14/03/2013
Renê Dióz
Do G1 MT
Inquérito instaurado pelo Ministério Público Estadual de Mato Grosso revela que a Ferrari Spider utilizada pela empresa Telex Free em uma de suas campanhas sobre "cases de sucesso", na qual um ex-vendedor ambulante aparece como proprietário do veículo de luxo, consiste na verdade em um carro financiado pelo Banco do Brasil em nome de um estelionatário do estado do Rio Grande do Sul atualmente em liberdade provisória.
Empresa nega atuação por esquema de pirâmide (Foto: Reprodução / TVCA)
Avaliada em cerca de R$ 2,5 milhões, a Ferrari Spider figura em um dos inúmeros videos atualmente disponíveis na internet com o intuito de divulgar a empresa Telex Free, investigada em pelo menos cinco unidades da federação por engendrar suposto esquema de pirâmide financeira, modalidade vetada pela legislação.
No vídeo, o ex-vendedor ambulante Inocêncio Pereira Reis Neto, conhecido como "Pelé Reis", conta uma história de superação. Natural de Nanuque (MG), ele recorda sua mudança em 1998 para o estado do Espírito Santo, cuja capital Vitória abriga a sede da Telex Free no Brasil. Passando por dificuldades financeiras, no novo estado Pelé chegou a vender queijo na praia e também montou uma barraca de churrasquinho.
Depois que começou a trabalhar na divulgação da Telex Free, sua vida mudou. Relata que conseguiu comprar um apartamento à beira-mar em Vitória, num lugares mais "badalados". Chegou até a trocar de carro duas vezes em quinze dias e, numa viagem ao município de Novo Hamburgo (RS) para um evento da empresa onde trabalharia para orientar os divulgadores, teria recebido proposta de um conhecido para comprar uma Ferrari à disposição em uma loja da cidade.
Dizendo-se tentado pela visão do veículo vermelho, Pelé conta no video que não resistiu e chegou a perder um vôo marcado para ver o carro. Quando deu por si, lembra, já estava pagando uma parcela da Ferrari.
Com este depoimento, o ex-ambulante faz um apelo para os internautas para que acreditem na lucratividade prometida pela Telex Free. "Se o Pelé conseguiu, por que eu não?", convida a refletir.
Inquérito
A história contada por Pelé não corresponde à apurada pelo Ministério Público (MP) por meio de inquérito ainda em andamento. Segundo a promotora Fernanda Pawelek, da comarca de Lucas do Rio Verde (município a 360 km de Cuiabá), a Ferrari utilizada na propaganda não é de propriedade de Pelé Reis.
Na apuração sobre a empresa, o MP chegou à informação de que o veículo se encontra em alienação fiduciária (ou seja, financiado) pelo Banco do Brasil em nome de uma outra pessoa, natural de Passo Fundo (RS), a qual atualmente encontra-se em liberdade provisória pelo crime de estelionato. Aliás, o próprio Inocêncio é investigado pelo mesmo crime, segundo o MP.
"Se o negócio é tão rentável como eles dizem, porque é que eles precisam se valer de uma mentira para vender esse negócio?", questiona a promotora Fernanda Pawelek.
A reportagem do G1 não conseguiu contato com Inocêncio Pereira Reis Neto para comentar a apuração do MP. Contudo, internamente, os líderes da Telex Free já comentam as investigações em andamento, defendendo a idoneidade da empresa perante os próprios investidores e potenciais divulgadores em reuniões de recrutamento.
Em uma delas, realizada recentemente, um dos representantes pela divisão de marketing da empresa, Carlos Costa, aponta num mensagem em video que as investigações são benvidas para "separar o joio do trigo" e ressaltar o lado positivo da empresa, que se diz séria e sólida.
Já um palestrante chega a desdenhar das investigações do MP, sugerindo que os promotores têm sanha por investigar a Telex Free porque seus divulgadores ganham muito mais dinheiro que eles, que tiveram de estudar para tornarem-se membros da instituição.
Ao G1, o advogado da Telex Free, Horst Fuchs, já negou veementemente que o negócio consista em pirâmide financeira. “Nós temos hoje uma forma de bonificação, uma forma de remuneração aos divulgadores da Telex Free que premia o desempenho, assim como qualquer vendedor, por exemplo, é premiado de acordo com o que ele vende”, argumentou.
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