13 de Outubro de 2013 - 07:00
Por RENATA BRUM Repórter
As áreas públicas de Juiz de Fora ainda estão desguarnecidas de vigilância eletrônica. Um ano se passou desde o anúncio da implantação do programa "Olho vivo" em áreas comerciais da cidade, feito pelo secretário de Estado de Defesa Social, Rômulo de Carvalho Ferraz, em outubro passado, quando esteve no município. Durante todo este período, também foram vários os anúncios da Polícia Militar e da Prefeitura (ver quadro) com previsão de que parte dos 54 equipamentos começasse a funcionar em agosto. Posteriormente, a expectativa era de que os aparelhos fossem instalados em outubro. Mesmo com o crescente índice de violência e insegurança, sobretudo na região central, com confrontos de gangues rivais e assaltos a estabelecimentos com disparo de arma à luz do dia, como o registrado na última sexta-feira, em uma casa lotérica, na Avenida dos Andradas, nenhuma câmera ainda foi implantada.
A nova estimativa é de que, somente no ano que vem, o sistema de videomonitoramento esteja funcionando. A confirmação da licitação foi feita na última quarta-feira durante visita do governador Antonio Anastasia ao município. A Polícia Militar, em Belo Horizonte, informou que o pregão licitatório foi aberto no último dia 3, mas ressaltou que não há prazo definido para a finalização do processo. "Pode haver questionamento e recursos das empresas interessadas, mas está tudo dentro do cronograma.
Em 2014, elas começam a funcionar", prometeu o chefe da sala de imprensa da Polícia Militar, em Belo Horizonte, major Gilmar Luciano.
A Prefeitura de Juiz de Fora informou que, desde o início do ano, tem trabalhado para garantir a implantação do programa na cidade. Por meio de nota, a Administração Municipal ressaltou ter adotado todas as medidas que poderia, desde a articulação com governador Antonio Anastasia até a formalização do convênio com a Polícia Militar, entre outras ações. "Agora, cabe à Prefeitura aguardar o término do processo regular licitatório já iniciado pelo Governo do estado, responsável por sua tramitação."
Regiões beneficiadas
A área central da cidade seria a primeira a receber o videomonitoramento, com 21 olhos eletrônicos cobrindo o quadrilátero formado pelas avenidas Rio Branco, Getúlio Vargas, Itamar Franco e Rua Benjamin Constant. Em uma segunda etapa, a instalação iria acontecer em 16 ruas da Zona Sul, cinco da Cidade Alta, quatro na região Leste e oito na Zona Norte. As imagens captadas pelos equipamentos seriam monitoradas direto do Centro de Operações da Polícia Militar (Copom) por equipes da corporação e da Prefeitura.
A concretização do "Olho vivo" é uma reivindicação antiga da cidade. "Não há policiais nas ruas, e nossa preocupação é com a aproximação do Natal. A situação nunca esteve tão crítica", desabafou uma lojista, 39 anos. Balconista de uma joalheria já assaltada, 42, diz trabalhar com medo. "Não fico tranquila. Os bandidos estão cada vez mais ousados. O circuito interno em alguns casos já não inibe. O ideal seriam as câmeras pelas ruas, pois a polícia vigiaria as atitudes suspeitas e poderia agir mais rápido."
Presidente da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) de Juiz de Fora, Vandir Domingos da Silva, que iniciou este mês a campanha "Chega de violência", diz que a fase é de expectativa. "Estamos confiantes de que as câmeras sejam, de fato, implantadas, mesmo com esse atraso. Afinal, serão benéficas não só para os lojistas, mas para os consumidores. Conseguimos uma conquista recente que foi a reocupação da Praça do Riachuelo pela Polícia Militar. Sabemos das limitações das polícias, da falta de efetivo, e por isso as câmeras seriam importantes", defende.
A cidade chegou a ter câmeras no Calçadão da Halfeld em 2004, no entanto, o projeto chegou ao fim e, em 2008, não havia mais equipamentos funcionando devido à falta de manutenção. Hoje persistem apenas algumas hastes, como a existente na esquina do Calçadão com a Avenida Rio Branco.
'Há alguém olhando por nós'
Professora do Departamento de Ciências Sociais da PUC Minas, Andreia Santos, diz que é hora de priorizar as políticas públicas de segurança no interior. "A criminalidade violenta das capitais brasileiras está entrando nas cidades de médio porte, isso porque são geralmente cidades prósperas, mas sem mecanismos de defesa. Isso faz aumentar furtos e roubos, de modo geral, complicando o cotidiano. Em Belo Horizonte, o programa conseguiu resolver bastante o problema do Centro. Tínhamos muitos trombadinhas, que roubavam correntinhas de ouro no Centro. Com as câmeras, a polícia conseguiu identificar os autores e minimizar o problema. Hoje o Centro está mais tranquilo, o medo diminuiu. As câmeras trazem essa sensação de segurança, o sentimento é esse: 'Há alguém olhando por nós."
O objetivo do "Olho vivo" é aumentar a sensação de segurança nas regiões onde as câmeras estarão em funcionamento, principalmente em áreas comerciais e com grande fluxo de pessoas.
Outra vantagem, como informou a Polícia Militar, é poder fazer o deslocamento de efetivo imediatamente após o registro do crime, causando um impacto positivo em casos de ocorrências contra o patrimônio. Em alguns municípios mineiros onde o programa foi implantado, houve redução dessa modalidade criminosa em até 40%.
As câmeras operam 24 horas por dia, sendo que as imagens ficam registradas por determinado período. Os dispositivos têm alcance de 360 graus na horizontal e 180 na vertical, podendo alcançar com nitidez pontos até 800 metros distantes. Alguns contam com infravermelho para visão noturna.
Equipamentos sem data na UFJF
No Campus da UFJF, outra área pública da cidade, também não há data fechada para a instalação dos novos equipamentos de vigilância. A previsão era de que as câmeras começassem a ser trocadas no último dia 1º, mas conforme a Secretaria de Comunicação da UFJF, o cronograma está sendo refeito.
Em dois anos, a expectativa é de instalação de 600 a 700 novos equipamentos, coibindo, sobretudo, as ocorrências criminosas, como furtos. Além das novas câmeras de alta definição na área externa e dos equipamentos térmicos noturnos, que serão instalados nas áreas de divisa com comunidades vizinhas, e controladas em tempo real por uma central de monitoramento para evitar invasões, os 212 dispositivos do campus serão reaproveitados dentro das unidades acadêmicas. O campus ainda será dotado de totens com telefones de emergência e de barreiras físicas eletrônicas.