11/08/2015 05h52
Brasília
Marieta Cazarré – Repórter da Agência Brasil
Resgatar a história política do país e recontá-la por meio de músicas dos mais variados estilos é o intuito do livro Quem foi que inventou o Brasil?, do jornalista Franklin Martins.
Em três volumes, a obra aborda o período de 1902 a 2002 e reúne mais de mil canções situando historicamente os fatos e os personagens, tanto políticos quanto artísticos.
“A música brasileira faz a crônica da vida política nacional. Não há fato relevante que não tenha sido objeto de uma ou mais músicas compostas no calor dos acontecimentos”, disse Franklin durante o programa Espaço Público, da TV Brasil, no início do mês de julho.
Na avaliação do jornalista, a música, assim como a fotografia e o cinema, é uma expressão artística capaz de transmitir os acontecimentos. Para ele, uma das razões para a força da musicalidade brasileira é a precariedade histórica da educação. “Em um país onde a maior parte da população não tinha acesso às letras, era analfabeta, a forma de transmissão da história era oral. E a transmissão oral se faz melhor quando é feita com rima e música. Isso é uma das grandes razões, a meu ver, da nossa musicalidade: a falta da educação formal no Brasil ao longo dos séculos”, disse o jornalista.
O título do livro, Quem foi que inventou o Brasil?, faz referência a uma marchinha de Lamartine Babo. Na música, a resposta a essa pergunta se refere às origens do povo brasileiro – os portugueses, os indígenas e os africanos. Franklin afirma que essa capacidade de documentar fatos históricos por meio das músicas é algo que diferencia a produção brasileira, que é constante, permanente. “Geralmente nos outros países essa relação é intensa nos momentos de grandes conflitos políticos, de guerras, traumas sociais. Superado aquele momento, a produção de música sobre política cai, porque um dos dois lados vence e reprime o outro”, destacou Franklin à TV Brasil.
Segundo ele, o costume dos brasileiros de fazer música satirizando os episódios nacionais vem desde os tempos do império. “Quando a família real vem para o Brasil, havia muitas modinhas gozando a família real, que vendia títulos de nobreza para fazer caixa e manter-se no Brasil.”
O escritor relata uma mudança muito significativa, ao longo dos anos, nos gêneros musicais que falam de política no Brasil. No fim dos anos 70, o rock aparece com muita força e se mantém até início dos anos 90, quando o rap, o funk, o samba-rap e o reggae passam a predominar como gêneros que abordam política. Esses últimos trazem o que Franklin chama de bronca social, ou seja, as reivindicações da periferia. “Eu não tinha ideia da intensidade do preconceito, da bronca social existente na sociedade contra a injustiça, a opressão, a falta de oportunidade, o racismo, a opressão policial dirigida contra o preto, o pobre e a prostituta”, afirmou.
Jornalista político, Franklin trabalhou na Rede Globo e começou sua pesquisa sobre a relação entre política e música no Brasil em 1997.
O terceiro volume da obra será lançado nesta terça-feira (11), às 19h, na Livraria da Travessa, em Ipanema, no Rio de Janeiro.
Edição: Lílian Beraldo
Agência Brasil