19 de Julho de 2013 - Juiz de Fora
Por Renata Brum
Policiais recebidos a tiros e tentativas de criar áreas onde a polícia não entra são situações que começam a aparecer com frequência preocupante em regiões distintas da cidade. Em alguns bairros, pichações com frases do tipo "proibido polícia", demonstram que os criminosos querem expor o enfrentamento às autoridades. No dia 12 de junho, dois jovens que acabaram presos após assaltarem um correspondente bancário, chegaram a atirar na fuga, na tentativa de escapar ao cerco da Polícia Militar.
Em maio, militares foram alvos de tiros no Parque Guarani, região Nordeste, durante a verificação de uma denúncia. Quando os policiais chegavam na casa de um suspeito, este fugiu e disparou contra a viatura. Recentemente bandidos abriram fogo contra a polícia, na cidade de Santos Dumont, durante assalto a uma loja de eletrodomésticos. Policiais chegaram no momento em que os bandidos tentavam levar o cofre e houve troca de tiros.
Em fevereiro, durante operação conjunta das polícias Civil e Militar, para desmantelar e prender uma quadrilha suspeita de envolvimento em roubos e arrombamentos a caixas eletrônicos em Juiz de Fora, uma equipe que seguiu para o Mirante da BR-040 foi recebida a balas. Na ocasião, um criminoso natural do Rio foi preso.
Em dezembro de 2012, um policial ficou ferido, na Vila Olavo Costa, após ser atacado por um homem, 36, que estaria de posse de uma arma branca. No episódio, o militar atirou e acabou matando o agressor. Também no final do ano passado, em novembro, outra ocorrência. Um homem atirou em direção a uma viatura da Polícia Militar e fugiu após pular no Rio Paraibuna, na altura do Bairro Ponte Preta, Zona Norte.
Um dos casos mais graves foi registrado há cerca de um ano e meio, no Bairro São Benedito, região Leste. Ocupantes de um veículo Corsa abriram fogo contra duas viaturas da Polícia Militar que faziam o patrulhamento pelas ruas do bairro, após receberem denúncias de que o grupo exibia armas pela via pública, intimidando a população. O carro de uma das equipes da Rotam foi alvejado e um policial do Grupo de Ações Táticas Especiais chegou a ser atingido por estilhaços. Na ocasião, a PM realizou uma megaoperação de bloqueio e conseguiu que um dos suspeitos de comandarem o tráfico na área, se entregasse
'Desejo assassino'
Para o autor do livro "Autodefesa contra o crime e a violência - um guia para policiais e civis" e de artigos sobre sobrevivência policial, Humberto Wendling, as ocorrências evidenciam a intenção dos bandidos."Um ataque com armas de fogo é uma demonstração inequívoca de intenção criminosa." Segundo ele, alguns criminosos desejam matar policiais devido ao 'status' que isso proporciona. Outros querem marcar seus territórios como locais inacessíveis ao Estado. "Por isso, uma simples ronda ou abordagem policial é sempre uma atividade de extremo risco para eles."
Diante dos episódios, o professor do Centro de Altos Estudos de Segurança da Polícia Militar de São Paulo, José Vicente da Silva, destaca a necessidade de ação imediata. "As forças policiais não podem dar espaço para a criminalidade. Disparos contra policiais, tentativas de homicídio, ocorrências desse tipo, devem ser priorizadas pelas corporações. Estive recentemente em um evento em Harvard e a conclusão é de que a melhor maneira de contenção dessa violência, é a resposta imediata. Não tem conversa, os policiais precisam causar desconforto aos criminosos. Precisam ir à caça, e prendê-los", enfatiza.
Assessor organizacional interino da PM, major Paulo Alex Moreira, diz que a corporação não considera a situação atual como alarmante. "Esses quatro a cinco episódios nos últimos meses ainda podem ser considerados fatos isolados, se considerarmos uma cidade com quase 600 mil habitantes. São episódios comuns na atividade policial, e temos que estar preparados para essas situações." Entretanto, o assessor ressalta que como resposta, a polícia tem intensificado a presença em zonas quentes e realizado operações pontuais, que resultaram em prisões importantes nos últimos meses.
"A ação é sempre mais rápida que a reação"
Apesar de ser assunto polêmico, especialistas em segurança defendem, além da prisão imediata, a reação armada em casos em que as forças policiais são alvos de disparos. "Obviamente, existem elementos técnicos para situações nas quais o policial é recebido a tiros como, por exemplo, o desembarque imediato da viatura, a utilização de barricadas (proteções contra os disparos), a localização da origem dos disparos (posição do atirador), mas, via de regra, a resposta deve ser imediata. É importante esclarecer que aquela pessoa que toma a iniciativa do conflito armado está em ligeira vantagem, pois a ação é sempre mais rápida que a reação. Assim, numa situação tão desfavorável para o policial, esperar que ele verbalize com o atirador é algo improvável e que não pode se tornar uma exigência, sob pena de aumentar ainda mais a possibilidade de morte do policial", explica Humberto Wendling.
Major Paulo Alex explica que os militares estão treinados para agir em situações adversas, mas que o modo de ação é baseado no escalonamento progressivo da força. "Iniciamos com a presença ostensiva, subindo grau a grau até o uso de arma de fogo. Se o caso exigir, chegamos até o disparo letal, pois o policial tem o treinamento necessário para isso. Mas a conduta policial precisa sempre estar pautada na ética e na legalidade. Por isso, os militares respeitam as premissas básicas da corporação que é, em primeiro lugar, garantir a vida da comunidade e dos policiais, e em segundo lugar, respeitar a integridade física do infrator."
Crime hediondo
Em países do primeiro mundo, matar policiais ou tentar contra a vida dos mesmos é considerado crime hediondo. No Brasil, um abaixo-assinado circula pela internet com a finalidade de pressionar a Câmara dos Deputados a dar seguimento a proposta de lei de iniciativa popular para que os crimes praticados contra agentes da lei sejam considerados crimes hediondos e tenham suas penas aumentadas no Código Penal. O movimento foi iniciado pelo deputado Sérgio Olímpio Gomes, e seguido por outros parlamentares e pela sociedade civil.
O especialista Humberto Wendling enfatiza a necessidade de aprovação da proposta. "Quando as coisas saem do controle, ninguém espera o presidente, o parlamentar, o juiz ou o promotor. Todos esperam a polícia, pois ela é a primeira e a última linha de defesa social."
Tribuna de Minas