05 de Novembro de 2012 - Juiz de Fora
Por Sandra Zanella
Moradores dos bairros Francisco Bernardino e Jardim Natal, na Zona Norte, levaram um susto na madrugada desta segunda-feira (5) com o transbordamento do Córrego Humaitá. Apesar de alagamentos não serem comuns na região, o nível do curso d'água subiu rapidamente por volta das 4h, invadindo casas e estabelecimentos comerciais situados no entorno. Segundo a Defesa Civil, nas 24 horas entre a manhã de domingo e a de segunda-feira, choveu 60mm, dos quais 54mm somente durante a noite e a madrugada, um volume considerado grande para o curto período. Segundo o subsecretário de Defesa Civil, major José Mendes, o acúmulo de lixo ao longo do Humaitá e alguma vazão anormal de água na cabeceira podem ter contribuído para a ocorrência.
Ainda conforme o major, no período noturno foram registradas apenas três ocorrências, sendo uma de entupimento de esgoto, que sujou uma casa no Bairro Amazônia, também na Zona Norte, e duas relacionadas ao transbordamento do Humaitá. "Suspeitamos que alguma cachoeira na parte alta tenha sido arrombada com a própria chuva. Segundo moradores, às 6h, a água já estava baixa e, sem chover, o volume aumentou de novo. Por isso, a suspeita é de que aconteceu algo na cabeceira", concluiu o responsável pela Defesa Civil. "Pela manhã, recebemos mais chamados. Às margens do córrego, fizemos o cadastramento de quatro famílias que precisam de ajuda." De acordo com o subsecretário, estão sendo doados colchões e cestas básicas.
Uma das pessoas que precisou do auxílio foi a dona de casa Maria Amélia de Oliveira Carnavalli, 53 anos, moradora de uma casa no prolongamento da Rua Tomaz Gonzaga, no Jardim Natal. Ela dormia no imóvel com o marido, o carpinteiro Celso Carnavalli, 53, uma filha, 30, e um sobrinho, 11, quando, por volta das 4h, todos levantaram em meio à lama. "Já acordamos dentro d'água. Levamos um susto doido", contou a mulher. O lamaçal alcançou cerca de meio metro de altura na residência, invadindo até a geladeira e o forno do fogão na cozinha, além de molhar colchões, móveis e roupas de cama. "Vou ter que jogar tudo fora, porque fica com cheiro de barro podre. A água cobriu até o vaso sanitário, não dava nem para ver a tampa", completou Maria Amélia. A oficina de Celso, nos fundos do imóvel, também foi prejudicada. "Hoje (ontem) estou sem condições de trabalhar. Perdi cinco máquinas e, só para consertar, meu prejuízo deve ficar em uns R$ 4 mil", lamentou.
No Francisco Bernardino, problema semelhante ocorreu no final da Rua Professor Meton de Alencar, quase esquina com a Rua Abílio Gomes. Nos imóveis próximos ao córrego, a água também chegou a meio metro depois das 3h. Nem os degraus à beira das portas impediram a invasão. "Vamos ver o prejuízo ainda, mas só de máquinas de clientes, como furadeiras, maquitas e ventiladores, perdi R$ 3 mil", disse o proprietário de uma oficina de reparos, Jorge Fernandes, 46. Enquanto ele tentava limpar a loja e retomar a rotina, equipes do Demlurb trabalhavam na remoção da lama, que cobriu todo o asfalto. "Há quatro anos, isso não acontecia aqui e nunca foi dessa forma tão rápida. Para mim, a sujeira do córrego pode ter contribuído, porque as pessoas jogam muito lixo."
A opinião do morador foi compartilhada pelo major Mendes. "Havia pedaços de sofá, de armário e restos de material de construção no córrego. E choveu muito, praticamente durante toda a noite." Na mesma via, a dona de casa Gilmara de Souza, 37, teve que esperar no terraço como marido e a filha, 11, até a água baixar pela manhã. "Às 3h30, eu ainda estava acordada, e nada tinha acontecido. De repente, a água começou a entrar rápido e cobriu a cama onde minha menina dorme, mas ela já tinha se levantado. Fiquei assustada, porque foi a primeira vez que passei por isso. Tivemos que suspender os móveis até colocar tudo em ordem."