Jorge Béja
Quatro jornais ingleses (The Guardian, The Independent, The Telegraph e London Evening Standard) noticiaram ontem (6a. Feira, 9 de Maio de 2014), que o COI estaria sondando Londres para substituir o Rio nas Olimpíadas de 2016. Seria o “Plano B”, “devido aos atrasos na preparação da edição 2016 por parte do Rio de Janeiro”, conforme consta do noticiário dos jornais britânicos.
“É inquestionavelmente, a organização mais atrasada entre todas as Olimpíadas anteriores. O COI enfrenta atualmente sua pior crise internacional nos últimos 30 anos. Não é uma opinião, mas algo comentado e compartilhado por muitas pessoas dentro da própria entidade“, declarou Michael Payne, um dos diretores do COI durante 20 anos e hoje consultor da entidade. “A situação é crítica e sem precedentes“, disse John Coates, Vice-Presidente do COI, que acumula 40 anos de experiência em jogos olímpicos. Oficialmente, no entanto, o COI nega o que foi noticiado pelos jornais.
NADA SURPREENDENTE
A própria Copa do Mundo de Futebol-FIFA de 2014 não poderia ser realizada no Brasil, nem as quatro ou cinco copas seguintes, no mínimo. O país está atolado na mais completa desordem política e social. Reinam a anarquia, a corrupção, a violência, a frouxa e complacente legislação penal… Reina a Mentira. O Brasil apodreceu e fede. Até mesmo a Copa de 2014 não está garantida no Brasil. O Jérôme-FIFA ( aquele que disse que o Brasil precisava levar um chute na bunda, chute que o governo brasileiro levou mesmo, não doeu e não reclamou, nem revidou como deveria), Jérôme aconselhou ontem ao Mundo que os torcedores estrangeiros “não durmam em seus veículos, como fizeram na Alemanha.”. Nem foi preciso dizer a razão desse cuidado. Todos sabemos. Ele também disse “organizar a Copa do Mundo no Brasil foi um inferno”.
A FRUSTRADA CANDIDATURA DE 2004
O assanhamento-atrevimento de trazer uma edição dos Jogos Olímpicos para o Rio é antigo. O movimento começou em 1996, quando Fernando Henrique Cardoso nomeou Ronaldo César Coelho embaixador do “Comitê Rio-2004“. Empresário, banqueiro (foi dono do banco Multiplic), administrador de empresa e também (vejam só!), sem ser médico, secretário de saúde da prefeitura do Rio, (gestão César Maia, 2000-2002 e 2004-2006), Coelho esteve à frente da empreitada que defendeu, no escrutínio na sede do COI, a candidatura do Rio para sediar a Olimpíada de 2004. Perdeu. E ganhamos nós, o povo do Rio, o Brasil e os brasileiros.
“COMITÊ RIO-2004″ X “COMITÊ RIO-REAL”
Em oposição ao comitê que César Coelho presidiu e dele foi “embaixador”, um advogado do Rio criou o “COMITÊ RIO-REAL“, do qual esteve à frente, praticamente sozinho, e sem o pomposo título de “embaixador”. Durante quatro meses, por conta própria, o advogado reuniu 40 sentenças condenatórias-indenizatórias que a Justiça do Rio impôs ao Estado e à Prefeitura do Rio, por mortes nos presídios, mortes por falta e por má prestação de atendimento hospitalar, dentre outras mazelas que perduram até hoje, quase 20 anos depois. Também reuniu fotos e notícias a respeito das precárias condições de vida da maioria da população da cidade e de suas regiões e bairros, entregues ao abandono. As sentenças da Justiça e os textos dos jornais, o próprio advogado as verteu para o francês.
O EXITOSO PASSO SEGUINTE
A mídia sediada no Rio (rádios, jornalões e TV), mesmo ciente, ignorou a iniciativa do advogado. Apenas o Jornal dos Sports/RJ, o Estado de São Paulo e a Folha de São Paulo, a ela deram divulgação. De posse da documentação que reuniu e anexando uma carta de 29 páginas, escrita também em francês, o advogado deu entrada naquela “maçaroca” de 5 quilos no protocolo do COI, em Lausanne, Suiça. Na carta-petição, solicitou que os membros do COI confrontassem as credenciais que o “COMITÊ RIO-2004” apresentou com aquelas que o “COMITÊ RIO-REAL” entregava.
A iniciativa não foi em vão. Meses e meses depois, quando a cúpula do COI visitou o Rio, ligaram para a casa do advogado pedindo seu comparecimento no Hotel Copacabana Palace, em determinado dia, às 11 da noite. E que o advogado não entrasse pela portaria da Avenida Atlântica, e sim pela dos fundos, da Avenida N.S.de Copacabana. Quem ligou se apresentou como integrante da comitiva do COI, fazendo referência à documentação protocolada meses antes na sede da entidade, na Suiça. O advogado, a quem foi solicitado que fosse sozinho ao hotel, ele lá compareceu, sozinho.
O ENCONTRO E O FIM DE TUDO
Recepcionado por dois integrantes do COI, ambos acusaram o recebimento da documentação, agradeceram e elogiaram a iniciativa “geste inédit et très fécond“. Quando perguntei se haveria chance para que o Rio vencesse a disputa para sediar a Olimpíada de 2004, ouvi deles, a um só voz: “autre, peut-être“. Antes da despedida, foi-me pedido sigilo, que jurei guardar e guardei. Somente agora, perto de 20 anos depois, narro este fato que trago guardado comigo. E se não fosse a oportunidade, que tanto me honra, de escrever neste nosso blog, para tão fidalgos leitores, continuaria a guardar, a ficar sigiloso entre nós, minha querida esposa, companheira de 43 anos, e eu.
Enfim, tanto como décadas atrás, bem como agora, em 2016 e por muitos e muitos anos ainda, o Rio (e o Brasil) não têm condições de sediar uma Olimpíada. Quem não tem competência e condições, não se estabelece. Não pode bancar festa alguma.
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