LUCAS SIMÕES
FOTO: ALEX DE JESUS
Denúncia. Comércio ilegal é feito à luz do dia, próximo de unidades policiais
Sentado em um caixote de madeira na rua Saturnino de Brito, ao lado da rodoviária, no centro da capital, um homem de camiseta e bermuda passa despercebido com uma cartela azul nas mãos. Ele olha para os lados e distribui os comprimidos a um cliente, enquanto conta notas de dinheiro com tranquilidade. "Esse é o azulzinho melhor que o Viagra original. Pode até tomar dois, porque vai fazer sucesso", empolga-se o vendedor. É em tom de brincadeira que o homem, conhecido como Toninho, lidera diariamente o comércio do estimulante sexual Pramil, que tem a venda proibida no país e pode causar a morte em pessoas com problemas cardíacos.
Junto com ele, quatro agenciadores vendem o medicamento em plena praça Rio Branco (praça da rodoviária). A 200 m do local, está a Região Integrada de Segurança Pública (RISP). A reportagem esteve no local por dois dias e constatou que o medicamento pode ser encontrado facilmente avulso, ao preço de R$ 2, ou em cartelas de 20 compridos, que custam R$ 50. Cada pílula de Viagra, primeiro medicamento do gênero a ser comercializado legalmente no país, é vendida por cerca de R$ 30 em drogarias.
Apesar de negar, o grupo age junto, dividindo tarefas. Nervoso e agitado, um dos homens, de 45 anos, é responsável por "vigiar" policiais militares. Mesmo com uma viatura parada na praça, o vendedor de cabelos grisalhos se movimenta a passos rápidos e repassa dez cartelas de Pramil a um cliente. "Tem que ficar de olho nos PMs. Se pinta algum problema, aviso os caras", diz.
Conforme Toninho, o grupo se concentra na praça entre 9h e 15h. "Fiz clientes fixos que vêm toda semana. Tem dias que consigo tirar até R$ 300", diz. Questionado sobre a qualidade do produto, ele dá garantias. "Se tiver problema, (você) volta aqui em dois dias que eu pago o seu hospital. Pode me procurar sem erro", diz, em tom debochado.
Quando há pouco movimento na praça, a venda se torna explícita. Sem constrangimento, um homem, que se identifica como Paulo, oferece o "azulzinho" aos gritos. Mas, ao ser questionado sobre a venda do remédio proibido pela Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), ele desconversa. "Só vendo relógios. Imagina se vou envolver com crime?".
Impasse. A Polícia Militar alega não ter conhecimento da venda de Pramil na praça Rio Branco. "Se recebermos a denúncia, vamos apurar", disse a tenente Débora Santos, do Comando de Policiamento da Capital. Já a Secretaria Municipal de Saúde informou que só faz fiscalizações em estabelecimentos fechados.
Remédio pode levar ao infarto, alerta médico
A venda do Pramil é proibida no país pela Agencia Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) desde setembro de 2006. A decisão foi tomada, segundo o órgão, porque o produto, fabricado no Paraguai, contém alteração no sal, o que pode trazer riscos a pacientes com problemas cardíacos, possibilitar infartos e até casos de hemodiálise. Por isso, a venda é considerada contrabando e pode gerar prisão de um a quatro anos. Mesmo quando o medicamento é legalizado, médicos alertam para a importância da orientação ambulatorial antes do consumo.
Segundo o urologista Francisco Guerra, do hospital Urológica Minas Gerais, o consumo do Pramil é perigoso. "Ele prejudica o sistema cardiovascular. Até o original, nem todo mundo pode tomar, porque potencializa a dilatação da oxigenação do coração, e o risco de parada cardíaca com morte é muito maior. Por isso, o ideal é uma consulta médica antes de consumir", alerta. (LS)
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