Publicado em 16 de setembro de 2024 | 06:00 - Atualizado em 16 de setembro de 2024 | 08:57
No início do mês, homem foi executado no bairro Nazaré por dois homens em uma moto sem placa
Foto: VIDEOPRESS PRODUTORA
Matadores encapuzados e de outras cidades, carros clonados e incineração de provas. O “método” para eliminar desafetos adotado pelas maiores facções do Brasil vem crescendo em Minas Gerais no mesmo ritmo do avanço destes grupos no território. Há três anos, conforme fontes ligadas às forças de segurança ouvidas sob anonimato por O TEMPO, o Primeiro Comando da Capital (PCC), o Comando Vermelho (CV) e o Terceiro Comando Puro (TCP) “disputam” a administração dos aglomerados da capital e da região metropolitana de Belo Horizonte. Com a escassez de provas, a investigação dos assassinatos fica comprometida, e a polícia tem dificuldades para chegar aos mandantes.
“Eles (os faccionados) sabem como não deixar rastros. São especializados. O matador vem de outra cidade para fazer o ‘trabalho’. Não há testemunhas dos crimes, e as câmeras não pegam nada, eles estão sempre encapuzados. O veículo ainda é queimado, e a perícia não acha vestígios. As facções vão tomar conta do Estado”, detalha um policial civil. O servidor público explica que a elucidação de um homicídio depende, muitas vezes, da rapidez na apuração e dos relatos de testemunhas. Porém, nos aglomerados, os moradores não costumam dar depoimentos à polícia. “Quem manda é a facção. Eles (moradores) pensam na própria proteção”, acrescenta.
Outra dificuldade enfrentada pelos investigadores é a indisponibilidade de viaturas descaracterizadas, essenciais nas investigações.
“A gente precisa pedir a autorização da Justiça para usar carros apreendidos. Mas o Estado só paga a gasolina. De início, só para tirar do pátio, temos que trocar a bateria. O dinheiro para pagar os gastos com oficina vem do nosso bolso”, denuncia outro investigador.
Entraves
O analista criminal e membro do Fórum Brasileiro de Segurança Pública Guaracy Mingardi pontua que a dificuldade em identificar autores de homicídios é proporcional ao tamanho da população das cidades. “Onde tem mais de 1 milhão de pessoas é mais fácil para o suspeito sumir na multidão. Nas capitais, temos uma Polícia Civil mais especializada, mas, ao mesmo tempo, temos uma dificuldade muito maior na apuração”, aponta.
A investigação também acaba comprometida pela grande área atendida por cada delegacia. “Algumas englobam também a região metropolitana. O perito atende um crime de um lado da cidade e é acionado para o outro extremo ou uma cidade vizinha. Leva-se muito tempo no deslocamento, prejudicando a cena do crime, e ainda acabam ficando pouco tempo em cada local. Isso impacta muito quando se pensa na taxa de elucidação”, pontua o analista.
Estado diz garantir investimento
Polícia Civil informou que investe continuamente em tecnologia, estrutura e pessoal “para oferecer um melhor atendimento à população”. “Na atual gestão foram investidos R$ 32 milhões para reestruturação, reformas e manutenção das unidades”, completou a instituição.
A nota da instituição afirma ainda que, desde 2019, foram adquiridas 1.211 viaturas para a Polícia Civil e que todos os veículos da instituição passam por revisões e manutenções rotineiras, que estão contempladas no contrato. Porém, o Estado admitiu que não faz a manutenção das viaturas descaracterizadas. “Já nos casos de veículos registrados em nome de servidores e à serviço da instituição, por meio de autorização judicial, eles não têm manutenções realizadas pelo Estado, devido ao vínculo temporário com a Polícia Civil”, admitiu.
Ainda segundo a nota divulgada, a área de inteligência em Minas está “cada vez mais integrada e fortalecida”. “No ano passado, as Forças de Segurança inauguraram a Agência Central de Inteligência, que desempenha diversas ações importantes, como o mapeamento de organizações criminosas, possibilitando a troca de informações cruciais para o trabalho policial e a ampliação do combate ao crime em Minas Gerais”.
A Polícia Civil citou ainda a chamada “Lista dos Mais Procurados”, que, em sua última edição, teve nove dos 12 suspeitos detidos.
https://www.otempo.com.br/cidades/2024/9/16/faccoes-adotam--metodo-de-matar--que-atrapalha-investigacao
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