domingo, 13 de agosto de 2017

Uma concepção mais aceitável da morte, na criatividade de Machado de Assis



Carmen Lins

Pedindo licença a Paulo Peres, Carlos Newton e Manuel Bandeira, sei que os três são amigos de Machado de Assis. Então, para lembrar os Pais que se foram antes de nós, vou transcrever aqui o que Machado de Assis escreveu a respeito em 1896. Concordo plenamente com ele, nosso escritor maior por todos os séculos, neste pequeno artigo publicado num dos maiores jornais do Rio de Janeiro, a Gazeta de Notícias:

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APOSENTADORIA DA VIDA
Machado de Assis

“Qualquer um de nós teria organizado este mundo melhor do que saiu. A morte, por exemplo, bem podia ser tão-somente a aposentadoria da vida, com prazo certo. Ninguém iria por moléstia ou desastre, mas por natural invalidez; a velhice, tornando a pessoa incapaz, não poria a cargo dos seus ou dos outros. Como isto andaria assim desde o princípio das coisas, ninguém sentiria dor nem temor, nem os que se fosse, nem os que ficassem. Podia ser uma cerimônia doméstica ou pública; entraria nos costumes uma refeição de despedida, frugal, não triste, em que os que iam morrer dissessem as saudades que levavam, fizessem recomendações, dessem conselhos e, se fossem alegres, contassem anedotas alegres. Muitas flores, não perpétuas, nem dessas outras de cores carregadas, mas claras e vivas, como de núpcias. E melhor seria não haver nada, além das despedidas verbais e amigas…”

(in Gazeta de Notícias, 6 set. 1896. Depois publicado em :” Machado de Assis, 100 anos de uma cartografia inacabada”. – Rio de Janeiro, Fundação Biblioteca Nacional, 2008. pags. 58/59)

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