29/07/2013
No avião que o levou a Roma, o Papa concedeu uma segunda entrevista, dessa vez coletiva, aos correspondentes credenciados. Francisco falou de temas que já tinha abordado na entrevista ao Fantástico e avançou por outros. A resposta que ganhou as manchetes do mundo todo foi à pergunta sobre os gays - feita pela correspondente da Rede Globo Ilze Scamparini. Francisco parecia feliz com a viagem ao Brasil.
Na viagem de volta tudo pareceu mais leve. Até o Sumo Pontífice estava relaxado, apesar do cansaço extremo.
O sucesso com os jovens em Copacabana era o mais relevante pra ele. A presença de tantas pessoas, sem incidentes, para o Papa parecia um milagre.
Menos de uma hora depois da decolagem, Francisco foi ao fundo do avião. E concedeu uma entrevista aos repórteres credenciados que durou 1 hora e 20 minutos.
O repórter espanhol fez a primeira pergunta, sobre o banco do Vaticano, o IOR, alvo de escândalos e suspeitas de lavagem de dinheiro. O Papa responde que ainda não sabe o que vai fazer: se vai manter o banco, transformá-lo em um fundo de ajuda, ou fechá-lo. Seja o que for, Francisco quer transparência e honestidade.
Falou sobre a importância do movimento carismático. “No fim dos anos 70 e início de 80 e não podia nem ver esse movimento. Uma vez falando deles disse isso: eles confundem uma celebração litúrgica com uma escola de samba. Mas depois me arrependi. Agora penso que este movimento faz tanto bem à Igreja”, afirmou.
No governo de Francisco, a mulher na igreja poderá aumentar a sua força.
“Pensem que Nossa Senhora é mais importante que os apóstolos. A Igreja é feminina, é mãe. Não fizemos ainda uma profunda teologia da mulher”, declarou.
Mas elas poderão um dia se tornar sacerdotes? “João Paulo II falou de uma forma definitiva e esta porta é fechada”, afirmou.
Mas para os divorciados que se casaram de novo, e que não podem comungar, o Papa abriu uma esperança.
“Esse problema deve ser estudado pela pastoral matrimonial. Há 15 dias, esteve comigo o secretário do sínodo dos bispos, para discutir o tema do próximo sínodo. E posso dizer que estamos a caminho de uma pastoral matrimonial mais profunda”, adiantou.
A Igreja também pretende rever as anulações de casamento, para facilitá-las. Para Francisco, a convivência com o Papa Emérito Bento XVI é doce e terna. “É como ter um avô em casa. É venerado, é amado e escutado”, declarou.
O italiano quis saber o que o Papa leva na sua maleta preta de mão - uma imagem que girou o mundo.
“Não tenho a chave da bomba atômica. Eu sempre fiz assim, ali dentro tem um barbeador, livro de orações, agenda, um livro para ler, sobre Santa Terezinha, de quem sou devoto. Sempre uso a bolsa quando viajo. É normal”, revelou.
Quando chegou a vez de Ilze Scamparini, a correspondente perguntou ao pontífice sobre a escolha do Monsenhor Ricca como fiscal do banco Vaticano. A revista italiana l'Espresso acusou o religioso de ter tido um amante e de ter dado emprego a ele na Santa Sé.
Ilze Scamparini: Uma outra imagem rodou o mundo. A do Monsenhor Ricca com as notícias da intimidade dele. Como o senhor pretende enfrentar esta questão? E como vai enfrentar o lobby gay?
Papa Francisco: Fiz o que o direito canônico pede. A investigação prévia. E não encontramos nada do que acusam. Não encontramos nada. Gostaria de acrescentar uma coisa: vejo que tantas vezes na Igreja se procura os pecados de juventude e se publica. Não os delitos, que são outra coisa. O abuso de menores é um delito. Falo de pecados. Mas se uma pessoa laica ou padre ou freira cometeu pecados e depois se converteu, o Senhor perdoa. E quando perdoa, esquece. Não temos direto de não esquecer, porque se não, podemos correr o risco de que o senhor também não se esqueça dos nossos. É importante uma teologia do pecado. Penso em São Pedro que cometeu um pecado grave, renegou Jesus. E mesmo assim foi feito papa. Se escreve tanto do lobby gay. Até agora não encontrei ninguém no Vaticano com uma carteira de identidade que diga "gay”. Se uma pessoa é gay e procura Jesus, e tem boa vontade, quem sou eu para julgá-la? O catecismo diz que não se deve marginalizar essas pessoas, devem ser integradas à sociedade. Devemos ser irmãos. O problema é fazer lobby, de pessoas gananciosas, lobby de políticos, de maçons, tantos lobbies. Esse é o pior problema. E agradeço muito por você ter feito esta pergunta.
O Papa chegou a Roma e foi direto para o Vaticano. Sobre as próximas viagens, disse que gostaria de ir a Jerusalém, e também a dois países asiáticos - visitas que Bento XVI pretendia fazer. Quanto à canonização de João Paulo II, prevista inicialmente para dezembro, pode ficar para o ano que vem, para não expor os fiéis poloneses ao frio e à neve durante a viagem. http://g1.globo.com/jornal-nacional/noticia/2013/07/papa-francisco-fala-sobre-gays-e-ganha-manchetes-pelo-mundo.html