Por Alexandre Nascimento Publicado em 16 de dezembro de 2023 | 08h00 - Atualizado em 16 de dezembro de 2023 | 13h02
Superlotação facilita a formação de parcerias entre facções criminosas nos presídios brasileiros — Foto: Wilson Dias / Agência Brasil
O Primeiro Comando da Capital (PCC) e o Comando Vermelho (CV), as duas maiores facções criminosas do Brasil, já atuam no sistema penitenciário em Minas Gerais e em quase todo o Brasil. Os dados fazem parte de um levantamento inédito do Ministério da Justiça, divulgado pelo jornal Folha de São Paulo.
O PCC, que surgiu em São Paulo, está em presídios de 23 unidades da federação, duas a mais do que em 2022. Já o Comando Vermelho, nascido no Rio de Janeiro, atua em 21 Estados, seis a mais do que no ano passado.
O estudo inédito também revelou que 70 facções estão presentes nas penitenciárias brasileiras, mas apenas PCC e CV têm atuação nacional. Os outros grupos criminosos agem apenas em um Estado ou em poucos municípios.
E o crescimento de CV e PCC tem muita relação com essas outras facções menores. De acordo com o especialista em segurança pública, Luiz Flávio Sapori, os criminosos fazem parcerias para conquistar mais espaço.
“É uma realidade nacional que foi se consolidando ao longo dos últimos anos, principalmente na última década. O fenômeno atingiu de maneira expressiva as regiões norte e nordeste do país, muito em função também de uma nacionalização do PCC e do Comando Vermelho. Essas duas facções, na tentativa de controlar o mercado das drogas e o contrabando com os países andinos, começaram a fazer alianças com grupos criminosos locais”, explica.
Em Minas, as duas principais facções também têm atuação. “Elas estão presentes no Triângulo Mineiro, no Sul de Minas, na região de Juiz de Fora e já há indícios também da presença dessas facções na região metropolitana de Belo Horizonte”, destaca Sapori.
E o que fazer para frear essa contaminação tão grande do sistema penitenciário brasileiro pelas facções criminosas? Segundo o especialista, os órgãos de defesa precisam se unir e agir em conjunto, assim como fazem os criminosos, para diminuir o poder bélico e financeiro das facções.
“Agora é tentar enfraquecer as finanças desses grupos através do trabalho de inteligência, de investigação em força-tarefa de integração das organizações, das polícias e do Ministério Público. Mais do que nunca, o crime organizado não se enfrenta com a força ou com matança. O enfrentamento precisa ser com o cérebro, é com a inteligência”, justifica.
Para Luiz Flávio Sapori, um reforço de segurança nas fronteiras do Brasil também seria necessário para reduzir o poder de armamento dos grupos criminosos.
“De alguma maneira, é preciso enfraquecer o contrabando internacional, as armas de fogo entram por várias fronteiras nacionais. É fundamental desmontar essas redes que estão trazendo armamentos”.
E o especialista também criticou a flexibilização da lei de controle de armas no Brasil, o Estatuto do Desarmamento. “A medida facilitou o acesso à arma de fogo no país e boa parte dessas armas vai para as mãos do crime organizado. Foi um grande erro cometido pelo governo anterior, então nós não podemos repetir isso. Precisamos focar na repressão inteligente e na desmontagem das redes do contrabando internacional das armas de fogo”.
Outra falha do poder público, segundo Sapori, é na falta de controle da entrada e uso de telefones celulares dentro dos presídios. Dificultar a comunicação entre os criminosos poderia atrapalhar bastante a atuação do crime organizado, na visão do especialista.
“Os criminosos vão encontrar maneiras diversas de comunicação, mas acabar com essa farra do uso celular nas prisões brasileiras é o passo número um para começar a enfrentar o problema. Tem que ter rigor, tem que usar tecnologias para fazer o bloqueio de celulares. E também punir os policiais penais que facilitam a entrada desses aparelhos dentro das prisões, estabelecer mecanismos de punição disciplinar para os presos que forem identificados com esses telefones. Há várias formas legais e profissionais de fazer isso”, conclui.
https://www.otempo.com.br/brasil/pcc-e-comando-vermelho-ja-atuam-nas-penitenciarias-de-varias-partes-de-minas-1.3295122