06/11/2014 05h51
Brasília
Mariana Tokarnia - Repórter da Agência Brasil
Edição: Graça Adjuto
No próximo sábado (8), 69.396 candidatos sabatistas farão o Exame Nacional do Ensino Médio (Enem). Os candidatos deverão chegar aos locais de prova com antecedência e, como qualquer outro estudante, ficarão de fora caso os portões sejam fechados. A diferença é que, por motivos religiosos, só começarão a resolver a prova quando o sol se puser.
Nikollas da Silva, Amanda Pereira e Thauana Lima, alunos do Colégio Adventista Milton Afonso, terão de esperar até o pôr do sol para fazer o Enem (Marcello Camargo/Agência Brasil) Marcelo Camargo
Eles guardam o sábado por convicção religiosa, o que significa que só trabalham ou estudam após o pôr do sol. São, por exemplo, os adventistas e os judeus. A estudante Thauana Rodrigues, 16 anos, do terceiro ano do Colégio Adventista Milton Afonso, fará o Enem pela segunda vez, já que no ano passado fez a prova como treineira. “Da última vez, a gente ficou em uma sala mais afastada, só adventistas. Cansa, a gente fica ansioso, esperando o horário, mas não a ponto de atrapalhar a prova”, diz a estudante. “A gente cantou, conversou um pouco, foi interessante”, complementa.
Os sabatistas deverão chegar aos locais de prova entre as 12h e as 13h, no horário de Brasília. A prova, no sábado, será aplicada às 19h, também no horário da capital federal. Para os sabatistas que estarão no Acre, em Rondônia, Roraima e no Amazonas, o início será às 19h, no horário local, respeitando o pôr do sol nessas localidades que não adotam o horário de verão. Por causa disso, a espera pode chegar a até nove horas.
Para aguentar esse tempo, é preciso resistência. “Vou tentar descansar bastante no dia anterior. Uma dica que me deram é não olhar as redes sociais, deixar a mente vazia, nem estudar mais nada”, diz a estudante do terceiro ano Amanda Pereira, 16 anos. Esperar para fazer a prova pode ser “bom, porque descanso um pouco, e ruim, porque é horrível ficar sem fazer nada”, diz.
O estudante Nikollas da Silva Antes, 17 anos, também do terceiro ano, fará o Enem pela primeira vez, mas já passou por experiência semelhante quando prestou o vestibular da Universidade de Brasília (UnB). “É difícil porque a gente vai ficar o dia todo, vai cansar. Mas, fico feliz de guardar o sábado. Ficar lá para testemunhar a minha fé”.
Thauana concorda. “Acho maravilhoso que tenhamos essa opção. Senão seria ruim para quem é adventista. É uma forma de respeitar”.
Enquanto o número de inscritos no Enem cresce ano a ano e passou de 7,1 milhões no ano passado para 8,7 milhões este ano, o número de candidatos que solicitam o atendimento específico como sabatistas diminuiu. Eram 90,2 mil inscritos no ano passado.
“Acreditamos que no sétimo dia Deus descansou da criação do mundo, então para nós é um dia de descanso”, explica a orientadora educacional do Colégio Adventista Milton Afonso, Cleide Corumbá. “São princípios tratados na família, têm fundamento religioso, mas não é fácil para o jovem. Ter que se desprender, fazer diferente dos outros. E eles se sentem em desvantagem com isso, com o cansaço de ficar o dia todo recluso”, acrescenta.
Uma solução, demandada inclusive em petição online, é que a prova seja transferida para outro dia da semana, que seja realizada em um domingo e uma segunda-feira. Segundo a coordenadora pedagógica do ensino médio do Colégio Adventista, Valquiria Couto, um paliativo seria dar mais conforto para a espera. “Eles poderiam ficar em um ambiente diferente, com um violão, poderiam até ser acompanhados por um pastor que falasse sobre outros assuntos que não a prova”.
Para enfrentar a espera, Valquiria dá algumas dicas: que os candidatos não conversem muito para não perder a concentração e que descansem o máximo. No dia do exame, em cada local com um grupo de alunos da escola, haverá um representante da instituição, que entregará um lanchinho e motivará os candidatos.
Agência Brasil