Fábio Luís, o Lulinha, está “discutindo a relação” com a empresa OI
Felipe Bächtold
Folha
Conforme a Folha mostrou na semana passada, um dos elementos da força-tarefa da Lava Jato sobre as relações entre a empresa Oi e o filho mais velho de Lula, Fábio Luís, deriva da nova investigação sobre o empreiteiro Otávio Marques de Azevedo. Ex-presidente da holding Andrade Gutierrez e atuante no setor de telecomunicações, ele se tornou delator da Lava Jato em 2016, mas voltou a ser alvo de mandados de busca em dezembro passado.
A reportagem procurou a Oi para comentar a questão dos “empréstimos” feito à empresa Gamecorp, que tem Lulinha como principal sócio: investiu R$ 83 milhões, mas a companhia telefônica não se manifestou especificamente sobre a questão.
DIZ A OI – A respeito da investigação, a Oi disse que “não tem medido esforços para assegurar que quaisquer ações que eventualmente possam ter prejudicado a companhia sejam integralmente apuradas”.
A Folha questionou também a defesa de Fábio Luís, que não comentou especificamente a questão dos empréstimos. Os advogados disseram apenas, por meio de nota, que a vida de seu cliente e atividades de suas empresas foram “devassadas por anos a fio e nenhuma irregularidade foi encontrada”.
“Essa nova safra de suspeitas e ilações vazadas sugere uma estratégia clara da força-tarefa para requentar um caso encerrado, a fim de tentar fixar artificialmente sua competência para conduzir uma nova investigação. Há quase um mês, papéis apreendidos em endereços de sócios de Fábio Luís estão sendo vazados seletivamente, quase todos os dias.”
MAPA DA MINA – O material recolhido na fase Mapa da Mina da Lava Jato também inclui mensagens interceptadas que mostram que pagamentos para um dos sócios de Fábio Luís eram tratados dentro da Oi como “um projeto político”, fora “da prestação de serviços tradicional”.
Relatório da PF anexado aos autos traz e-mails trocados entre 2011 e 2012 sobre a parceria da tele com a Gol Mobile, uma das empresas de Jonas Suassuna, sócio de Fábio Luís na Gamecorp e um dos compradores do sítio de Atibaia frequentado por Lula.
Em janeiro de 2012, o executivo Francisco Santanna, que diz ser indicado para fazer o relacionamento da tele com Suassuna, afirma a um colega: “Até clientes (no caso a Prefeitura do Rio) estão nos cobrando que a gente pague ao parceiro (Gol Mobile), por mais absurdo que isso pareça”.
DIZ O EXECUTIVO – Dias depois, Santanna é questionado em mensagem ainda sobre a formalização desses pagamentos por meio de contratos e afirma: “Foram projetos políticos com o governo, fechados verbalmente com a diretoria antiga da Oi”.
Ele também acrescenta: “O parceiro fez a venda ao cliente final e a Oi foi o canal de faturamento, não é uma prestação de serviços tradicional”.
Um dos analistas da Polícia Federal, responsável pelo documento sobre a troca de e-mails, afirma que o teor reforça a tese de que houve um “direcionamento político para a subcontratação” da Gol Mobile.
DISQUE QUEIXAS – A Gol Mobile, de Suassuna, foi subcontratada à época pela Oi e pela Contax (ligada à companhia de telefonia) para executar o serviço de queixas 1746, da Prefeitura do Rio.
Os investigadores da Lava Jato suspeitam da origem do dinheiro usado para adquirir o sítio de Atibaia, em 2010, que teve como compradores justamente Jonas Suassuna e Fernando Kallil, sócios de Lulinha na Gamecorp.
A defesa de Fábio Luís alega que ele não é sócio da Gol Mobile e que, portanto “não tem qualquer relação com os negócios celebrados” por essa firma. Também critica a liberação desse material nos autos da operação.
TODOS NEGAM – O ex-prefeito do Rio Eduardo Paes (DEM) e o ex-presidente Lula têm negado qualquer conduta irregular envolvendo os negócios da Oi. O deputado federal Pedro Paulo (DEM), que foi secretário municipal naquela época, afirmou em dezembro que quem define eventual subcontratação são as empresas que vencem as concorrências.
A reportagem procurou também a defesa de Jonas Suassuna, mas não obteve resposta.
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ENTENDA A RELAÇÃO DA OI COM O FILHO DE LULA
Qual a suspeita dos investigadores?
A Polícia Federal e o Ministério Público Federal suspeitam que diversos repasses feitos pela Oi a empresas ligadas a Fábio Luís, o Lulinha, e a seu sócio Jonas Suassuna foram realizados sem lógica econômica, apenas para beneficiar familiares do ex-presidente Lula. Contratos comerciais de fachada teriam sido firmados para dar aparência legal às transferências. Os investigadores apontam o fato de que vários produtos não obtiveram resultado comercial relevante
Qual o papel da Gamecorp?
A empresa de Lulinha com seu sócio Jonas Suassuna recebeu R$ 82,8 milhões da Oi no período que vai de 2004 a 2016. A tele também possuía 35% de participação societária na Gamecorp. A Lava Jato suspeita que esses recursos tenham sido propina
Qual a ligação de Suassuna com o sítio de Atibaia?
Suassuna é dono de um dos dois terrenos que compõem o sítio em Atibaia (SP) frequentado por Lula. A Procuradoria aponta que ele e Fernando Bittar, outro proprietário, adquiriram o sítio usando parte de recursos injustificados das empresas que administravam em conjunto com Fábio Luís
Por que a Oi repassou todo esse valor, segundo a PF?
A PF e a Procuradoria vinculam o período em que os repasses às empresas de Suassuna são feitos (2008 a 2014) com mudanças societárias na empresa de telefonia que dependiam de decisões políticas ao alcance de Lula
Quais foram as decisões que beneficiaram a empresa?
Um exemplo: a legislação proibia que uma empresa de telefonia fixa comprasse outra em área diferente, o que impedia a compra da Oi pela Brasil Telecom. A alteração na norma era discutida pela Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e se tornou viável após Lula assinar um decreto que pôs fim à proibição. Posted in Geral http://www.tribunadainternet.com.br/