Palestinos protestam contra restrições de Israel
Guga Chacra
O Globo
A instabilidade entre israelenses e palestinos em Jerusalém preocupa. Pode haver uma escalada que leve à Terceira Intifada. O foco da tensão é literalmente o mesmo lugar que serviu de barril de pólvora para a Segunda Intifada em 2000. Trata-se da área na parte antiga de Jerusalém conhecida como Esplanada das Mesquitas, pelos muçulmanos, e Monte do Templo, pelos judeus.
À distância, do Brasil ou aqui dos EUA, alguns questionam o motivo de israelenses e palestinos não se acertarem. No caso de Jerusalém, a resposta é fácil. Primeiro, precisamos entender que Israel reivindica Jerusalém como capital eterna e indivisível do Estado israelense. Já os palestinos reivindicam como sua capital a parte oriental de Jerusalém, de maioria árabe (cristã e muçulmana), que até 1967 estava nas mãos da Jordânia.
UNIFICAÇÃO – Há exatos 50 anos, na Guerra dos Seis dias, Israel unificou Jerusalém. A parte “antiga” da cidade, que é murada, estava na porção oriental, dos jordanianos. Esta área tem menos de 1 km quadrado e se divide em quatro quadriláteros — o islâmico, o cristão, o armênio (que também é cristão) e o judaico. Para entender melhor, entre no Google Maps e coloque na busca “Western Wall” (ou “Muro das Lamentações”, em português). Você perceberá que o muro está adjacente à Esplanada das Mesquitas/Monte do Templo (usarei as duas nomenclaturas para não me acusarem de ser a favor ou contra um dos lados).
O Muro das Lamentações seria atualmente o local mais sagrado para os judeus por ser um dos últimos resquícios do Templo de Salomão. Este se localizaria onde estão atualmente a Mesquita de al-Aqsa e o Domo da Rocha, que são alguns dos lugares mais sagrados para o islamismo. Por este motivo, os judeus chamam a área de Monte de Templo, e os muçulmanos, de Esplanada das Mesquitas. Dentro da Cidade Velha de Jerusalém, também está a Igreja do Santo Sepulcro, que se localiza a 550 metros (9 minutos andando) do Muro das Lamentações.
CONTROLE EXTERNO – E quem controla a Esplanada das Mesquitas/Monte do Templo, israelenses ou palestinos? Nenhum dos dois. A soberania é da Jordânia. Israel, no entanto, controla as entradas e tenta manter a segurança. Por um acordo, apenas muçulmanos podem entrar nas mesquitas. Membros das outras religiões e ateus podem visitar a área externa. Na semana retrasada, porém, dois policiais de Israel com origem drusa (árabes-israelenses) foram mortos a tiros por árabes-israelenses muçulmanos em um acesso à Esplanada das Mesquitas/Monte do Templo — note que os envolvidos não eram palestinos e tampouco judeus israelenses. As vítimas e os assassinos eram árabes cidadãos de Israel.
Em resposta, Israel instalou detectores de metal nas entradas da Esplanada das Mesquitas/Monte do Templo. Isso irritou palestinos, árabes-israelenses e autoridades islâmicas. A Jordânia interveio, e Israel voltou atrás e instalará outros métodos de segurança, como reconhecimento facial, câmeras e medidores de temperatura corporal. A tensão, porém, continua. O premier Benjamin Netanyahu tem sido criticado em Israel por ter cedido e removido os recém-instalados detectores de metal. E os palestinos querem que volte ao status quo ante, sem novas medidas de segurança consideradas invasivas por eles.
É UMA COMPLICAÇÃO – Não há solução simples. Aliás, basta observar o cenário na Igreja do Santo Sepulcro. Diferentes denominações cristãs brigam por cada metro quadrado. Já houve até feridos em briga de clérigos greco-ortodoxos e armênios envolvendo uma área no terraço. Foi preciso que a polícia israelense interviesse. Para evitar disputas entre os cristãos, a entrada da igreja fica sob responsabilidade da família muçulmana Nusseibah desde o ano 1.192. No século passado, foi criado o status quo no qual católicos, greco-ortodoxos e armênios são os custódios do Santo Sepulcro, embora também haja a presença de cristãos orientais, como os coptas, os siríacos-ortodoxos e os etíopes-ortodoxos.
Vale a pena visitar Jerusalém para entender melhor. Tente ir numa sexta-feira para ver a reza dos muçulmanos ao meio-dia, a procissão pela Via Dolorosa dos cristãos às 15h e, no pôr do sol, o início do shabat judaico no Muro das Lamentações. (artigo enviado por Mário Assis Causanilhas).Posted in Tribuna da Internet
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