos, e não de anjos.
E EU SOU O NOVO PROFETA DO APOCALIPSE!
http://www.luizberto.com/coluna/a-coluna-de-adonis-oliveira