Edição do dia 09/01/2013
Desde terça-feira (8), os policiais militares de São Paulo não podem mais prestar socorro às vítimas. O procedimento dos policiais diante desses casos deve ser o mesmo tomado em acidentes de trânsito: chamar o socorro, isolar a área e esperar, junto com a vítima, a chegada do serviço de urgência.
Um assalto na Zona Sul de São Paulo na tarde de terça-feira. Depois de perseguir os ladrões, os policiais colocaram em prática as novas normas de socorro às pessoas baleadas.
Um cinegrafista amador acompanha o atendimento a um dos feridos. Ele fica deitado na calçada, enquanto pelo menos oito PMs estão em volta, mas não o socorrem. Eles isolam a área e esperam a chegada do carro de resgate, que demorou 23 minutos. O rapaz vai para o hospital de ambulância.
Agora, os policiais que atenderem casos de lesão corporal, homicídio ou tentativa, latrocínio e sequestro com morte devem chamar o Serviço de Atendimento Móvel de Urgência, o SAMU.
“O ideal seria que nós tivéssemos atendimento do SAMU ou resgate em todos os locais, de tal forma que em no máximo 10 minutos a pessoa pudesse ser socorrida. Na falta de uma ambulância do SAMU a tempo, essa pessoa corre o risco de morrer por falta de socorro. Esse é o grande problema”, afirma José dos Reis Santos Filho, sociólogo.
Antes da medida, os próprios policiais envolvidos em confronto levavam os baleados no carro da polícia. Foi o que aconteceu com o publicitário Ricardo Prudente de Aquino, em junho de 2012. Ele foi perseguido pela polícia no bairro onde morava e morto.
Se a pessoa ferida tiver sido baleada por criminosos, a regra é a mesma. Ela não poderá ser socorrida pela polícia, e o atendimento e os primeiros socorros terão que ser prestados pelo SAMU.
Segundo a polícia, a medida protege os feridos e o cumprimento da lei. “Primeiro a preservação do local do crime, que facilita o trabalho da Polícia Técnico-Científica. Como protocolo de atendimento, você preserva a vida e evita sequelas nas pessoas feridas. E você resguarda o trabalho policial. Nós queremos lisura no trabalho policial, não queremos dúvidas”, afirma Benedito Roberto Meira, comandante-geral da Polícia Militar de São Paulo.
Em novembro, o servente Paulo Batista do Nascimento foi tirado de casa, na Zona Sul, e baleado. Depois do segundo disparo, ele foi colocado no carro da PM, mas chegou ao hospital morto e com marcas de três tiros.
Por causa de casos como esse, a socióloga concorda com a medida. “O que pode reduzir o número de mortes por policiais é efetivamente poder esclarecer se houve ou não abuso por parte dos policiais”, ressalta Nancy Cardia.
Os confrontos não vão ser mais registrados como resistência seguida de morte. Pela nova resolução, a investigação será de lesão corporal ou morte decorrente de intervenção policial.
“Quem vai dizer se houve resistência ou não é a investigação, não é o nome que se dá no registro da ocorrência. O que não quer dizer que o policial cometeu homicídio nem lesão corporal. Isso pode ter sido legítimo, porque nós sabemos que há uma criminalidade violenta, que exige uma posição firme da polícia”, afirma Fernando Grella Vieira, secretário de Segurança Pública de São Paulo.
O homem que aparece ferido no início da reportagem foi levado ao hospital e não corre risco de vida. Os Bombeiros informaram que o atendimento demorou por causa do trânsito e da chuva.
O Serviço de Atendimento Móvel de Urgência - o SAMU - informou que a nova resolução não vai interferir nos procedimentos do dia a dia, e que tem equipamentos, recursos e pessoal suficientes para atender a demanda.
Fonte G1-SP
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