quinta-feira, 23 de junho de 2016

Bandos de ladrões (de casaca) assaltaram o Brasil de norte a sul



Charge do Junião (juniao.com.br)

Pedro do Coutto

Lendo a edição de quarta-feira de O Globo, passamos a ter, mais do que a impressão, a certeza de que, nos últimos anos bandos organizados de ladrões de casaca assaltaram nosso país de norte a sul, não escapando praticamente setor público algum. Esta perplexidade emerge especialmente das reportagens de Gabriela Valente, Paulo Celso Pereira, Chico Otávio e Juliana Castro, e de Isabel Braga, Letícia Fernandes e Maria Lima. Isso no primeiro caderno.

E no segundo caderno? Neste deparamos com o superproblema da proposta de recuperação judicial da OI, um rombo da ordem de 65 bilhões de reais afetando 2.980 cidades, pouco mais da metade dos 5 mil e 600 municípios brasileiros. A reportagem de Daniele Nogueira, Danilo Fariello, Glauce Cavalcanti, Júlia Cole, Ramona Ordonez e Renan Setti ilumina o panorama extremamente crítico da empresa com fortes reflexos no sistema nacional de telefonia fixa. O que está acontecendo com o Brasil?

TUDO DOMINADO – Bandos organizados, e também desorganizados, tomaram de assalto a economia pública do país. E explodiram a maior parte das pontes sobre as águas revoltas que separam a honestidade da desonestidade, causando prejuízos imensos, cuja recuperação vai demandar pelo menos duas décadas, com previu o ministro Henrique Meirelles em relação à retomada do desenvolvimento econômico e social.

A esfera social sofreu as consequências mais intensas, refletidas e represadas no profundamente negativo fenômeno do desemprego. Pois o dinheiro público, de fato, foi transferido dos legítimos interesses públicos para os bolsos dos ladrões, inclusive em contas instituídas de forma disfarçada em bancos no exterior e trustes operados por fundos financeiros.

CONCENTRAÇÃO DE RENDA – Um dos resultados desse verdadeiro assalto em série foi o de ter fomentado e ampliado ao máximo a concentração de renda. E não para sua redistribuição prevista entre os valores cristãos.

Ao invés de respeitar esse princípio humanístico, ocorreu uma voragem avassaladora, comprometendo líderes políticos, chantagistas, intermediários eternos ligados ao processo de poder, uma subtração direta e indireta dos recursos públicos. Por esse caminho, explica-se bem a falta de atendimento no campo da saúde pública, a falta de repasses financeiros legalmente previstos à educação, as lacunas de sempre na segurança pública.

Para se dimensionar bem a gravidade do sistema corrupto, basta dizer que, no primeiro plano, a vida humana depende da saúde, da segurança, do saneamento básico e da educação.

OUTROS VALORES – O conjunto essencial desses valores foi substituído pela fraude, pela extorsão, pela conivência do crime continuado. Tem-se a impressão, como passam as reportagens de O Globo de quarta-feira, que não se adquire nada nos serviços públicos sem que deixe de ser acrescentada a importância chamada “o por fora”.

Da mesma forma não se contrata obra alguma, seja de que dimensão for, sem que comissões que irrigam os canais da corrupção sejam pagas a alguns e, portanto, cobradas da sociedade brasileira como um todo.

FACES OCULTAS – Os ladrões, até a Operação Lava-Jato, tinham suas faces ocultas e seus nomes não apareciam nos jornais, revistas, emissoras de televisão. Agora, com suas identidades reveladas, passaram a ser reconhecidos pela opinião pública. Suspeitas de ontem transformaram-se nas certezas de hoje.

Um avanço, sem dúvida. Uma forma de estancar milhares de novos roubos. Mas os totais roubados dificilmente poderão ser reembolsados. Milhares de ladrões, infelizmente, saquearam 204 milhões de pessoas. Pois esta é a população brasileira que precisa recuperar, pelo menos a esperança.

Posted in P. Coutto

Nenhum comentário:

Postar um comentário