quarta-feira, 22 de maio de 2013

Estelionatários fizeram 6.400 vítimas este ano em Minas. Em BH, são registradas 14 ocorrências diárias; polícia admite dificuldade de investigação

22/05/2013
Conto do vigário. Maioria dos golpes é antiga; polícia orienta população a desconfiar de vantagens

ALINE LOURENÇO

Diz o ditado que, quando a esmola é demais, o santo desconfia. No entanto, as promessas de dinheiro fácil e outros aparentes benefícios oferecidos por estelionatários já fizeram, nos quatro primeiros meses deste ano, 6.418 vítimas em Minas Gerais, segundo dados da Secretaria de Estado de Defesa Social (Seds). Isso significa que, a cada dia, pelo menos 53 pessoas caíram no famoso “conto do vigário”. Em Belo Horizonte, foram 1.748 ocorrências, 14 por dia.

O chefe da Divisão de Fraudes da Polícia Civil, Vicente Ferreira, afirma que, mesmo com uma queda no número de registros – no mesmo período do ano passado, foram 64 ocorrências por dia em Minas e 18 na capital –, os dados são preocupantes, principalmente porque há uma grande subnotificação. “As vítimas se sentem envergonhadas e não fazem boletim de ocorrência. Mas a polícia é o braço da sociedade e não seus olhos. Se as pessoas não nos procuram, não temos como investigar essas quadrilhas”.

O certo é que a pouca disposição em denunciar os crimes, seja por constrangimento, medo ou sensação de impunidade, faz com que velhas artimanhas dos estelionatários passem impunes. É caso do golpe da lista telefônica. Em uma busca rápida pela internet, é possível encontrar pelo menos dez reclamações de consumidores mineiros contra os golpistas. No entanto, a Polícia Civil afirma nunca ter registrado nenhuma ocorrência dessa modalidade de crime em Minas.

Vítima. Maria Luiza Donadeli, 43, é dona de uma escola de inglês e caiu no golpe da lista telefônica. O estelionatário se apresentou como representante de uma editora dizendo que ela teria direito a publicar gratuitamente anúncios nos guias fornecidos pela empresa. Após confirmar seus dados pessoais, Maria Luiza assinou um fax que supostamente seria para validar a prestação de serviço. Na verdade, ela assinava uma confissão de dívida de R$ 12.832.

“Depois de alguns dias, uma moça me ligou dizendo que era advogada da empresa. Ela me cobrou o pagamento em 24 horas e disse que, se eu não pagasse, meu nome iria para o SPC e para Serasa. No desespero, acabei aceitando”, conta. Com medo, a empresária acabou não procurando a polícia.

O delegado do 1° Departamento da Polícia Civil, Marcelo Paladino, pede que as pessoas denunciem. “Os crimes por telefone não têm fronteiras. Para apurar, seria necessária a denúncia da vítima para que pudéssemos pedir a quebra do sigilo telefônico”.

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