Nélson Pereira, mais um imortal que nos deixa
Deu no Estadão
Morreu neste sábado, dia 21, aos 89 anos, o cineasta Nelson Pereira dos Santos, um dos nomes importantes do Cinema Novo. Ele estava internado havia uma semana no Hospital Samaritano, na zona sul da cidade. Às 17 horas, a família confirmou a morte, em consequência de um câncer de fígado diagnosticado há 40 dias.
Diretor de filmes fundamentais da história do cinema brasileiro, como Rio, 40 graus (1955) e Vidas secas (1963), ele realizou os últimos longas em 2012, os documentários musicais A música segundo Tom Jobim e A luz do Tom. Além de dirigir, era também roteirista de seus filmes.
“Ele estava ótimo, não estava doente. Foi internado com uma pneumonia, na semana passada, que cedeu. Estava lúcido, mas cansado. Morreu sem dor, uma morte tranquila, com toda a família reunida”, disse a publicitária Mila Chaseliov, sua neta.
VOVÔ NELSON – O cineasta teve quatro filhos e cinco netos. “Foi um avô muito presente. A gente tinha muitas discussões intelectuais. Foi quem me ensinou a tomar uísque, num show, aos 19 anos. Eu me senti muita adulta na hora”, contou.
O cineasta participou da formação intelectual de netos, lembrou Mila. “Eu descobri como ele era importante ainda na escola. Todo mundo que eu encontro, quando descobre que sou neta do Nelson, fala do quanto ele é incrível.”
Em 2006, Nelson foi eleito para a Academia Brasileira de Letras, na sucessão do diplomata Sergio Corrêa da Costa. Passou a frequentar a Casa de Machado com assiduidade. Atuava na programação cultural da instituição.
JORNALISTA – Nelson nasceu dia 22 de outubro de 1928, em São Paulo. Formou-se advogado em 1952. A partir dos anos 1940, trabalhou como revisor e repórter de jornais como o “Diário da Noite” e “O Tempo”, em São Paulo.
Nos anos 1950, no Rio, trabalhou também no “Diário Carioca” e no “Jornal do Brasil”. Mais tarde, seria professor da Universidade Federal Fluminense, de cujo curso de graduação em cinema foi fundador.
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NOTA DA REDAÇÃO DO BLOG – Depois de Carlos Heitor Cony, mais um amigo imortal que se vai, deixando um vazio em nossa vida. Trabalhei com Nelson num grupo que tinha a atriz Maria do Rosário Nascimento Silva, ex-mulher de Walter Clark, nossa grande amiga, que gostava de passar fins de semana em Maricá, com a belíssima filha Eduarda. Depois do trabalho, tinha um concorrido happy hour com Nelson no bar do Hotel Marialva. O apelido dele era “Japon”, por causa os olhos semicerrados. Todos já se foram, menos a Eduarda, que chamávamos de Duda. Na Academia, ainda restam os amigos Merval Pereira, Arnaldo Niskier, Murilo Mello Filho, Paulo Coelho e Cícero Sandroni, que espero serem imortais de verdade e não nos deixem, de forma alguma. E quem devia ir para a cadeira de Nelson na ABL era o Ruy Castro, o príncipe da ironia literária e um conhecedor de cinema como poucos. (C.N.)Posted in Tribuna da Internet