Manifestantes aproveitaram o governo débil e terminal
Rodrigo Odilon dos Anjos
Há diferentes visões sobre esse movimento dos caminhoneiros. Em comum, apenas o legítimo e sagrado direito de reivindicar. No mais, não vejo como concordar com a maneira como a manifestação foi conduzida (ou se deixou conduzir); com a absoluta despreocupação com as consequências (como se o seu objetivo final fosse provocar o caos); com o desrespeito e o infortúnio causado à sociedade, dentre outros aspectos.
O Brasil produziu mais uma jabuticaba: um movimento organizado pela direita (pelos donos das empresas de transportes), mas que teve amplo apoio da esquerda! E, como é frequente quando lidamos com extremos, a razão e o bom senso foram deixados à margem, com as pessoas pensando com o fígado ao invés de usarem o cérebro para equacionar os seus problemas.
HISTORINHA – Essa lenga-lenga de que a “classe média” deveria ter automaticamente aderido ao pleito dos caminhoneiros, parando seus automóveis e motos, é risível, é uma historinha fajuta pra enganar incautos pouco acostumados aos movimentos políticos e reivindicatórios. Estava na cara que não iria colar, ainda mais num país de dimensões continentais e pessimamente servido por transporte público.
Além disso, os caminhoneiros, ao iniciarem a sua manifestação, em momento algum perguntaram aos demais segmentos sociais qual a sua opinião sobre o movimento deles, e nem mesmo se a sociedade queria ou não se integrar a ele. Colocaram a tropa nas estradas e marcaram firme posição sobre os seus pleitos: a redução do valor do diesel, liberação de pedágios, a fixação de um frete mínimo (voltamos aos tenebrosos tempos do governo Sarney quando tudo era tabelado e pré-fixado, quando iam caçar bois no pasto…), etc.
Tampouco incluíram dentre os seus pleitos a redução do valor da gasolina; mas depois vieram criticar aqueles que correram aos postos para abastecer seus veículos (não foi o nosso caso aqui em casa, e por isso mesmo me sinto à vontade para comentar a respeito), como se a sociedade não tivesse seus problemas a resolver e fosse obrigada a concordar com o que lhe estavam impondo.
COMPARAÇÃO – Criticaram a conduta da sociedade, mas ao mesmo tempo desejaram o seu apoio incondicional. Fazendo uma comparação simplista (porque a argumentação deles é igualmente simplista) é como se eu resolvesse fazer uma greve de fome (alicerçado nas minhas próprias e exclusivas razões) e exigisse que as demais pessoas também fizessem o mesmo!
Negociaram com um governo débil, em estado terminal e, como se sabe, governos débeis não negociam, eles apenas cedem. Foi o que sucedeu: o governo débil concedeu mais do que havia lhe sido solicitado.
Talvez inebriados com os resultados facilmente obtidos e, aproveitando-se da tibieza de um governo moribundo, subiram o tom, resolveram não honrar o que fora acordado e fizeram novas exigências, sem desocupar as estradas. O sucesso inicial subiu à cabeça e a razão foi pro ralo! Continuaram cobrando o apoio e a adesão da sociedade ao seu movimento ao mesmo tempo em que causavam um enorme transtorno a ela, gerando insegurança e intranquilidade.
TEMPOS SOMBRIOS – No frigir dos ovos, a sociedade irá arcar com o ônus reservado a um único segmento da sociedade. Por mais justo que sejam os pleitos reivindicatórios, o ganho foi dirigido a poucos e será pago por muitos.
Nem assim a grave questão dos caminhoneiros autônomos estará resolvida. O excesso de caminhões financiados com juros subsidiados pelo BNDES durante os desgovernos Lula & Dilma é muito superior à oferta de fretes no mercado. O tal “frete mínimo” será mais uma cretinice a não ser observada. A lei da sobrevivência se impõe e, infelizmente, assistimos a uma luta fratricida entre os caminhoneiros autônomos. Isto é, apenas para aqueles que ainda tiverem condições financeiras de manter os seus financiamentos em dia.
Os tempos continuarão sombrios…