22 de agosto de 2015 - 07:00
POR MARCOS ARAÚJO
De 1990 a 2014, a taxa de homicídios em Juiz de Fora cresceu 238%, conforme relatório apresentado ontem na Câmara Municipal. O estudo, apresentado pelo jornalista e consultor Jorge Sanglard, servirá como base para o Mapa da Violência que está sendo elaborado pelo Laboratório de Estudos sobre a Violência, sediado no Centro de Pesquisas Sociais (CPS) da UFJF, com a participação de diversas entidades. De acordo com Sanglard, membro do laboratório, na década de 1990, Juiz de Fora tinha um padrão semelhante ao do Uruguai, com apenas 4,4 homicídios por cem mil habitantes. “Nosso município podia ser considerado pacífico naquela época, pois cidades como Rio de São Paulo ultrapassavam a barreira dos 40 homicídios por cem mil habitantes. Quase duas décadas e meia depois, a taxa de homicídios em São Paulo reduziu 77% de 53,6 em 1999 para 12,0 em 2012. Enquanto isso, Juiz de Fora fez um caminho inverso”, ressaltou Sanglard.
De acordo com o jornalista, o ponto crítico para o aumento da violência em Juiz de Fora foi o derramamento de armas oriundas da Campanha do Desarmamento, em março de 2013. As armas teriam sido desviadas dos quartéis da cidade e voltado para as ruas. “Para se ter uma ideia, nos quatro primeiros meses de 2013, foram 56 assassinatos. No mesmo período de 2014, foram 61. Já de janeiro a 7 de abril de 2015, quando terminamos a pesquisa, foram 40 casos. Há uma similaridade entre os números de 2013 e 2014, que foram os anos com maior incidência de homicídio. O que demonstra que Poder Público e sociedade civil precisam definir metas para a redução dos homicídios”, ressalta Sanglard. O estudo também apontou a escalada da violência na cidade desde 2006, quando foram registradas 32 mortes violenta. No ano seguinte, foram 37; em 2008, 47; em 2009, 39; em 2010 e 2011, 52. O salto começou a ser percebido em 2012, 99 casos, e, nos anos seguintes: 2013 (139) e 2014 (141).
Tráfico e gangues
Como mostrou o relatório, as causas da violência estão ligadas ao tráfico de drogas e a situações envolvendo jovens em busca de vingança, culminando em brigas de gangues. Para o pesquisador do Instituto de Relações Internacionais e Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da Universidade de São Paulo (USP), Leandro Piquet Carneiro, que acompanhou a elaboração do estudo, os números da violência na cidade desafiam os gestores públicos. Segundo ele, pouco foi feito de concreto, entre 2013 e 2014, para diminuir a ocorrência de mortes violentas. Na visão dele, o município precisa questionar qual é sua meta para diminuir os homicídios e trabalhar para alcançar seus objetivos. Para tanto, necessita criar e efetivar o Plano Municipal de Enfrentamento à Violência.
Como apontou Jorge Sanglard, o relatório será encaminhado para Prefeitura, OAB, UFJF e Núcleo de Pesquisas de Políticas Públicas da USP. “As entidades devem reproduzir esses dados a fim de haver cobrança e despertar a sociedade para a criação do Plano Municipal de Enfrentamento à Violência. Por sorte, este ano, há uma tendência de redução nos números, o que é uma boa perspectiva, mas, apesar disso, ainda são muito altos. Hoje estamos com mais do dobro de todo o ano de 2006, quando foram registrados 32 crimes”. Até agora, este ano, já foram 84 mortes violentas este ano, de acordo com levantamento da Tribuna.
Para o especialista da USP, Leandro Piquet Carneiro, é preciso retirar as armas de fogo de circulação. Ele propõe a realização de uma campanha de desarmamento na cidade, aumento na penalização para infratores que cometem crimes com arma de fogo e monitoramento da conclusão dos inquéritos para haver celeridade na punição.
http://www.tribunademinas.com.br/mapa-vai-mostrar-explosao-de-homicidios-em-2-decadas/
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