sexta-feira, 15 de maio de 2020

A coisa é antiga, Lula também tentava interferir na Polícia Federal e na Abin

Charge do Nani (nanihumor.com)

José Carlos Werneck

Na terça-feira, 11 de setembro de 2007, a “Folha de São Paulo” publicava a seguinte notícia, assinada pelos jornalistas Andréa Michel e Kennedy Alencar, da sucursal do jornal em Brasília. A matéria dispensa quaisquer comentários.

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INSATISFAÇÃO DE LULA MOTIVOU
AS ALTERAÇÕES NA PF E NA ABIN

O presidente Luiz Inácio Lula da Silva realizou trocas nos comandos da PF e da Abin porque deseja ter mais informações sobre as grandes operações da Polícia Federal e por avaliar que a Agência Brasileira de Inteligência é ineficiente.

Em conversas reservadas, Lula se queixa de saber de ações da PF pela imprensa, sobretudo no segundo mandato. Além disso, Paulo Lacerda, que deixou a PF para chefiar a Abin, não tinha boa relação com o ministro Tarso Genro (Justiça). Quando Márcio Thomaz Bastos chefiava a pasta, conversava com Lacerda diariamente pela manhã. Com Tarso, o contato passou a ser semanal.

VAIADO NO MARACANÃ – A gota d’água para a mudança na Abin veio na tarde de 13 de julho, na abertura dos Jogos Pan-Americanos, quando Lula foi vaiado no Maracanã.

Dias depois, o presidente soube que a Abin mapeara a disposição das vaias por parte de grupos que foram ao evento como convidados da Prefeitura do Rio, do oposicionista Cesar Maia (DEM) -na versão da agência, que Maia sempre negou. Ainda assim, o informe não chegou ao conhecimento do presidente, o que foi visto como erro do então presidente da agência, Márcio Buzzaneli.

O relacionamento ruim entre Tarso e Lacerda e o episódio do Pan levaram Lula a pedir a Thomaz Bastos que sondasse o antigo diretor-geral da PF sobre a disposição de comandar a agência de inteligência. Lacerda deu resposta positiva.

GRAMPO PRESIDENCIAL – Na Operação Xeque-Mate, a voz do presidente da República chegou a ser gravada. Quando soube disso, Lula ficou contrariado. A PF não deu destaque ao teor do diálogo no inquérito da investigação sobre jogos ilegais. Avaliou que a conversa não tinha importância.

Segundo a Folha apurou, Dario Morelli, compadre de Lula e um dos alvos da Xeque-Mate, telefonou para uma pessoa que estava com o presidente. Essa pessoa teria passado o telefone para Lula. Na versão registrada pela PF, os dois conversaram sobre um conhecido que estava hospitalizado.

Assessores palacianos avaliavam que a PF estava fora de controle e que as autoridades do governo, muitas vezes, tomavam conhecimento de assuntos sensíveis pelos jornais.

APOIO DE PETISTAS – O nome preferido de Lula para o lugar de Lacerda era o do então secretário nacional de Segurança Pública, Luiz Fernando Corrêa. Delegado da PF, Corrêa mantém ligação estreita com o movimento sindical, o que lhe garantiu o apoio de lideranças petistas.

Corrêa ganhou a queda-de-braço com os militares para comandar a segurança do Pan. Foi o primeiro evento internacional do país cuja segurança não ficou sob a coordenação das Forças Armadas.

Terminada a competição, em agosto, Tarso avisou Corrêa da mudança. Tarso e Corrêa tiveram alguns atritos na Justiça. Para a cadeira de Corrêa foi designado o secretário nacional de Justiça, Antonio Carlos Biscaia, que fracassara na tentativa de se reeleger deputado federal pelo PT do Rio em 2006.

DESCONTENTAMENTO – Quando convidou Biscaia para sua equipe, Tarso pensava em ter o colega petista à frente da Segurança Pública. Mas não poderia mexer nenhuma peça antes do final do Pan.

Outro fator que contou para as mudanças confirmadas na última semana foi o descontentamento de Tarso com a superexposição da PF nas megaoperações policiais desencadeadas na gestão de Lacerda. Várias vezes criticou publicamente o vazamento de informações.

Quando a PF foi encarregada de produzir o laudo para avaliar a capacidade financeira do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), de arcar com as próprias despesas, o ministro chegou a dizer que iria buscar os responsáveis por alimentar a imprensa com dados que teriam caráter sigiloso.

CURRÍCULO NA MESA – Tomada a decisão pela mudança, Tarso resolveu uma pendência antiga estimulado por Lula: levar para a pasta o delegado de Polícia Civil Romeu Tuma Júnior, cujo currículo estava no gabinete do ministério desde os tempos da gestão de Thomaz Bastos.

Filho do senador Romeu Tuma (DEM-SP), o delegado, filiado ao PMDB, perdeu a disputa pela reeleição para deputado estadual em São Paulo. Agora foi nomeado para secretário nacional de Justiça como sucessor de Biscaia. Tuma deverá ingressar no PMDB e passar a votar mais abertamente a favor do governo no Senado.  Posted in Geral

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