terça-feira, 18 de dezembro de 2012

CPI do Cachoeira: Impunidade, picaretagem e vexame. Ou: Instituições um pouco mais rebaixadas do que antes

18/12/2012  às 15:56

O deputado Odair Cunha (PT-MG), relator da CPI do Cachoeira, mesmo sendo um petista — e essa escolha implica certas obrigações de caráter, digamos, religioso, como jamais contestar “O Profeta” e os aiatolulas que falam em seu nome —, até que tentou, inicialmente, se portar com decoro. Foi pescado pelo governo Dilma para ser relator de uma CPI que o PT queria que fosse da vingança: contra a oposição, contra o Ministério Público Federal, contra o STF, contra a oposição, contra a imprensa…
Bastaram os primeiros movimentos, e ficou claro que Carlinhos Cachoeira era apenas o Carlinhos Cachoeira de Goiás, a, vamos dizer assim, sucursal menos rentável de um esquema gigantesco. Ele era só um operador menor. Quem seria, por exemplo, o Carlinhos Cachoeira do Rio de Janeiro? Quem seria o Carlinhos Cachoeira dentro do governo federal? Sim, estava e está patente: o nome do grande esquema criminoso é Delta, com seu impressionante laranjal.
O furor investigativo diminuiu muito, não custa lembrar, quando vieram a público as folias físicas e metafísicas da “Turma do Lenço” de Paris, vocês devem lembrar. As cenas do governador Sérgio Cabral dançando “Na Boquinha da Garrafa” com Fernando Cavendish entrarão para a história de quem decidir contar a história a sério. Quase todo mundo passou a olhar para o outro lado, inclusive setores consideráveis da imprensa.
Não custa lembrar: um senador da República foi cassado, E MUITO BEM CASSADO!!!, porque flagrado criando facilidades a um contraventor, mas um alto executivo do Dnit, Luiz Antonio Pagot, afirmou com todas as letras que, no cargo, atuou para fazer caixa para a campanha de Dilma Rousseff em 2010. E ficou tudo por isso mesmo.
Em suma: a CPI que o PT criou para melar o processo do mensalão, para “pegar” a imprensa, o STF, o procurador-geral e ministros do STF (e valia tudo para isso, muito especialmente a mentira) começava a acumular explosivos nos subterrâneos do Palácio do Planalto. Então foi preciso mudar o rumo da prosa.
Aquele fiozinho de independência que Cunha parecia ter de início desapareceu, e ele se tornou mero esbirro da máquina de sujar reputações. O PT, como sabem, é assim: oferece a sua lavanderia de biografias para tipos como José Sarney e Fernando Collor e acusa Cristo de charlatanismo se isso, num dado momento, lhe parecer conveniente.
O resultado é este que se vê: tudo devidamente pesado, a coisa para eles está de bom tamanho considerando o que ficou escondido na Caixa de Pandora: um senador da oposição foi para o brejo, um governador tucano saiu lanhado, e a Al Qaeda eletrônica aproveitou para satanizar um pouco mais a imprensa independente. Não conseguiram o objetivo principal, aquele prometido por Lula, que era sacudir a República e interferir no placar do STF no julgamento do mensalão. Mas até isso ficou em segundo plano quando se descobriu o potencial explosivo do esquema Delta — a empresa segue sendo a terceira que mais recebe do PAC.
O fim da CPI é mais do que melancólico. Trata-se do triunfo escancarado da impunidade, ao menos no ambiente do Congresso. A comissão não podia, por si, punir ninguém, mas lhe cabia dizer o que, por ali, se considera inaceitável. E tudo, como se nota, parece… aceitável. O que se reuniu, e é muito pouco, vai para o Ministério Público.
Note-se, adicionalmente, que as instituições saem um pouco mais rebaixadas — escrevi nesta manhã sobre a lenta e contínua deterioração institucional. Pela primeira vez na história, a maioria decidiu fazer uma CPI para perseguir a minoria, o que já é um assombro. Instalada a comissão, essa mesma maioria começou, involuntariamente, a produzir fatos contra si mesma. Então decidiu dar um golpe dentro do golpe, selecionando alguns alvos no relatório final. A iniciativa soou tão escandalosa que não prosperou.
A Odair Cunha não restou outra alternativa que não o vexame do relatório nenhum. Eis o PT contribuindo para um Brasil mais justo, mais sóbrio e mais digno.
Por Reinaldo Azevedo

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