Por Gabriela Ribeiro, Ponta Grossa
12/09/2017 13h21 Atualizado 12/09/2017 15h22
Fé no coração e bola no pé - o lema das irmãs carmelitas de Ponta Grossa
Seja no convento ou na praça, as irmãs Carmelitas de Monte Sião, da cidade de Ponta Grossa (PR), a 100 km de Curitiba, não escondem a paixão pelo futebol. Bater uma bolinha já é tradição para as freiras, que colocam a fé em prática até na hora do jogo.
- Só o fato de nós estarmos usando o hábito, o véu, já significa que nós queremos dar um testemunho de Jesus pras pessoas. Não importa onde nós estamos. Nós damos o testemunho de que nossa vida é uma oração - explica a irmã Andressa.
As irmãs carmelitas de Ponta Grossa (PR) usam as praças da cidade para jogar futebol (Foto: Gabriela Ribeiro)
Antes da diversão, os momentos sagrados. Elas moram em casas diferentes da região dos Campos Gerais e, diariamente, dividem momentos de leituras, canções e rezas. O futebol é compartilhado no tempo de lazer, já que a vida de reclusão tem sacrifícios e exige que as freiras sigam à risca a rotina religiosa.
- Muitas irmãs gostam de jogar, e nós precisamos fazer um tipo de exercício físico. A ideia foi nos reunirmos no nosso dia comunitário. Iniciamos em uma praça da cidade - conta a irmã Maria Madalena.
Constantemente em missões e viagens, as carmelitas não têm local fixo para praticar o esporte. Quando estão em Ponta Grossa, variam entre o Parque Ambiental e outras quadras públicas nos arredores do principal convento da cidade. Com uniforme inusitado, o time chama a atenção de quem passa.
- Eu nunca tinha visto irmã jogando, então achei muito curioso, interessante e fiquei observando. É a primeira vez que eu vejo isso - disse Helena Komay, uma habitante da região, intrigada com o grupo de freiras.
Freiras x time do bairro: Carmelitas!
Enquanto o GloboEsporte.com acompanhava o treino das irmãs, em um fim de manhã, um grupo de estudantes as desafiou para uma partida. Os adolescentes desistiram rápido do confronto: em poucos minutos de jogo, as carmelitas abriram 2 a 0 no placar.
As próprias irmãs garantem que nada na história foge do comum. Apesar da indumentária característica até na hora de jogar bola, elas seguem um cotidiano como outro qualquer.
- Nós somos religiosas, consagradas, mas também temos uma vida normal. A gente se diverte, algumas jogam melhor, outras mais ou menos, mas pra gente conviver. Pra gente mostrar que somos capazes de jogar futebol - resume a irmã Chiara.
Como todo bate-bola entre amigos, algumas freiras se destacam, enquanto outras vão no ritmo do time. Mas elas se unem sempre, independentemente da qualidade individual, com o mesmo grito antes de entrar em quadra:
Time, time... Carmelitas!
A irmã Andressa é uma das craques e prefere o futebol raiz, sem chuteiras. A opção pelos pés descalços nada têm a ver com a religião.
- Todos ficam curiosos com o que a gente vive. Porque pensam que a irmã está só dentro do convento. E as irmãs foram feitas também para sair, para estar em missão - prega a freira.
Irmã Andressa prefere o futebol raiz, sem chuteiras (Foto: Gabriela Ribeiro)
Fantasma católico
Não é só com a bola nos pés que elas se divertem. As irmãs Maria Madalena e Chiara, por exemplo, são torcedoras de coração do Operário-PR, campeão da Série D. A dupla é figura recorrente nas arquibancadas do Germano Krüger.
- Nós vamos às vezes no estádio, mas o intuito maior é porque nós estamos em reforma com a nossa paróquia e vendemos show de prêmios para a torcida. Mas não tem como não interceder, vibrar junto com eles, porque é inédito. Em particular para nós, que gostamos do futebol - conta Maria Madalena, sobre o troféu conquistado no último domingo.
Freiras de Ponta Grossa torcem pelo Operário-PR no Germano Krüger
- Eu comecei a torcer para o Operário. Não conhecia muito bem, mas a gente começou a pegar gosto pelo time. É da nossa cidade. Estamos entrosadas com eles, rezando por eles - lembra a irmã Chiara.
https://globoesporte.globo.com/pr/futebol/noticia/carmelitas-dos-pes-na-bola-time-de-freiras-quebra-paradigmas-e-mita-no-futebol.ghtml