No AR em 19/04/2020 - 20:00
Como era o Planalto Central antes da construção de Brasília? E como foi a escolha do local exato para a construção da nova capital do Brasil? Em comemoração aos 60 anos de Brasília, o Caminhos da Reportagem conta a história do Distrito Federal – do território à inauguração.
A ocupação na região do Distrito Federal não começou nos anos 1950, com a construção de Brasília. Pesquisas arqueológicas mostram que o ser humano vivia por ali há pelo menos oito mil anos. No Sítio Cachoeirinha, localizado na região do Paranoá, é possível encontrar vestígios, como pedras lascadas. Elas eram manipuladas e usadas como ferramentas. “O homem sempre precisa de condições mínimas, que é dispor de matéria-prima para poder fazer uma ferramenta, de vegetação, de caça e de água”, explica a arqueóloga Carolina de Abreu.
O obelisco, que é a pedra fundamental de Brasília, foi instalado no alto de um morro em Planaltina (DF) no dia 7 de setembro de 1922 - Divulgação
Essa edição do programa mostra que a ideia de transferir a capital do litoral para o interior do país é antiga: começou no século 19 com o patriarca da Independência, José Bonifácio, seguido pelo diplomata Francisco Adolfo de Varnhagen. Há relatos também sobre o sonho de Dom Bosco. O padre José Marinoni explica que, em 1883, Dom Bosco ouviu uma voz que dizia: “Quando começarem a explorar esse planalto, vão aparecer riquezas que vocês não imaginam. Surgirá uma nova civilização, correrá leite e mel”.
Essa série de indicações para a mudança da capital brasileira foi fortalecida com a promulgação da primeira Constituição Republicana, em 1891. No documento, o artigo terceiro definia que um dia a capital deveria deixar o Rio de Janeiro e ser transferida para o Planalto Central. O território indicado pela Constituição foi demarcado durante o longo e criterioso trabalho da Missão Cruls, iniciado em agosto de 1892. Porém, a transferência demorou para acontecer. Segundo a historiadora e professora da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) Marieta de Moraes Ferreira, o desafio não era apenas transferir. “Era transferir e construir uma nova capital. Era uma coisa que envolvia sentimentos e emoções do ponto de vista da população brasileira e até da população do interior de Goiás e do Rio de Janeiro”, explica.
Arqueóoga Carolina de Abreu mostra vestígios da ocupação humana no Sítio Cachoeirinha, no DF - Divulgação
Os planos para a transferência foram retomados durante o governo de Juscelino Kubitschek. Em 1956, o arquiteto Lúcio Costa venceu o concurso que escolhia o projeto da nova capital. “Deve ter feito tudo lá, quieto. Um dia me chamou e disse: ‘Vem cá, quero te mostrar uma coisa’. Aí eu fui ver o que ele queria me mostrar. A coisa que ele me mostrou era Brasília”, conta a arquiteta Maria Elisa Costa, filha de Lúcio Costa.
Esplanada dos Ministérios, vista da Torre de TV - Divulgação
Com o início da construção de Brasília, um fluxo migratório sem precedentes se dirigiu rumo ao Planalto Central. “Essa ideia que JK lançou de construir a cidade ficou na cabeça de todo mundo. Eram todos eles construtores da nova capital”, afirma o arquiteto Salviano Guimarães. Entre os pioneiros está Raimundo Rodrigues, que saiu de Ipueiras, no Ceará, e enfrentou 14 dias de viagem em um caminhão pau de arara até chegar no local onde eram iniciadas as obras da futura capital do Brasil. “Era só barro, poeira e vento frio. Isso aqui era tão frio que quem não conhece nem acredita”, conta.
A reportagem ainda conta com a participação de outros pioneiros, como o casal Norma e Corban de Deus, além de Alpheu Tomás Leite. Pessoas que dedicaram parte da vida a Brasília e que agora, 60 anos depois, têm muita história para contar.
Catedral Metropolitana de Brasília - Divulgação
Ficha técnica
Reportagem: Carlos Molinari
Produção: Tiago Bittencourt
Apoio à Produção: Cláudia Bojunga (RJ), Natalia Neves (RJ) e Deise Machado (SP) Imagens: André Rodrigo Pacheco e Rogerio Verçoza
Apoio às Imagens: Eusébio Gomes (RJ), Luís Araújo (RJ), João Marco Barboza (SP) e Gilvan Alves (DF)
Auxílio Técnico: Thiago Souza (DF) e Edivan Viana (DF)
Colaboração técnica: Felipe Messina (RJ), Carlos Júnior (RJ), Yuri Freire (RJ) e Ivan Meira (SP)
Edição de texto: Suzana Guimarães
Edição de imagens e finalização: Jerson Portela e Rivaldo Martins
Arte: Julia Costa e Dinho Rodrigues
Agradecimentos: Arquivo Público do Distrito Federal, Banco de Brasília (BRB) e Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan)
Criado em 14/04/2020 - 10:40