quinta-feira, 14 de março de 2013

Menino é arrastado por enxurrada e morre debaixo de carro durante chuva

13 de Março de 2013 - 20:20 - Juiz de Fora
Tragédia aconteceu no Bairro Santa Luzia, quando garoto de 8 anos voltava da escola com seu irmão

Por Sandra Zanella e Eduardo Valente (Colaborou Bárbara Riolino)

Um menino de 8 anos morreu após ser arrastado por uma enxurrada e ficar preso embaixo de um carro, no Bairro Santa Luzia, Zona Sul, durante a tempestade que caiu na tarde desta quarta-feira (13). Esse foi o primeiro óbito na cidade, este ano, em virtude das precipitações. No entanto, a Defesa Civil informa que aguarda inquérito da Polícia Civil para incluir a morte oficialmente nas estatísticas do período chuvoso. Kauan das Dores da Silva voltava da escola na companhia do irmão mais velho, 16, quando foi carregado pela força das águas, por volta das 17h15, na Rua Humberto Berzoini. A chuva ainda causou estragos em vários pontos do município, principalmente nas regiões Sul, Central e Cidade Alta. 

Minutos após ser arrastando, Kauan foi localizado embaixo de um Gol por policiais militares da 32ª Companhia, situada a poucos metros do local, que foram acionados pelo irmão da vítima. Com ajuda de populares, o veículo foi levantado, e a criança retirada, já desacordada. No trajeto até o Hospital de Pronto Socorro (HPS), a PM contou com a ajuda de uma ambulância de Matias Barbosa, que continuou o atendimento tentando reanimar a vítima. No entanto, Kauan não resistiu e teria chegado morto ao hospital. 

"Sempre busco meu irmão na aula. Tinha enxurrada de um lado da rua e parei para procurar meu chinelo. O Kauan tinha ido para o outro lado, mas voltou, não sei por quê. Fiquei procurando, gritando o nome dele, até que falaram que viram um menino sendo levado pela correnteza. Fui na polícia, e o encontraram debaixo do carro. Uns seis ou sete homens juntaram para levantar o veículo, mas não conseguiram tirar ele da primeira vez", lamentou o adolescente entre lágrimas e muito abalado, ao lado de familiares no HPS. 

Um dos policiais que prestaram socorro, sargento Paulo Cezar Barbosa, contou que o motorista do Gol estava prestes a arrancar com o carro, porque não teria percebido a presença do menino, mas foi impedido. "A enxurrada era muito forte. Quando o resgatamos, ele já estava inconsciente, e não conseguimos reanimá-lo". Mãe de outros dois filhos, 2 e 13, Carla Aparecida das Dores, 33, ainda tentava assimilar a perda precoce de Kauan, enquanto se preocupava com o estado emocional do filho adolescente, que acompanhou de perto a morte do irmão. Segundo ela, Kauan estudava na Escola Municipal Professor Oswaldo Velloso, na Rua Chácara, também no Santa Luzia, mesma região em que a família mora. "As enchentes no Santa Luzia são uma vergonha. Toda vez que chove, sobe muita água. Aí aconteceu essa tragédia."

Queda de árvore e pontos de alagamentos
De acordo com a estação automática do Instituto Nacional de Meteorologia (Inmet) nesta quarta-feira, em menos de duas horas, choveu na cidade um total 27,8 milímetros. No acumulado de março, já são 196,9 milímetros de precipitação, o que corresponde a 99,4% dos 198 milímetros esperados para todo o mês conforme a média histórica do período. Os ventos chegaram a 77 km/h. No condomínio Chalés do Imperador, na Cidade Alta, um poste partiu ao meio após a queda de uma árvore sobre a fiação elétrica na Rua Doutor Gilson Salomão. De acordo com moradores do local, uma moto que estava embaixo da estrutura foi danificada. Outros dois postes foram atingidos, causando corte no abastecimento de energia na rua. Ninguém se feriu. 

Em toda a cidade, pontos de alagamentos em vias movimentadas resultaram em retenções no trânsito. Na Rua Osório de Almeida, Bairro Poço Rico, Zona Sudeste, veículos tiveram dificuldade para transitar, devido ao grande volume de água. Situação semelhante foi observada na Rua Santo Antônio, esquina com a Rua Oscar Vidal, Avenida dos Andradas, e Avenida Rio Branco, na altura do Bairro Bom Pastor. 

Na Rua Sérgio Alvim Albuquerque, Bairro Sagrado Coração de Jesus, Zona Sul, pelo menos três residências ficaram alagadas durante a chuva. A dona de casa Geralda da Conceição Barbosa, 27 anos, resolveu abandonar o imóvel, com os filhos, após os seis cômodos serem atingidos por água e lama. "Minha casa foi tomada em menos de um minuto. Foi muito rápido." Na construção ao lado, o policial militar Darlan de Aguiar Alves, 47 anos, precisou quebrar parte do muro da varanda para escoar a água acumulada. "É a segunda vez que isso acontece esta semana", informou.

Transtornos também foram registrados na Vila Olavo Costa, região Sudeste, onde um ônibus da Viação São Cristóvão ficou preso em um buraco formado após a tempestade. Segundo moradores, o local está sem asfalto porque, atualmente, passa por obras de melhorias da Cesama. A terra colocada para cobrir a falha teria sido retirada pela força da água.

Segundo a Defesa Civil, em decorrência da forte chuva, o órgão registrou nove ocorrências, das 17 de quarta-feira (14) até às 9h18 desya quinta-feira. Destas duas na Zona Leste, uma na Oeste, uma na Norte, três na Zona Sul e duas na Sudeste. Dentre as ocorrências atendidas houve desabamento de muro de divisa no Cruzeiro do Sul, no Milho Branco uma casa ficou parcialmente destelhada e Na Vila Olavo Costa, uma família foi orientada a não dormir no imóvel após constatada uma trinca na parede da casa.

Arco-íris e céu furta-cor
Um arco-íris se formou após as chuvas, já no início da noite. No mesmo momento, os juiz-foranos foram surpreendidos por uma coloração incomum do céu, que variava do amarelo ao vermelho. Segundo o meteorologista do Inmet, Manoel Rangel, este evento é mais comum quando o tempo está seco, o que indica sujeira na atmosfera, mas como ocorreu após uma chuva, ele descarta totalmente esta possibilidade. "O fenômeno se formou pelo ângulo no qual os raios solares incidiram sobre as partículas de água ainda presentes na atmosfera que formaram também o arco-íris."
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