23/08/2016 11h28 - Atualizado em 23/08/2016 11h34
Do G1 Zona da Mata
Sede da Imbel em Juiz de Fora foi interditada nesta segunda-feira
(Foto: Marina Proton/G1)
Os auditores da Gerência Regional do Trabalho de Juiz de Fora decidiram pela interdição da fábrica da Indústria de Material Bélico do Brasil (Imbel), no Bairro Araújo. A decisão ficará em vigor até a administração tomar providências para garantir a segurança dos 270 funcionários. As atividades no local estão suspensas desde a explosão de um paiol há uma semana, que causou danos materiais em dependências da indústria e em imóveis vizinhos.
O Sindicato dos Trabalhadores das Indústrias Químicas Farmacêuticas e Material Plástico (Stiquifamp) de Juiz de Fora e a assessoria da Imbel informaram que estão cientes da interdição.
De acordo com o auditor José Miguel Campos Júnior, a empresa já foi notificada da interdição, que foi difinida nesta segunda-feira (22) após a análise do relatório das vistorias feitas até a última sexta-feira (19).
"A fábrica possui 82 edificações e todas precisaram ser vistoriadas, não apenas o local do incidente. Por isso que o laudo foi finalizado nesta segunda. Foram determinadas providências técnicas para que a indústria volte a manter trabalhadores no local. Uma parte da interdição diz respeito às edificações, porque algumas foram comprometidas", explicou.
A interdição é por tempo indeterminado porque cabe à empresa resolver os problemas e pedir uma nova vistoria. "A Imbel precisa apresentar uma solicitação do levantamento de interdição, que pode ser total ou parcial. A partir disso, os auditores voltam ao local para analisar o que for pedido pela empresa", afirmou.
Paiol da Imbel explodiu há uma semana
(Foto: Gláucia Mendes Paulino/Arquivo Pessoal)
Ainda segundo ele, outros detalhes da interdição não podem ser divulgados por envolver o sigilo referente à natureza da atividade da fábrica, que é a produção de material bélico. O auditor fiscal do trabalho destacou que o trabalho da Gerência Regional do Trabalho é realizado em parceria com o Ministério Público do Trabalho (MPT).
O G1 entrou em contato com a assessoria do MPT em Belo Horizonte e aguarda retorno.
O presidente do Stiquifamp de Juiz de Fora, Scipião da Rocha Júnior, disse que participou de uma reunião na segunda-feira (22) com a Procuradoria do Trabalho e os auditores fiscais na Subdelegacia do Trabalho na cidade.
"A empresa já estava com as atividades paradas de forma preventiva por decisão da empresa, mas agora a interdição está oficializada, porque acataram o pedido do sindicato. Os funcionários civis não podem trabalhar até haver garantia de segurança", destacou.
Segundo ele, o sindicato recebeu questionamentos de funcionários temendo ficar sem pagamento. "A Legislação diz que, em caso de interdição e interrupção de atividades, salários e benefícios estão garantidos. Por isso, não procede o temor de pessoas e comerciantes da região de que os funcionários teriam o pagamento suspenso", ressaltou.
O sindicato informou que a direção da Imbel está transferindo parte do pessoal administrativo para uma sala do Colégio Militar, para dar continuidade aos trabalhos, em meio expediente. "É uma alternativa permitida pela lei", disse.
Enquanto aguarda o desdobramento da interdição, o sindicato se mobiliza em outras frentes. "Além de acompanhar junto com os auditores fiscais, estamos encaminhando ofício em caráter de urgência para o Ministro da Defesa, Raul Jungmann. Queremos um posicionamento do ministério em respeito à garantia de emprego e segurança destes trabalhadores em todas as unidades da Imbel", comentou.
O assessor da Imbel, coronel Malbatan Leal, confirmou a entrega do termo de interdição no fim da tarde de segunda-feira e disse que as providências estão em andamento. "Estamos definindo o planejamento do cronograma, mas ainda não há prazo. O objetivo é retornar à normalidade, atendendo ao rigor que confira segurança para todos. A interdição veio de encontro à decisão do chefe da fábrica de suspender as atividades, o que indica uma convergência de interesses dos envolvidos", afirmou.
A princípio, a meta será solicitar a suspensão parcial da interdição, segundo o assessor. "Houve áreas mais impactadas do que outras, que vão demandar mais tempo de reparo. Por isso, provavelmente será priorizado o retorno parcial das atividades", explicou.
O coronel Malbatan Leal confirmou que alguns funcionários foram transferidos para o Colégio Militar. "São de setores prioritários que precisam continuar trabalhando. Por isso, estão abrigados de forma excepcional e temporária no colégio", afirmou. Além disso, também disse que os salários e benefícios estão mantidos durante a interdição, atendendo à legislação.
Vidros de casas quebraram durante explosão na Imbel (Foto: Marina Proton/G1)
Explosão assustou moradores
A explosão aconteceu no fim da noite da última terça-feira (16). De acordo com a nota oficial da Imbel, o paiol número um concentrava munições e foi totalmente destruído. Outros dois foram destruídos parcialmente e houve um princípio de incêndio em um depósito de material químico.
A equipe de controle de danos da fábrica e o Corpo de Bombeiros isolaram a área e realizaram o rescaldo do incêndio gerado pela explosão. Não houve feridos nem mortos.
De acordo com a Imbel, a instalação que fica em área afastada de locais de circulação de pessoas e da área urbana e que era destinada ao armazenamento de explosivos, sob condições de temperatura e umidade permanentemente controladas.
As causas da explosão estão sendo investigadas pelo Exército e um inquérito técnico-administrativo interno foi aberto pela Imbel. O laudo deve sair até o dia 18 de setembro.
Na quinta-feira (18), fiscais do Núcleo de Emergência do Estado realizaram uma inspeção na unidade. O mesmo trabalho foi realizado por auditores do Ministério Público do Trabalho (MPT) na sexta-feira (19).
Além de ter causado danos em residências, o acidente deixou moradores de bairros vizinhos assustados. Ao G1, eles contaram que a explosão trouxe uma sensação de terremoto, com um barulho muito alto.
Engenheiros da Defesa Civil e funcionários da Imbel cadastraram e vistoriaram casas vizinhas da fábrica. Segundo a assessoria da Defesa Civil, foram 166 casas cadastradas, apenas com avarias e sem risco estrutural.
O assessor da Imbel informou que será feito um mutirão no próximo fim de semana para finalizar as vistorias nas casas dos moradores afetados. Ele ainda disse que serão realizados pelo menos três orçamentos pelos próprios proprietários e a Imbel vai decidir qual o melhor, para liberar o dinheiro para realizar os reparos.
Portas de um clube próximo à fábrica também ficaram danificadas
(Foto: Marina Proton/G1)
Imbel foi inaugurada em 1938
Além da unidade da Zona da Mata, a Imbel também está presente no Rio de Janeiro (RJ), Magé (RJ), Itajubá (MG) e Piquete (SP). A fábrica de Juiz de Fora foi inaugurada em 1938, mas já funcionava em 1937.
A empresa tem tecnologia própria para a fabricação de materiais de emprego militar, com qualidade assegurada por Certificado de Sistemas da Qualidade e Serviços Pós-entrega para Material Bélico Aeroespacial, foguetes e munições de 40 a 155 milímetros e suas embalagens.
No local, são produzidas munições para morteiros 60, 81 e 120 milímetros, para canhões de 90 milímetros e para obuseiros 105 e 155 milímetros; motor foguete SBAT 70 M4B1 e cabeças de guerra AP e AC.
Não é a primeira vez que a empresa registra um grande acidente na cidade. Em março de 1944, uma oficina da fábrica explodiu matando 14 trabalhadores.
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