24/04/2015 09h10 - Atualizado em 24/04/2015 13h23
Luiz Felipe Falcão e Roberta Oliveira
Do G1 Zona da Mata
Equipes estiveram em quatro bairros de Juiz de Fora (Foto: Polícia Civil/Divulgação)
A Polícia Civil de Minas Gerais realizou a Operação "APUB” simultaneamente em Belo Horizonte e em Juiz de Fora nesta sexta-feira (24).
O objetivo foi localizar integrantes de uma quadrilha de estelionatários que aplicava golpes em professores universitários aposentados em Minas Gerais e no Rio de Janeiro há pelo menos dois anos. A estimativa da polícia é que a quadrilha tenha arrecadado cerca de R$ 5 milhões.
De acordo com balanço parcial divulgado no final desta manhã, 17 pessoas foram presas e foram apreendidas duas armas, um carro, joias, dinheiro e outros objetos não especificados. Um homem apontado como um dos chefes da quadrilha foi preso em casa, no Bairro Pindorama, em Belo Horizonte.
De acordo com a assessoria da Polícia Civil, em Belo Horizonte, o nome “APUB” se refere à Associação dos Professores Universitários do Brasil, instituição à qual a maioria das vítimas era associada. Segundo a polícia, os golpistas simulavam serem advogados de ações judiciais das vítimas e comunicavam que haviam tido sucesso nas ações. No entanto, eles alegavam que era necessário depositar valores para o levantamento da quantia depositada em juízo.
Os levantamentos apontam que a quadrilha conseguia lucrar entre R$ 2 mil e R$ 4 mil, diariamente, com o golpe. Somente no período de oito meses em que as investigações transcorreram, o valor total chegou a R$ 1 milhão, considerando-se apenas os casos em que as vítimas registraram ocorrências policiais. De acordo com a Polícia Civil, a estimativa é que a quadrilha tenha arrecadado cerca de R$ 5 milhões. Uma das vítimas contou ao MGTV que teve prejuízo de R$ 17 mil.
Os delegados da Regional Leste de Belo Horizonte, Gislaine de Oliveira Rios Xavier e Rafael Lopes de Azevedo estão em Juiz de Fora para coordenar a operação.
A delegada explicou que o ponto de partida foram denúncias recebidas em Belo Horizonte. “As vítimas nos procuraram para falar sobre o golpe. Nós percebemos a semelhança, juntamos os inquéritos, iniciamos as apurações e chegamos a Juiz de Fora”, afirmou.
"É um estelionato que eles estão praticando há muito tempo. Muitas vítimas não registram, então não sabemos quantas vítimas são no total", explicou o delegado Saed Divan, que é chefe do 4º Departamento de Polícia Civil de Juiz de Fora.
Em nota enviada ao G1, o Sindicato dos Professores de Universidades Federais de Belo Horizonte e Montes Claros (Apubh) informou que apoia a operação da Polícia Civil realizada nesta sexta-feira, que atingiu os filiados da instituição. “Esta ação do sindicato contribuiu para evitar que mais professores fossem lesados pela quadrilha e também reflete o seu compromisso com o zelo pelo bem estar de seus filiados”, afirmou o texto assinado pela diretoria do sindicato.
Polícia Civil esteve em uma casa no Bairro Quintas das Avenidas (Foto: Reprodução/ TV Integração)
Operação
A operação policial em Juiz de Fora contou com aproximadamente 100 policiais civis, sendo 80 deles da equipe local, para o cumprimento de 22 mandados de busca e apreensão e 25 mandados de prisão em diversas regiões da cidade. Em Belo Horizonte, uma equipe de 10 policiais atuou no cumprimento de um mandado de prisão e três de busca e apreensão.
Em Juiz de Fora, foram apreendidos documentos, armas e drogas nos locais vistoriados. As equipes foram para a Região Integrada de Segurança Pública (Risp), no Bairro Nova Era, onde serão contabilizados os materiais apreendidos. Um dos suspeitos de liderar o grupo foi detido no Bairro Quintas das Avenidas. Durante a operação, as equipes também estiveram em endereços nos Bairros São Geraldo, Santa Luzia e Ipiranga.
Os policiais saíram de madrugada para cumprir os mandados de prisão e busca e apreensão. O homem preso em Belo Horizonte como um dos chefes da quadrilha tinha em casa um computador e documentos. Em seguida, os policiais foram até um escritório onde funcionava uma seguradora e uma financeira na região central. De acordo com a investigação, era um dos locais onde os suspeitos conseguiam informações sigilosas de clientes da seguradora, que acabavam virando vítimas.
Prejuízo das vítimas
Segundo as investigações, um golpista ligava para a vítima, identificava-se como gerente de um banco federal e dizia que havia uma quantia disponível. O golpista informava que para receber seria necessário contratar um advogado, que era indicado por um suposto gerente, e pagar honorários ao falso profissional que iria desbloquear um valor, que nem existia.
Uma mulher, que preferiu não se identificar, como caiu no golpe. “O meu marido e muitos professores entraram na Justiça contra uma universidade há mais de dez anos e tinha esta ação lá, realmente de reajuste no salário. Já tinha bastante tempo, quando recebemos a ligação de uma pessoa que se apresentou como doutor Vicente, dizendo que ganhamos a ação e que, para receber, teríamos que fazer um depósito urgente”, narrou a vítima.
Um dos suspeitos presos em Juiz de Fora pela Polícia Civil (Foto: Reprodução/ TV Integração)
A Polícia Civil teve autorização judicial para gravar as ligações. Em uma das escutas, um dos estelionatários ameaça uma vítima idosa que afirma não ter condições de pagar o que eles pedem. “Ah, a senhora vai ver se dá conta? Então, eu vou retirar o depósito da senhora lá. Porque aqui não posso ser assim não, senhora. Eu não posso não. Eu tenho mais gente aqui pra receber. Entendeu? A senhora vai perder o seu dinheiro porque eu estou perdendo o meu tempo e a senhora, o da senhora”, reforçou o golpista.
Um professor universitário afirmou que os golpistas tinham dados reais e, por isso, confiou no que diziam. “Eles só falavam coisas que coincidiam com a realidade e que não são públicas. Como que eles ficaram sabendo que eu tinha processo na associação docente?”, afirmou.
Ele explicou que chegou a fazer empréstimo consignado em um banco para conseguir pagar os supostos honorários dos advogados. “Eu depositei cerca de R$ 14 mil, mas o meu prejuízo foi de R$ 17 mil porque eu tive que cobrir esse rombo no orçamento e fiz um empréstimo consignado de R$ 15 mil para pagar juros de 24%”, comentou.
O presidente da Associação de Servidores da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) disse que pelo menos 19 pessoas denunciaram o golpe. “Nós temos exemplos de técnicos-administrativos e professores universitários que caíram no golpe”, disse.
Sindicato apoia operação
O Apubh informou que nos últimos meses cerca de 30 professores aposentados filiados foram vítimas da quadrilha que oferecia facilidades para liberação de créditos judiciais de ações. “Em todos os casos os golpistas aproveitaram-se do acesso público às informações das ações. De acordo com o relato dos professores, a quadrilha também sabia qual era a agência bancária do professor e até mesmo o nome do gerente, conferindo uma certa credibilidade ao golpe”, diz a nota assinada pela diretoria da instituição enviada ao G1.
Diante do uso da imagem da instituição, o sindicato tomou providências. Como a quadrilha usava o nome da Apubh, o sindicato registrou um Boletim de Ocorrência (BO) na Delegacia Especializada de Falsificações e Defraudações e orientou os filiados para que adotassem o mesmo procedimento, caso fossem vítimas ou sofressem tentativa do golpe, conforme informou o sindicato.
Ainda segundo Apubh, a diretoria forneceu à Polícia Civil todas as informações necessárias, inclusive sobre as ações de comunicação para prevenir os filiados sobre a forma de agir da quadrilha. Além disso, o sindicato orientou os filiados sobre os procedimentos legais para recebimento dos créditos judiciais.
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