27/12/2012
Ricardo Bastos
Cerca de 35% dos medicamentos no Brasil são comprados sem indicação médica
A Organização Mundial da Saúde (OMS) indica que 50% dos remédios são ingeridos de forma inadequada. As causas são automedicação, prescrição errada ou abuso na dosagem. Não há estatística sobre o número de hipocondríacos – pessoas que usam medicamentos em excesso. Mas a prática é facilitada pela ampliação da distribuição das drogas na rede pública.
A Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) estima que 35% dos medicamentos são adquiridos sem indicação de um médico. Nos casos de intoxicação, 75% são por hipertensivos, anti-inflamatórios ou anticoncepcionais, vendidos no Brasil sem exigência da receita.
O brasileiro não tem consciência de que remédio “não é chocolate, não é alimento”. A afirmação é do presidente do Conselho Regional de Medicina (CRM-MG), João Batista Gomes Soares. Ele faz veemente defesa da receita médica na compra de medicamentos.
Custo/benefício
“É competência do médico definir o que o paciente deve tomar. Quando ele faz isso, assume as consequências do uso”. João Soares diz que todo remédio tem “efeito adverso” e cabe ao profissional da saúde avaliar o custo/benefício e orientar o paciente.
Lucila Pereira, de 77 anos, só toma remédios com receita, mas a lista não é pequena: a vitamina Fosamak, Alendromato, Cálcio B3, Clinfar, Pressat, Moduretic e Neosoro, além de um colírio cujo nome não lembra, Rivotril e Sedilac. A idosa acha normal ter em casa uma farmácia tão grande e gosta de consultar médicos.
Por outro lado, Wagner Silva, de 48 anos, usa anti-inflamatórios por causa de uma dor no joelho e Neosaldina três vezes ao dia para combater a dor de cabeça. Prefere não ir ao médico. “Não tenho muito tempo e já sei de que remédios eu preciso”.
Pesquisa
Pela complexidade do tema, o Ministério da Saúde decidiu fazer uma pesquisa, em 2013, para mapear o acesso e o uso de medicamentos no Brasil. O principal objetivo é saber se o brasileiro consegue pagar pelos medicamentos de que precisa e se a oferta gratuita em programas governamentais é suficiente.
Mas o professor da Universidade Federal do Rio do Grande do Sul (UFRGS) Sotero Serrate Mengue esclarece que a automedicação, “problema complexo”, também será medida pela pesquisa.
“As pessoas sabem que estão fazendo errado. É como fumar, como beber e dirigir. Mas pensam: ‘sei que estou errado, mas nunca acontece nada’ e insistem no erro”. Os pesquisadores vão buscar estratégias para identificar o que leva a tantos equívocos.