(Ilustração de Alexandre Beck, reproduzida do Arquivo Google)
Carlos Newton
Como no filme “Alta Ansiedade” (High Anxiety), em que Mel Brooks reaproveita dez cenas de clássicos do diretor Alfred Hitchcock, a grande mídia brasileira está vivendo uma fase de suspense total com a próxima troca de locatários no eixo Planalto/Alvorada. O que se diz é que o próximo presidente vai jogar duro em matéria de distribuição de verbas publicitárias, não somente da Presidência e dos ministérios, como também das estatais. Para a grande imprensa, essa notícia significa que estamos perto do Armagedon midiático, porque a crise atual é a mais sinistra de todos os tempos. E como dizia dr. Ulysses Guimarães, qualquer situação sempre pode piorar.
É absolutamente certo que, no Brasil e no mundo, a mídia em geral não está sabendo conviver com os novos tempos da internet. A perda de leitores e de espaço publicitário é impressionante, basta conferir os tradicionais anúncios classificados de domingo.
FIM DE FESTA – O mandato-tampão do presidente Michel Temer pode ser o último em que o governo apoiou generosamente a mídia, especialmente a Organização Globo, que resolvera derrubar Temer em maio de 2017, quando foi divulgada a gravação nos porões do Palácio Jaburu.
A campanha da Globo contra Temer estava arrasadora, até que ele aceitou um convite para jantar na casa de Roberto Irineu Marinho, no Rio de Janeiro, em reunião sigilosa, fora da agenda.
E o resultado foi a abertura dos cofres publicitários do governo para a Organização Globo, com reforço de recursos do sistema S (Sesc, Senai, Sebrae etc.), que passaram a patrocinar programas de TV, tipo GloboEsporte e RJ TV, além de apoiar eventos organizados pelo jornal O Globo.
CRISE ARRASADORA – O fato é que a imprensa escrita – jornais e revistas – não soube reagir à internet. A saída seria reforçar as redações com grandes jornalistas e fazer edições sofisticadas, profundas e analíticas, levando ao leitor o algo mais que a internet não fornece. Pois os jornais e revistas fizeram exatamente o contrário – criaram custosas emissoras internas de televisão, como a TV Veja, TV Estadão, TV Exame, TV Folha, TV Correio Braziliense, até O Globo criou sua emissora interna, vejam a que ponto de demência os jornalistas chegaram.
A confusão é tão grande que a nova estratégia de O Globo é “popularizar” o jornal, caindo o nível e eliminando justamente os cronistas mais intelectualizados, como Artur Dapieve. Mas por que “popularizar” O Globo se a empresa já edita o “Extra”? A estratégia deveria ser ao contrário, intelectualizando e sofisticando o jornalão, para fidelizar os leitores.
E AGORA? – Na expectativa de que Bolsonaro irá cortar as verbas publicitárias, seu rival Fernando Haddad, do PT, foi apoiado pela grande mídia praticamente inteira, exceto a Record do Bispo Macedo, o SBT e a Band, na TV, que mantiveram a neutralidade, e o jornal Estadão, que ficou no morde-assopra (editoriais contra o PT e noticiário contra Bolsonaro). No segundo turno, não tenham dúvidas, os grandes veículos apoiaram Haddad, porque governo do PT é sinônimo de dinheiro em caixa, na mídia.
Agora se aproxima a hora da verdade. Sem as verbas do governo federal, a grande mídia vai cair num buraco negro pior do que o Bing Bang. Podem apostar.
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P.S. – Com o aprofundamento da crise, talvez os jornalistas enfim entendam que a nova mídia precisa ser analítica e não factual, porque a informação do fato já é recebida em tempo real via celular. Além disso, não adianta nada criar TVs internas nem “popularizar” os veículos. Mas quem se interessa? (C.N.)Posted in Tribuna da Internet
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