31/05/2013
Carlos Chagas
O bate cabeça entre PT e PMDB vem de muito tempo, mas agora piorou. Entre os companheiros, a maioria sustenta que os aliados devem ser levados a definir-se de imediato: ou ficam e votam com o governo, no Congresso, ou saltam de banda, entregando seus ministérios. O que não dá é para o PMDB ficar exigindo o sacrifício de candidatos do PT aos governos estaduais sem a óbvia correspondência numa série de estados.
Os problemas da presidente Dilma não se limitam ao mau relacionamento dos dois maiores partidos de sua base. Os reclamos contra o governo avolumam-se no próprio PT, com boa parte de seus parlamentares culpando ministros e a própria presidente pela falta de unidade de comando político. Sendo 2014 ano de eleições gerais, a previsão é de que a temperatura vai subir ainda mais. Os petistas estão percebendo a possibilidade de eleger menores bancadas que as atuais, caso não disponham de um entrosamento perfeito com o palácio do Planalto.
Indaga-se da possibilidade de um refluxo da crise, duvidando-se de que o ex-presidente Lula disponha de condições para dar ordem unida no seu partido. No caso, apenas a presidente Dilma seria capaz de restabelecer a paz, na hipótese de arregaçar as mangas e dedicar-se a aparar as arestas. Como?
Primeiro dispensando a ministra da Coordenação Política, Ideli Salvatti. Depois, limitando a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, a tratar de assuntos administrativos, sem ingerência nos assuntos políticos. Em seguida, pedindo às suas bancadas a indicação de um nome para exercer ao mesmo tempo o ministério da Coordenação Política e a liderança na Câmara, em linha direta com a presidente.
A pergunta é se Dilma estaria disposta a dividir seu tempo entre a administração e a política. Parece que não. Nunca foi de seu estilo receber e dialogar com deputados e senadores, enfrentando pedidos e reivindicações de toda ordem. Por isso estimula a intermediação das duas ministras.
CONTRA A LÓGICA
Fica difícil entender porque o Congresso admitiu cercear o Ministério Público, atendendo a pretensão dos delegados de polícia de excluir promotores e procuradores de investigações criminais. Deveria prevalecer a regra básica, de que quanto mais investigações de um crime, maiores condições existiriam para sua apuração e a punição dos criminosos. Numa época em que tanto se combate a tal reserva de mercado, deputados e senadores trafegam na contra-mão. As prerrogativas dos delegados são irremovíveis.
PIOR SE DER CERTO
No final da guerra do Pacífico, com o Japão derrotado e as tropas americanas preparando o que seria a mais formidável invasão de um país, imaginando-se quantos jovens americanos seriam mortos ou feridos, o recém-empossado presidente Harry Truman autorizou o uso da bomba atômica. Poupou a vida de centenas de milhares de soldados americanos, ainda que às custas do sacrifício de civis japoneses, em especial crianças, mulheres e velhos.
Perguntaram ao general MacArthur, comandante em chefe que liderava os preparativos da invasão, o que aconteceria caso o lançamento da bomba não desse certo. Irritado, ele respondeu estar muito mais preocupado se a bomba desse certo…
É essa a expectativa que cerca a sucessão presidencial do ano que vem. E se a reeleição da presidente Dilma der certo?
SOBERBA, PRESUNÇÃO E IGNORÂNCIA
Faltando três dias para a inauguração oficial do estádio do Maracanã, completamente remodelado, um promotor público pede sua interdição e a suspensão da partida anunciada entre as seleções do Brasil e da Inglaterra. Uma juíza concede a liminar, na tarde do feriado religioso de ontem, para valer no domingo. Convenhamos, se era para aparecer, melhor teriam feito a juíza e o promotor se pendurassem melancias no pescoço. Não se preocuparam com a repercussão de suas iniciativas no universo do coletivo nacional. Certamente ignoraram os debates do processo do mensalão, onde prevaleceu a teoria do domínio do fato. Claro que a CBF, como sempre, incorreu em monumentais irregularidades. O governo do Rio de Janeiro, também. Acrescente-se outras entidades. Mas imaginar-se acima dos valores da sociedade, dando de ombros para o risco de frustrar milhares de espectadores na antiga capital, milhões de telespectadores no país inteiro, para não falar no planeta, foi demonstração de soberba, arrogância e megalomania. Dois cidadãos, por maior cultura jurídica de que disponham, não podem desafiar a alma nacional, da qual o futebol faz parte. Seria o mesmo de que por conta do aumento de crimes durante o Carnaval, proibissem o desfile das Escolas de Samba, através de uma liminar. Ou porque existem padres pedófilos, impedir as crianças de ir à missa.
O Ministério Público e o Judiciário teriam outras formas para punir a desídia das autoridades esportivas. Preventivamente, estabelecendo multas e até prisão para os responsáveis pela entrega incompleta do estádio. Com muito mais veemência e inflexibilidade caso se verificassem, durante a partida, confrontos causadores de acidentes maiores e menores. Suspender o espetáculo, porém, cujos riscos se debitariam a seus organizadores, significou investir contra o sentimento popular.
Felizmente, liminares concedidas na primeira instância do judiciário costumam ser revistas e cassadas nos tribunais. Pode ser que hoje, sexta-feira, tudo não tenha passado de um pesadelo, e que a juíza e o promotor tenham retornado ao anonimato de onde jamais deveriam ter saído, por decisão de algum desembargador. Claro que com a severa responsabilização das autoridades que deixaram de cumprir suas obrigações. Até dos empreiteiros que não retiraram o entulho das obras conforme o contratado.
Nesse episódio de horror ainda inconcluso, a ironia ficou com a equipe inglesa, já desembarcada no Brasil: “Se não tiver estádio, jogaremos na praia de Copacabana”…
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