TÂMARA TEIXEIRA
FOTO: LEO FONTES - 31.10.12
Os gritos de terrorismo, a imagem da arma apontada para a cabeça e o barulho da coronhada que recebeu ainda rondam as lembranças do advogado G.F.G, 25, vítima de um assalto à mão armada. Quem passa por essa violência conta que a rotina nunca mais é a mesma e que a sensação de insegurança é constante. A Polícia Militar (PM) não divulga números, mas confirma a impressão da população de que os roubos à mão armada na região metropolitana estão cada vez mais comuns.
A mãe do advogado G.F.G conversava com um eletricista na porta de casa quando foi abordada. Os dois e o rapaz foram levados a um quarto. Amarrados e amordaçados, ficaram sob a mira de uma arma por duas horas. O crime ocorreu em 12 de junho, no bairro Mangabeiras, na região Centro-Sul.
"O tempo todo, pressionaram para achar um cofre que não existe. Tentaram enfiar a cabeça da minha mãe no vaso sanitário e disseram que iam arrancar meus olhos. Nunca vou apagar isso da cabeça. A sensação é a de fragilidade e impotência", disse.
Para o major Gilmar Luciano dos Santos, chefe da Sala de Imprensa da PM, se os ladrões arrombavam casas
vazias há poucos anos, agora estão mais armados e ousados, e a presença das vítimas já não os intimida mais.
Ele diz que o alvo preferido é o que apresenta maior facilidade e menor resistência, seja em carros ou
residências. "A arma é mais usada por ser mais letal, intimidadora e fácil de transportar. Eles estão mais violentos".
Exemplos. O estudante Mateus Bianchette Rodrigues, 23, também sabe o que é ter a vida nas mãos de bandidos. Há um mês, ele foi abordado na porta de casa, no bairro Riacho, em Contagem, na região metropolitana. "Ordenaram que eu saísse do carro. Eram 21h. Foi rápido, mas o suficiente para me deixar apavorado. Nunca vou esquecer. Achei que fosse morrer. Hoje, quando me param na rua para perguntar as horas, fico com medo de ser um novo assalto", conta. O rapaz diz que, desde então, não sai mais à noite.
Na última quarta-feira, a casa de uma professora de 27 anos, que solicitou anonimato, foi arrombada por cinco assaltantes, no bairro Esplanada, na região Leste da capital. Durante 40 minutos, ela e quatro parentes ficaram reféns de criminosos.
"Por duas vezes, fizeram contagem regressiva para atirar no meu pai e em mim. Achei que não sairia viva". Para ela, a insegurança do cidadão é generalizada.
"A polícia deveria nos dar proteção"
Quando está na rua e escuta um barulho, um administrador de 30 anos, que pede para não ter o nome revelado, fica sobressaltado. Em casa, ao sinal de qualquer movimento diferente, ele percorre o local para verificar se está em segurança. Isso porque, há cinco anos, a casa da família, no Mangabeiras, na região Centro-Sul da capital, foi assaltada por um grupo armado durante cinco horas.
"Levamos chutes e socos. Foi desgastante e revoltante", afirma o administrador. O trauma foi tão grande que a família instalou câmeras de segurança no imóvel, adotou nova rotina e fez curso de defesa pessoal.
Para o sociólogo da Universidade Federal do Rio de Janeiro Bruno Cardoso, apesar de essas ações não inibirem a violência, aumentam a sensação de segurança. "Nossa iniciativa não tira a responsabilidade da polícia. Ela deveria nos dar proteção", diz a vítima. (TT)
Abalo pode demorar anos para ser curado
O trauma causado pela violência de se ficar sob a mira de uma arma deixa marcas que podem levar anos para ser apagadas. Segundo Cassandra Pereira, professora de psicologia da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG), a vítima passa a carregar uma enorme sensação de impotência. "A pessoa se sente subjugada. Mesmo quando, na hora do assalto, ela reage tranquilamente, desenvolve uma ansiedade e fica com medo de ser morta a qualquer hora", explica.
Assaltada por um grupo de jovens armados quando retornava da faculdade, na avenida João César de Oliveira, em Contagem, na região metropolitana, ela mudou os hábitos. "Depois disso, evitei andar a pé à noite e voltava só de especial", conta.
De acordo com Cassandra, a maior parte das pessoas que passam por experiências como essa evita situações que lembrem a violência. "Se o roubo foi de madrugada, elas deixam de sair à noite. Se foi em uma rua deserta, evitam sair sozinhas". (TT)
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