quarta-feira, 19 de junho de 2013

Quem saqueia loja incide no Código Penal; quem impede o direito de ir e vir viola a Constituição! A imprensa não pode queimar a Carta como os vândalos queimam o lixo!

19/06/2013 às 5:40

A imprensa brasileira, nessa sua fase criativo-cidadã-participativa, deu para criar categorias com as quais pretende corrigir a realidade para justificar a sua militância. Assim, inventa coisas como “cura gay”, “bolsa estupro” e… “maioria pacífica”. Já escrevi sobre as três e vou me ater um pouco mais sobre essa terceira. A “maioria pacífica” designa as pessoas que estão ocupando as ruas contra o aumento da tarifa de ônibus e que não promovem quebra-quebra e saques nem recorrem a coquetéis molotov para dizer o que pensam — e sobretudo o quanto… deixam de pensar. Esses seriam os lhanos, os mansos de espírito, aqueles a quem deveríamos ser gratos, exaltando as suas virtudes democráticas, com expressões como “Que coisa emocionante! Que coisa bonita! Que bacana!” Ontem, mais de uma vez, fui tomado pela vergonha alheia. Raramente ouvi tanta bobagem em prazo tão curto.

As TVs foram tomadas, assim, por um tom missionário. É como se a Dona Maroca estivesse cobrindo os eventos das praças Tahrir e Taksim. À “maioria pacífica”, opor-se-ia a minoria dos baderneiros, os que saem ateando fogo em tudo o que veem pela frente, depredando prédios públicos, quebrando aparelhos urbanos, querendo briga e confronto. Esses seriam os maus. E esses maus, insistem os criadores de categorias, não representariam aquela maioria de pessoas bem-intencionadas.

Trata-se, lamento, de uma fraude intelectual, em primeiríssimo lugar, e de uma fraude jornalística, dela decorrente, que remete também a uma questão que diz respeito ao ordenamento jurídico, que está sendo incendiado nas redações, como o lixo anda a ser incendiado nas ruas.

A distinção bate, de saída, numa questão de lógica elementar. Se a minoria baderneira não representa a maioria supostamente pacífica que está nas ruas, esses dois grupos juntos formam uma minoria que, por seu turno, não representa a maioria das cidades. É simples, é óbvio, é elementar. De resto, nem maiorias nem minorias podem desrespeitar as leis sem que lhe advenham consequências.

É estúpido!

Cabe perguntar:

1: Que diabo de “maioria (da minoria!!!) pacífica” é essa que impede o direito de ir e vir, que se atribui a licença de paralisar as cidades, que acredita poder impor a milhões de pessoas a sua pauta, a sua agenda, os seus métodos de luta?

2: Que diabo de “maioria pacífica” é essa que aceita se reunir com o secretário de Segurança Pública para conversar, mas jamais para negociar? Que aceita se reunir com o prefeito para conversar, mas jamais para negociar?

3: Que diabo de “maioria pacífica” é essa que arranca do secretário Fernando Grella, por exemplo, o compromisso de que não haveria tropa de choque, de que não haveria obstrução de ruas pela polícia, de que não haveria bala de borracha etc., mas que não deu nada em troca? Não aceitou nem mesmo entregar um itinerário para facilitar o trabalho de segurança. São pessoas que agem como se estivessem apartadas da ordem democrática. No Roda Viva, um dos seus arrogantezinhos sugeriu que o que quer aconteça de ruim em São Paulo é de responsabilidade de Geraldo Alckmin e Fernando Haddad. Afinal, por que eles não revogam o aumento? Bem, uma jornalista e dois “inteliquituais” afirmaram o mesmo ontem…

4: Que diabo de “maioria pacífica” é essa que atribui toda a violência havida na quinta-feira passada à Polícia Militar, sem nem mesmo admitir a parcela de culpa dos vá lá, radicais?

5: Que diabo de “maioria pacífica” é essa que não concede ao prefeito Haddad nem mesmo um prazo, então, para estudar planilhas de custos e, eventualmente, fazer uma sugestão? Não! É tudo ou nada e é agora! Como lembra a professora Janaina Paschoal, num artigo magistral para este blog, eles não sabem ouvir “não” como resposta. Na verdade, eles não sabem ouvir um “talvez”. Birrentos, querem o doce na hora. E fim de papo. Ou é a redução já ou, anunciam, é gente na rua, cidade parada, caos.

Eu tenho uma novidade para os queimadores de Constituição das redações, tratada como se fosse o lixo das ruas. Os bandidos que saqueiam lojas, que depredam patrimônio público e privado, que saem por aí metendo fogo nas coisas incidem numa penca de artigos do Código Penal. Têm de ser presos. Mas esses que vocês chamam “maioria pacífica” violam cláusulas pétreas da Constituição, violam direitos fundamentais.

Esses que estão sendo tratados como heróis por uma penca de más-fés cruzadas (e por muitos inocentes esperançosos) — trato do assunto em outro post — estão estabelecendo novos marcos da luta política no Brasil. Na verdade, trazem para cá, de forma ainda incipiente, táticas filoterroristas que vêm sendo objeto de especulação teórica de alguns chamados neomarxistas, que acreditam que a luta política tem de se dar em duas frentes: a) na desarticulação dos chamados costumes conservadores — e, nesse caso, os principais alvos têm de ser família e a religião (o cristianismo, claro!); b) na desmoralização contínua, permanente, das instituições do estado.

Curiosamente, alguns mal chamados “libertários”, ultraliberais em economia, têm uma agenda muito parecida. Mas isso fica para outra hora.

Eu estou pouco me lixando se essa gente tem ou não consciência do que está fazendo ou falando. O que me interessa é a consequência de suas escolhas para o país. Vejo a sua prática e me pergunto: e se seu método se generaliza e se consagra? NOTA: Ontem, o prefeito do Rio, Eduardo Paes, se propôs a receber o movimento. Resposta: a turma só fala com o prefeito se a polícia soltar três pessoas que estão presas, envolvidas naquela tentativa de linchamento dos policiais na Assembleia Legislativa. 

Noto que, até agora, as ditas lideranças de um movimento supostamente sem líderes não vieram a público para condenar o vandalismo. E não vêm por cálculo. Enquanto essa suposta “maioria pacífica” puder contar com os ditos “radicais” como seus aliados objetivos, sempre poderá posar de moderados, ainda que rasgando a Constituição, sob o aplauso quase unânime da imprensa.

A mesma imprensa que está tendo de se esconder para não apanhar. Ou eles batem, ameaçam, metem fogo.

Isso é fascismo destrambelhado, não democracia!

Por Reinaldo Azevedo

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