05 de Abril de 2013 - 07:00
Por JÚLIA PESSÔA
Lá pelos idos dos anos 1980, os Titãs, ícones do rock nacional, já sabiam que há várias maneiras de se matar a fome. Em sua oitava edição, o JF Rock City, iniciado ontem com shows, debates, workshops e palestras, promete alimentar quem anseia por comida, diversão e arte. Além de reunir 17 bandas locais e ter todas as etapas de produção e execução dos shows realizadas por profissionais e casas da cidade, o evento será gratuito, com entradas trocadas por 1kg de alimento não perecível. A meta é arrecadar quatro toneladas de donativos, que serão destinados à Ascomcer.
Segundo um dos organizadores do festival e guitarrista da banda Glitter Magic, Luqui Di Falco, esta é a primeira vez que o festival terá incentivo público, sendo contemplado pela Lei Murilo Mendes. "Antes disso, as entradas eram cobradas para que o próprio evento fosse viável, nunca houve fins lucrativos. A ideia sempre foi abrir espaço para os músicos da cena local, incentivar a cultura da cidade. Agora, além da contrapartida cultural, poderemos ajudar outras pessoas que precisam."
Para os músicos, o ponto fundamental do festival é a oportunidade de mostrar a produção autoral das bandas da cidade, pouco priorizada na programação das casas noturnas. "Em cidades grandes como São Paulo, o público parece estar mais aberto ao repertório das bandas locais, e aqui existe uma certa resistência, que não sei de onde vem, já que a cidade é um celeiro de músicos talentosíssimos. Acho que é cultural e vem dessa mania de o povo brasileiro valorizar o que vem de fora", explica Dê Monteiro, vocalista da Hard Desire.
Sob o mesmo argumento, o guitarrista da Suite Bar, Leandro Costa, que tocou na noite de abertura do evento, defende que o intercâmbio entre as bandas é um ponto chave para o fortalecimento da música local. "O festival é um momento em que estaremos juntos, nos mesmos palcos, defendendo a mesma causa. É um passo grande para que as bandas continuem batalhando por seu espaço e consolidando as conquistas juntas, para o crescimento da música da cidade como um todo".
Del Guiducci, vocalista do Martiataka, acrescenta que é só no "tête-à-tête" propiciado por iniciativas como esta é que se pode, de fato, pensar na construção de uma "cena" para a música local. "Não adianta mais ficar jogando a culpa nas casas noturnas ou na falta de interesse do público ou das rádios. São as bandas que têm de criar alternativas para atrair esse interesse e abrir novos espaços. As bandas têm que conhecer a produção umas das outras, se cruzar e parir alguma coisa realmente viva. A primeira coisa a se fazer é apostar mais no seu próprio taco, tocar seu repertório autoral, tentar parar com esse negócio de cover. É o primordial. Não existe 'cena' local sem banda tocando som próprio."
Em coro com Del, o guitarrista da folk metal Hagbard, Danilo "Marreta", sugere a tecnologia como grande aliada nesta empreitada. "As mídias sociais podem facilitar muito o compartilhamento de nosso trabalho, e a tecnologia facilita a própria produção musical e de vídeos. É preciso arregaçar as mangas e tirar proveito disso."
Para o baterista João Cordeiro, além de dar suporte ao trabalho feito agora, o JF Rock City larga na frente ao investir na formação de jovens músicos com oficinas, workshops e palestras. "É uma resposta a esta cultura de tributos que tem prevalecido pensando em quem vão ser os artistas da cidade amanhã, promovendo o diálogo com quem já tem conhecimento não apenas musical, mas também de mercado", opina o músico, que ministrou ontem uma oficina de bateria.
Também com o olhar no futuro, os roqueiros planejam a expansão do festival, que já é um dos maiores de Minas Gerais. "No formato atual, conseguimos chegar a um patamar em que todos saem ganhando: o público, que tem um evento de qualidade gratuito, os músicos, que têm um espaço para mostrar seu trabalho, e os pacientes que receberão os donativos. Temos ideia de fazer eventos ao ar livre e talvez trazer bandas maiores para abertura ou encerramento. Só dependemos que o público continue comparecendo e com a mesma empolgação que nós estamos", afirma Luqui.
As atrações de hoje começam à tarde, com workshop de guitarra e harmonia com Claudimar Maia. Às 18h, Maurício Ávila dá oficina de produção musical. Às 19h45, Jorge Corrêa ministra palestra sobre backline e direção de palco. O rock começa às 21h30, no Bar da Fábrica (Praça Antônio Carlos s/ n - Centro), com show da Suicide Control, escolhida pelo público via internet e única banda de fora, abrindo a noite com metalcore vindo de Cataguases. Na sequência, apresentam-se Kymera, Hagbard, Insannica e a lendária Tuka's Band.
No sábado, também no Bar da Fábrica, às 21h30, é a vez das apresentações da Neurotica, também eleita on-line, seguida por Bad Bloxx, Hellbrothers, Martiataka e Acoustic'n Roll. No último dia de festival, o domingão começa em esquema de matinê. O Cultural Bar abre as portas às 16h e às 17h30, Los Kactus sobem ao palco da casa, passando a bola para Hard Desire, que vai do metal ao blues, Glitter Magic que flerta com o heavy metal e o hard rock, a cantora Natalie Mendes, que participou do The Voice, da Rede Globo, e o encerramento fica por conta da Balbeck, com o tradicional rock'n'roll, às 22h.
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