Vicente Nunes
Correio Braziliense
Apesar da bomba em que se transformou Eduardo Cunha, muita gente do Planalto, inclusive Dilma, comemorou a denúncia encaminhada pela Procuradoria-Geral da República ao Supremo Tribunal Federal. Mas nada fez tanto sucesso quanto o fato de o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, pedir 184 anos de prisão para o presidente da Câmara.
O fantasma de Eduardo Cunha se junta às incertezas criadas pelo próprio governo ante a clara mudança na linha de condução da política econômica. Na avaliação dos investidores, ao reduzir a meta de superavit primário e lançar programas de incentivo ao emprego tendo os bancos públicos como protagonistas, ficou explícito que o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, está mais fraco e Dilma, fazendo prevalecer ideias que vigoraram no primeiro mandato e levaram o país ao desastre.
Até mesmo dentro do governo já se fala que há duas equipes econômicas trabalhando na Esplanada. Uma, na Fazenda, sendo escanteada aos poucos. Outra, no Planalto, mais poderosa, tendo como mentor o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, que faz a cabeça de Dilma. Foi ele, por sinal, quem insuflou a presidente a levar adiante a ideia de que estimular setores específicos, com crédito do Banco do Brasil e da Caixa Econômica Federal, vai resultar em retomada mais rápida do crescimento.
OS MESMOS ERROS
O fato de o governo repetir os erros do passado — num momento de grande incerteza política, com Eduardo Cunha pronto para o tudo ou nada e ainda com poder de decisão na Câmara — pode tornar o que já está ruim em algo muito pior. É pena ver que, mesmo colocando o Brasil de joelhos, trazendo de volta o desemprego, destruindo o poder de compra das famílias, Dilma continue propensa a meter os pés pelas mãos.
Quem passou pelo Banco Central nos últimos dias saiu com a certeza de que o processo de alta da taxa básica de juros (Selic) chegou mesmo ao fim. A sensação dentro da instituição é de que nem uma nova alta do dólar será suficiente para comover os integrantes do Comitê de Política Monetária (Copom) a elevarem a Selic além dos atuais 14,25% ao ano.
Por fim, o Planalto sentiu o baque da disparada do desemprego e já dispõe de projeções indicando que a taxa, que cravou 7,5% em julho, pode passar de 10% logo no início de 2016.
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