Investigação. MP quer apurar legalidade da contratação de aliados de políticos pela companhia.
PUBLICADO EM 30/04/17 - 03h00
ANGÉLICA DINIZ
O Ministério Público de Minas Gerais (MPMG) vai investigar contratações de funcionários que integram os quadros do Grupo Cemig e ocupam altos cargos por indicação de padrinhos políticos ligados à atual gestão do governo estadual (PT-PMDB). A confirmação foi obtida por O TEMPO por meio de uma fonte da promotoria. Os alvos são parentes, amigos e políticos não eleitos que ocupam hoje funções importantes dentro da companhia, nas subsidiárias ou nas empresas terceirizadas, com salários que variam de R$ 10 mil a R$ 35 mil.
Considerada uma das maiores e mais bem-sucedidas estatais do país, a Cemig tem servido, há anos, como local estratégico para abrigar aliados dos partidos governistas em funções ad nutum, ou seja, cargos de livre nomeação e exoneração, assim como os comissionados.
A reportagem conseguiu nomes de alguns dos funcionários ligados a políticos da base governista que ocupam cargos na companhia. Alguns deles já constavam em lista de funcionários repassada à reportagem em 2015, depois de um pedido via Lei de Acesso à Informação (que obriga o órgão a prestar a informação solicitada).
O deputado estadual João Magalhães (PMDB), por exemplo, tem a filha, Fernanda Magalhães, o irmão, Pedro Bifano Magalhães, e a cunhada, Alexandra Murandy Fernandes Monte Magalhães, ocupando cargos importantes na estatal. Pedro e Alexandra, que são casados, estão lotados no escritório da Cemig em Brasília.
Na lista aparecem ainda João Ferreira Biondini, irmão do deputado federal Eros Biondini (Pros); e Daniel Mendes Las Casas, cunhado do deputado federal Marcelo Aro (PHS).
Diretor de Gestão Empresarial da Cemig pelo menos até o ano passado, Márcio Lúcio Serrano tem agora um cargo de assessor na estatal. Ele é pai do secretário geral da Governadoria de Minas, Eduardo Serrano, que trabalha diretamente com o governador Fernando Pimentel (PT).
Outro funcionário, Marcelo de Pádua Moura, ocupa a função de assistente da Diretoria da Cemig e é filho do atual presidente da Companhia de Tecnologia da Informação de Minas (Prodemge), Paulo de Moura Ramos.
Investigados. Com cargo de assessor e um salário que ultrapassa os R$ 30 mil, Alexandre Allan Prado é filho de Otílio Prado, assessor especial e ex-sócio de Pimentel (PT), e também investigado na operação Acrônimo. Até o fim de 2015, Otílio era o dono da OPR Consultoria, empresa que recebeu pagamentos suspeitos de entidades patronais mineiras, entre 2013 e 2015. A Polícia Federal suspeita que Prado pagava despesas pessoais de Pimentel e da primeira-dama, Carolina Oliveira, mesmo depois de o petista assumir o governo de Minas. Atualmente, a OPR está registrada em nome de Alexandre Allan Prado.
Também foi na Cemig que Felipe Torres do Amaral, parente da ex-mulher de Fernando Pimentel, encontrou abrigo. Primeiro, foi anunciado como diretor de Gás, cargo que ocupou por cerca de um mês. Logo após, foi indicado para diretor de Gestão Empresarial, função que não chegou a assumir por causa da resistência dos acionistas da estatal. A informação obtida pela reportagem é a de que Felipe Torres ocupa atualmente um cargo na Taesa, subsidiária da Cemig.
Felipe Torres foi alvo de condução coercitiva em setembro passado por suspeita de ter recebido propina a pedido de Pimentel.
Sem resposta
Cemig: Até o fechamento dessa edição, a Cemig não respondeu sobre as referidas contratações, os salários e as indicações políticas, além do critério para escolha dos conselheiros fiscais.
REUNIÃO MARCADA
Conselheiros podem ter reajuste salarial
Acionistas e membros dos conselhos Administrativo e Fiscal da Cemig vão reunir-se no próximo dia 12 para, entre outros pontos, eleger os novos conselheiros fiscais e definir a “fixação da remuneração dos administradores e dos conselheiros fiscais da companhia”. Na prática, significa que os salários dos conselheiros podem ser reajustados. A assembleia foi convocada pelo presidente do Conselho de Administração da Cemig, José Afonso Bicalho, também secretário de Fazenda.
Entre os dez indicados para ocupar o Conselho Fiscal da Cemig, parte não possui experiência em finanças, como os casos de Camila Paulino, que é relações-públicas e assessora da presidência da Copanor; Marco Antônio Badaró Bianchini, comandante geral da Polícia Militar; Arthur Amaral, farmacêutico, ex-prefeito de Luminárias (PT) e ex-presidente da Funed; e Edson Moura Soares, filósofo, teólogo e chefe de gabinete do secretário de Governo, Odair Cunha.
Dados da Cemig mostram que os gastos totais da estatal com 49 diretores e conselheiros será de R$ 19,2 milhões em 2017. Em 2016, foram gastos R$ 16,2 milhões, e em 2015, R$ 15,4 milhões. Em 2014, ainda sob a gestão dos governos do PSDB e PP, o valor gasto foi de R$ 12,4 milhões para despesas de 50 diretores e conselheiros.
De acordo com as regras, não há metodologia de reajuste e composição da remuneração, e suas correções justificam-se única e exclusivamente em razão de proposta do acionista majoritário da Cemig, o Estado de Minas Gerais. (AD)
REMUNERAÇÕES
R$ 19,2 mi é o valor gasto pela Cemig com 49 diretores e 10 conselheiros em 2017.
R$ 60,5 mil é o salário mensal do presidente, fora benefícios e participação nos lucros.
R$ 46,5 mil é o salário mensal dos diretores executivos, fora outras gratificações.
R$ 18,1 mil é a remuneração mensal do presidente do Conselho de Administração.
R$ 11,4 mil é a remuneração mínima de um membro do Conselho de Administração da Cemig.
R$ 7.600 é o valor mínimo recebido por cada membro do Conselho Fiscal da Cemig.
NA FOLHA
Marcelo de Pádua Moura: filho do atual presidente da Prodemge, Paulo de Moura Ramos.
Alexandre Allan Prado: filho de Otílio Prado, assessor especial e ex-sócio do governador Fernando Pimentel, investigado na operação Acrônimo.
Daniel Mendes Las Casas: cunhado do deputado federal e presidente do PHS de Minas, Marcelo Aro.
João Ferreira Biondini: irmão do deputado federal Eros Biondini (Pros).
Fernanda Magalhães: filha do deputado estadual João Magalhães (PMDB).
Pedro Bifano Magalhães: irmão do deputado João Magalhães e atua no escritório em Brasília. Em 2015, foi diretor da Cemig Overseas, subsidiária sediada em Barcelona.
Alexandra Murandy Fernandes Magalhães: mulher de Pedro Bifano Magalhães, também lotada no escritório da estatal em Brasília.
Lázaro Roberto da Silva: ex-prefeito (PT) de Campanha, no Sul de Minas.
Felipe Torres do Amaral: parente da ex-mulher de Fernando Pimentel, citado na delação premiada de Benedito Oliveira, o Bené, e investigado na Acrônimo.
Márcio Lúcio Serrano: pai do secretário geral da Governadoria de Minas, Eduardo Serrano. Em 2015, era diretor de Gestão Empresarial da Cemig.
Aliados
Cargo. Políticos derrotados nas urnas em 2014 e 2016 também receberam colocações na Cemig, caso de Lázaro Roberto da Silva (PT), ex-prefeito de Campanha, no Sul de Minas.
http://www.otempo.com.br/capa/política/mp-vai-investigar-contratação-de-apadrinhados-pela-cemig
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