Publicado em 16 de setembro de 2024 | 19:56
No Brasil, estoque de carros elétricos atingiu a casa de 80 mil unidades, segundo a Anfavea Foto: BYD/Divulgação
O mercado europeu está enfrentando um acúmulo de estoques de carros 100% elétricos, que têm um tempo de permanência 52,5% maior do que os veículos a combustão, segundo estudo da Indicata, empresa do grupo dinamarquês Autorola, especializada em inteligência de mercado automotivo -
O relatório de agosto de 2024 da Indicata aponta que, em comparação aos híbridos plug-in, a venda dos carros 100% elétricos têm demorado 29,1% mais tempo para acontecer. Esse desequilíbrio entre oferta e demanda impacta diretamente as concessionárias e fabricantes, que usam o MDS (Mean Days to Sell, ou "dias em estoque") para planejar suas operações.
Quando este MDS é elevado, as montadoras ajustam suas estratégias para evitar que a oferta supere a procura, o que pode desaquecer o mercado e levar os consumidores a repensarem suas compras.
Resistência do consumidor
Outro dado preocupante revelado pelo estudo é a depreciação acelerada dos veículos elétricos na Europa. Devido à resistência dos consumidores em adquirir carros com baterias usadas, os veículos elétricos têm perdido valor mais rapidamente que os modelos híbridos ou a combustão.
"Embora representem 12,6% das vendas de carros novos, os elétricos correspondem a apenas 5,18% do mercado de usados em julho de 2024", apontou o relatório da empresa dinamarquesa.
Além da desvalorização, a rápida evolução tecnológica dos elétricos contribui para essa resistência. Assim como acontece com dispositivos eletrônicos, os modelos mais novos trazem inovações que tornam as versões anteriores obsoletas.
Isso desmotiva a compra de usados, especialmente por conta da percepção de que estão defasados em termos de tecnologia e com baterias desgastadas.
Brasil pode repetir crise europeia?
No Brasil, o cenário pode se agravar, com estoque recorde de carros eletrificados importados alcançando 81,7 mil unidades em julho de 2024, segundo dados da Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores (Anfavea).
Recentemente, o presidente da entidade, Márcio Lima, afirmou que os estoques de veículos chineses já somam 80 mil unidades, o que pode antecipar uma crise semelhante à observada na Europa.
“É o maior volume de estoque da nossa história. Esse é um dado importante que certamente impactará o mercado, mas não sabemos como. Nunca havíamos convivido com essa situação”, afirmou o executivo em entrevista ao portal Poder360.
Por enquanto, a Federação Nacional da Distribuição de Veículos Automotores (Fenabrave) acredita ser cedo para avaliar o impacto desse cenário no Brasil. O segmento de veículos elétricos representa menos de 1% das vendas de usados no país.
Contudo, a entidade já observa tendências semelhantes nos Estados Unidos, onde consumidores também têm reclamado da desvalorização dos carros elétricos e voltado a comprar veículos a combustão.
https://www.otempo.com.br/autotempo/2024/9/16/carros-eletricos-encalham-na-europa-e-brasil-pode-ter-o-mesmo-ce