Tofolli, Lewandowski e Gilmar, ministros altamente suspeitos
Carlos Newton
Os veteranos no jornalismo político brasileiro pensavam que já tinham visto de tudo, num país em que é comum os presidentes não terminarem seus mandatos. Mas aqui do lado de baixo do Equador a realidade política é sempre mais criativa do que a ficção, a ponto de conseguir desestimular os roteiristas da premiada série “House of Cards”.
A desculpa para pôr fim à atração foi um escândalo sexual envolvendo o artista principal Kevin Spacey, mas era uma bobagem em comparação ao presidente Lula da Silva, que criou um alto cargo federal para satisfazer a amante Rosemary Noronha, contratou também a filha dela, que ninguém sabe se é filha dele, e levou a segunda-dama pelo mundo, em 34 tórridas viagens de lua-de-mel no luxuoso AeroLula, uma espécie de motel ambulante do governo brasileiro, cujo avião auxiliar acabou envolvido em tráfico internacional de drogas, quem aguenta comparação com a política brasileira?
SUSPEIÇÃO – Nesta quinta-feira, dia 22, tivemos mais um exemplo da insuperável criatividade da política brasileira, com o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, que teria sido imparcial nos julgamentos envolvendo Lula da Silva, justamente aquele ex-presidente que saiu do poder conduzindo uma mudança de onze caminhões, levando como se fossem seus os valiosíssimos presentes recebidos na gestão.
Entre eles, joias e obras de arte de ouro, prata, diamantes, rubis, safiras e por aí afora, obrigando o juiz Moro a determinar operações de busca e apreensão para reaver as preciosidades que pertencem à União.
Em qualquer outro país, o ex-presidente teria ido logo para cadeia, mas aqui no Brasil até hoje o processo não foi aberto, e Lula acabou sendo preso por outros motivos.
LIMPANDO A FICHA – No país da piada pronta, esse criminoso vulgar se apresenta como o homem mais honesto na face da Terra, e os ministros da Suprema Corte se encarregam de limpar a ficha dele, embora sua conta bancária indique mais de R$ 12 milhões em enriquecimento ilícito, no modesto inventário da primeira-dama que não o acompanhava nas viagens internacionais.
Depois de considerar que o juiz errou ao processar Lula por propinas ligadas à Petrobras, embora o presidente da empreiteira OAS tenha feito delação expressa nesse sentido, agora os ministros do STF consideram que Moro era suspeito para julgar Lula por ter determinado a condução coercitiva dele.
Cinco anos depois, nenhum ministro se preocupou em saber que a medida fora tomada atendendo ao Ministério Público, que apresentou a seguinte justificativa: “(…) a medida é necessária pois, em depoimentos anteriormente designados para sua oitiva, teria havido tumulto provocado por militantes políticos, como o ocorrido no dia 17/02/2016, no Fórum Criminal da Barra Funda, em São Paulo. No confronto entre polícia e manifestantes contrários ou favoráveis ao ex-Presidente, “pessoas ficaram feridas”, afirmou o juiz, ao deferir o pedido de condução coercitiva.
GRAVAÇÕES ILEGAIS – As outras provas de ”parcialidade” do magistrado foram as gravações ilegais de celulares dos procuradores e do juiz, que, além de não poderem servir de prova, nem foram submetidas a perícia. E o mais curioso é que, nos diálogos com a presença de Moro, não há a menor evidência de conluio para condenar Lula irregularmente.
É impressionante também que a Justiça brasileira declare a suspeição de um juiz decente e respeitado no mundo inteiro e isso ocorra numa decisão com votos de ministros que – eles, sim – deveriam se declarar suspeitos, por terem ligações diretas com o réu, como é o caso de Ricardo Lewandowski, Dias Tofolli e Gilmar Mendes, que são declaradamente amigos pessoais de Lula.
Mas o que esperar da Justiça brasileira nesses dias de retrocesso institucional e moral?