sábado, 16 de março de 2013

Exclusiva: traficante "classifica" os "negócios", chama atenção das famílias e afirma que "matar é preciso"

15/03/2013 22:17:24 (MT)
José Ribamar Trindade
Redação 24 Horas News

“Ou paga ou morre”. A frase é de um traficante. E foi assim que quase 300 pessoas foram executadas no ano passado e tiveram um final trágico. A maioria estava devendo para traficantes e recebeu o que os líderes chamam de “basta”. “Tá na hora”, ou “já passou da hora”.

A matança é uma espécie de "matar é preciso", É a pena de morte decretada. A realidade é uma só: quem entra no submundo da droga, como usuário ou como pequeno ou médio traficante podem acabar numa lista negra fatal. Aqueles que pegam drogas para revender – e muitos também são usuários – não dão conta de pagar e entram numa “lista negra” chamada no mundo das drogas de “acerto de contas” ou “queima de arquivo”. Prestem bem atenção: hoje não são os traficantes que vão atrás dos usuários, são os usuários que correm atrás dos traficantes. Outra triste realidade: Cuiabá e Várzea Grande tem muita droga, e cada dia chega mais.

Um traficante atuante, Pedro (nome fictício), de 36 anos, aceitou conversar com a reportagem do Portal de Notícias 24 Horas News para contar como as pessoas são escolhidas para morrer e como funcionam os “negócios” do tráfico, cujo “poderoso chefão” nunca aparece. Muitos deles morrem de velho ou de doenças, sem nunca serem vistos, pois nunca “cai”, pois, muitas vezes, recebem proteção até da Polícia, com uma “blindagem” especial.

No ano passado, das quase 400 pessoas assassinadas apenas em Cuiabá e Várzea Grande, pelo menos 295 vítimas eram usuárias de entorpecentes ou tinham algum envolvimento com crimes, principalmente roubo ou tráfico de drogas e por isso foram executadas. Na maioria dos casos as vítimas deviam para traficantes do terceiro e quarto escalões.

Pedro começa revelando e até chamando a atenção dos usuários de drogas e de suas famílias. “Hoje, ao contrário de ontem, não somos nós que vamos atrás dos usuários, mas sim os usuários que correm atrás da gente. Isso a Polícia também já começou a perceber, por isso nós também estamos mudando de estratégia”, menciona o traficante.

Ele (Pedro), ainda alerta as famílias para que fiquem mais atentas para a movimentação de seus filhos. “Meu amigo, não sei se você já cheirou pó, ou se já bebeu uma cerveja. Beba uma cerveja para você ver. Até sua voz muda, isso com um mínimo de álcool. Agora imagine você cheirar uma carreirinha de pó. Você muda completamente. E se você faz isso pelo menos uma vez por dia, sua mudança é ainda mais radical. Só não vê quem não quer”, alerta Pedro,que completa: " Agora o pior é que os jovens estão usando cocaína e bebendo uísque com energético. Isso é uma bomba. E no dia seguinte os efeitos são terríveis. Será que os pais não percebem isso?”

Com a certeza de que não seria identificado, nem mesmo o bairro onde mora, Pedro foi soltando a língua. Ele faz revelações surpreendentes, mas jamais revela quem são os que ele mesmo chama de poderosos que estão mais acima dele. E tem mais: Pedro pediu para que não o questionássemos nada sobre policiais e altas autoridades: políticos e do Judiciário.

“O traficante como eu, geralmente não sabe quem são os viciados. Sabemos para quem vendemos para revenda. Temos nossos clientes, é claro, mas quem está matando e quem está morrendo é outra história”, revela.

Pedro é bem, direto. “Nós matamos quem compra e não paga. E geralmente esse pequeno ou médio traficante também é viciado. Ou seja, ele cheira mais do que vende e depois não dá conta de pagar. Ele recebe uma chance, mas na segunda ou na terceira ele já passou da hora. É a lei do tráfico. Se não agimos, os homens mais acima também vão deixar de vender para a gente, ou também manda nos executar sem dó nem piedade. Prestem atenção, é sem dó nem piedade. Portanto, não entre no nosso mundo”, volta a alertar.

Pedro dá uma explicação sobre a atuação do pequeno é médio traficante que ele chama de “atravessador”, e não mula como muita gente especula. “Mula é o que cara que vai buscar, ou é o encarregado de passar com o carregamento de droga. Esses traficantes daqui são meros atravessadores que compram para vender ou para revender. Deu para entender?”, questiona.

O traficante que é grande, mas alega não ser tão grande, revela ainda que as maiores vítimas de execução, como ele classifica, são do terceiro ou do quarto escalões. “Eu sou do segundo escalão. Eu compro do primeiro escalão. O pessoal que está morrendo é mais do terceiro e do quarto escalões”, confessa.

E Pedro explica com exclusividade. “Se os bandidos invadem uma agência bancária que não tem circuito interno de televisão e o assalto não é filmado, o seguro não paga o prejuízo do banco. Fica uma espécie de desconfiança de que o assalto não aconteceu. O cara me compra 300 gramas de pó e não paga, o cara que me vendeu a droga não quer nem saber se eu levei calote. Para provar que eu fui roubado, eu tenho que matar o cara, mesmo assim eu só ganho um prazo maior para pagar, mas eu tenho que pagar do mesmo jeito e o quanto antes”.

O traficante explica que nem ele, nem o cara mais acima dele recebem objetos roubados como moeda de troca. A exceção é com ouro. Ou seja, se o cara abaixo dele costuma receber objetos que os ladrões roubam e vendem para comprar drogas, ou pagam a droga nas bocas com joias, eles tem que mandar derreter.

O primeiro e o segundo escalões, depois do dinheiro, só recebem em ouro. Nada de joias. “Isso. E por isso os caras mais abaixo caem com mais facilidade. E outra coisa, eles vendem mais fiado do que a gente. Por isso eles estão morrendo mais. Explico. Os caras de baixo, geralmente também são viciados e costumam dividir na hora da parada. Assim eles não levantam dinheiro para pagar as dívidas. Ou ainda eles vendem muito fiado. Os caras não pagam e eles mesmos matam, ou mandam matar. Posso assegurar que mais de 90% das vítimas das execuções de usuários de drogas, os matadores e mandantes estão no terceiro e no quarto escalões do tráfico”.

Pedro não queria mostrar em um determinado assunto porque ele vai mexer diretamente com a Polícia, mas acabou aceitando falar sobre o “mercado” de drogas somente em Cuiabá e Várzea Grande. Aliás, ele falou, mas não disse realmente nada: “Só posso dizer que Cuiabá e Várzea Grande estão entupidas de drogas consumidas por todas as classes sociais. Entendeu?".

Para finalizar, Pedro fez mais uma observação que ele classifica como muito importante. Observação que pode servir para análise mais profunda da população, da imprensa, das autoridades e da própria Polícia: existe uma execução atrás da outra. "Você já viu um grande traficante ser preso nos últimos tempos? Você já viu um grande traficante ser executado nos últimos tempos? É por isso que podemos destacar que os usuários que compram e não pagam, e os traficantes do terceiro e quarto escalões que estão passando da hora. Por isso que a própria sociedade e até a Polícia sempre comenta: só estão morrendo vagabundos”.
Extensas planícies e amplos planaltos dominam a área, a maior parte (74%) se encontra abaixo dos seiscentos metros de altitude.

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