sábado, 10 de dezembro de 2016

Fernando Pessoa no Brasil de hoje: “Roubar é preciso, navegar não é preciso”


Charge do Luiz Caetano, reprodução do Arquivo Google

José Carlos Werneck

Diante das últimas notícias sobre as delações premiadas, cheguei à conclusão de que atualmente “roubar é preciso”. E, para não fugir à regra, roubei o poema de Fernando Pessoa, plagiando, embora de maneira extremamente mambembe, o grande poeta lusitano. Antigamente, políticos sérios como Ulysses Guimarães tinham uma frase gloriosa: “Governar é preciso; viver não é preciso.” Atualmente, a frase foi com certeza modificada. E ficou assim: “Levar uma vida digna, ser honesto e ético não é mais preciso; o que é necessário é roubar”.

Está mais do que comprovado que agora o objetivo de grande parte das autoridades, sejam de quais poderes forem, é simplesmente usurpar os recursos públicos, mesmo que isso ocorre por meio de penduricalhos salariais, cartões corporativos e outros artifícios supostamente legais. Portanto: roubar é preciso!

NOVAS VERSÕES – O espírito desta frase, transformada, atualmente passou a ser “administrar não é preciso, o que é necessário é roubar”. Com os acréscimos, do tipo “conto gozar a minha vida e roubar bastante, porque só quero torná-la grande e para isso vou roubar cada vez mais e mais”. Ou mesmo “só quero roubar de toda a humanidade, ainda que para isso tenha de perder toda a dignidade e a vergonha, se é que as tive algum dia”.

Há, também a versão “cada vez mais assim penso, cada vez mais ponho meus objetivos em execução, e na essência do meu sangue o propósito pessoal é me engrandecer e seguir roubando, para ficar cada vez mais rico”.

Ou a variável “é a forma que em mim tomou o objetivo de minha vida, só quero me tornar rico e poderoso, ainda que para isso o meu corpo e a minha alma tenham de ser a lenha desse fogo”. E ainda a que defende que “só quero me tornar mais rico e sem escrúpulos, ainda que para isso tenha de trair todos os bons princípios, e cada vez mais assim penso, cada vez mais esta é a minha finalidade, porque é a forma que em mim tomou o misticismo da nossa época”.

O fato concreto é que chegamos ao limite. Essa pouca vergonha, essa imundície e essa roubalheira têm urgentemente que acabar!

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